Saturday, December 06, 2008

SEMPRE OS NAVIOS



Sempre os navios. Desde que me lembro de ser ainda projecto de gente: uma ida à Boca do Inferno, num Vauxall com estofos de cabedal castanhos, ver o paquete HILDEBRAND encalhado em 1958. O meu primeiro paquete em memória, que do VERA CRUZ não recordo a primeira viagem.
Depois as travessias no Tejo em Cacilheiros de madeira com bancos e sanefas verdes. O meu Pai sempre comigo, que foi o meu guia e iniciador nestas lides pelo mundo dos navios.
Às vezes interrogo o sentido de tudo isto e sinto-me um Infante de Pedra indiferente ao momento marítimo de DESPACHO ZERO da actualidade. Noutros momentos sou mais um observador discreto algures no areal a ver passar a corrente que tudo leva. Sorte a minha que os navios ficam sempre. Os meus navios...
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3 comments:

  1. Lembro-me muito bem do HILDEBRAND, também fui vê-lo e durante muitos dias foi primeira página do jornal.
    Muitos anos depois, veio trabalhar comigo um jovem, com o nome de Hildebrando, um dia disse-lhe que o seu nome me fazia lembrar o paquete inglês encalhado na Boca do Inferno e desmantelado pelo mar, ao que ele respondeu que tinha nascido no dia do naufrágio do navio e por isso tinha esse nome.
    Já não o vejo há muito tempo, mas sei que está bem com a vida.

    Ricardo Matias

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  2. Fantástico o nome do senhor. O HILDEBRAND encalhou devido ao comservadorismo exagerado dos armadores, a companhia Booth Line de Liverpool, que com a Blue Star Line fazia parte do Vestey Group. A Família Vestey não equipava a sua muito numerosa frota com radares por achar desnecessárias essas modernices.
    Passaram a ter radares depois da perda do paquete HILDEBRAND, claro...

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  3. Eu também estive lá, em Setembro de 1957, tinha seis anos na altura, vivia em Lisboa e fui de boleia no carro de um vizinho, pois naqueles dias ter carro era coisa fina. As imagens que guardo melhor deste grave acidente, são duas, a primeira, o navio já alquebrado a ser batido inexoravelmente pelo mar alteroso, a segunda, as vagas monstruosas a empurrarem para o mar, os “Anglias”, carros novinhos em folha, que vinham estivados sobre o convés.
    Quanto às causas do acidente, fiquei a saber o pormenor da falta de radar a bordo deste navio, o que me surpreendeu de facto, mas gostaria de realçar também, a existência de um veio fortíssimo de magnetite a céu aberto, na zona do Cabo Raso. Esta característica do fundo rochoso naquela zona de costa, ao afectar fortemente os campos magnéticos das bitáculas dos navios, associada também às más condições atmosféricas e de mar, ajudaram à perda de pelo menos dez navios de grande porte, entre 1939 e 1986. Com o advento do GPS no final da década de 80, este problema da variação dos campos magnéticos das bússolas, ficou definitivamente resolvido.
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    Saudações marinheiras

    Luis Filipe Morazzo

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