Tuesday, June 26, 2007

CONFERÊNCIA PRÓ- MARINHA MERCANTE



NAVEGAÇÃO PARA O BRAZIL

Conferência do Sr. Amélio de Barros

Cerca das 9 horas realizou o sr. Amélio de Barros na sala nobre dos Paços do Concelho uma conferência sobre a navegação para o Brazil.
O conferente depois de mostrar que essa navegação constitui um dos mais fortes elementos do desenvolvimento de Portugal e das suas relações comerciais com os Estados Unidos do Brazil declara que é a terceira conferência que faz em Lisboa sobre o assunto de que vai tratar, a fim de ver se consegue que se dote o País de um benefício que se impõe.
Guilherme II imperador da Alemanha disse que o futuro do seu império estava no mar. O mesmo se deve dizer de Portugal.
Mostra como tem sido descurado o serviço da marinha mercante em Portugal, tendo os portugueses só barcos estrangeiros para conseguirem exportar as suas mercadorias.
Refere ao que sobre a marinha mercante portuguesa disseram vários estadistas e homens de valor.
Entre esses indivíduos cita em especial os srs. conselheiros Anselmo de Andrade, Oliveira Martins e Marcos Vieira da Silva.
Declara que com o transporte de mercadorias portuguesas e brasileiras em barcos estrangeiros se paga anualmente 3.000 contos com a agravante de essas mercadorias irem mal acomodadas, pois são escolhidos os piores lugares para as colocarem.
Lembra que os governos estrangeiros subsidiam a sua marinha mercante.
Depois de dizer que o comércio para o Brasil tem aumentado ultimamente, diz que os navios estrangeiros que tocam nos nossos portos constituíram um verdadeiro monopólio, tendo os comerciantes de se sujeitarem às imposições que esses navios fazem.
Perdem-se todos os mercados novos, diz o conferente e a continuarem as coisas assim perderemos o mercado brasileiro o que será gravíssimo.
Basta que o sr. Barão do Rio Branco deixe de ser amigo de Portugal como é e queira proteger outro país para nós ficarmos sem aquele mercado o que seria a nossa ruína.
O sr. Amélio de Barros diz contar com auxílios poderosos para organizar a companhia mas têm-lhe sido levantadas grandes dificuldades, chegando ser seguido por polícias da secreta devido talvez àqueles a quem a sua ideia iria prejudicar nos seus interesses particulares. Com números que lê mostrou os lucros que poderá obter cada navio mercante, sendo administrado com critério.
Com os cálculos por ele feitos o lucro da empresa será superior a 300 contos anuais.
Conclui lendo a proposta que sobre a constituição da Companhia vai apresentar ao governo e agradecendo aos srs. Vereadores presentes, Agostinho Fortes e Carlos Alves, a fineza da câmara cedendo-lhe a sala para realizar a conferência.
O conferente foi muito aplaudido.
O sr. Agostinho Fortes justifica a sua chegada um pouco depois das 9 horas e traduzindo o sentido de todos os seus colegas da vereação declara que a câmara apoiará tudo quanto seja estreitar as relações entre Portugal e o Brazil. Concorda com a criação d’uma companhia portuguesa de navegação para o Brazil.

Em seguida profere um belo discurso mostrando a conveniência que para o nosso país advirá da existência d’uma companhia como o sr. Amélio de Barros deseja.

in Jornal do Comércio nº 16625 de 31-07-1909

Texto publicado na edição de 31 de Julho de 1909 no JORNAL DO COMÉRCIO, de Lisboa. De então para cá parece que voltámos às origens em termos de interesse pela Marinha Mercante. Curiosamente, muitos dos pressupostos economicistas do conferencista mantêm-se actuais, tal como a indiferença generalizada face ao problema.
Só em 1929 se estabeleceu uma carreira para o Brasil, com o paquete NYASSA da Companhia Nacional de Navegação, suspensa em 1933 com a crise económca mundial e retomada em 1939. Seria depois, a partir de 1940, a Companhia Colonial de Navegação a fazer a carreira, com o SERPA PINTO e depois com os gémeos VERA CRUZ e SANTA MARIA, até 1961.
Fotografia do paquete NYASSA - colecção de L.M. Correia

2 comments:

  1. Só faltam os habituais «Aplausos»!!...
    Sugiro registarmos já a Comissão Organizadora da Comemoração do 100.º Aniversário desta Conferência em 2009!!!

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  2. Acho que esta conferência teve continuadores. Ainda somos uma terra de conferencistas pró-mar... E não temos melhor sorte que este ilustre Sr. Amélio

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