O paquete VERA CRUZ foi construído na Bélgica por encomenda da Companhia Colonial de Navegação para substituir o SERPA PINTO na carreira do Brasil. Encomendado a 9 de Agosto de 1949, teve a quilha assente na carreira de construção no dia 13 de Maio de 1950. O lançamento à água foi a 2 de Junho de 1951 e a entrega à CCN foi formalizada em Antuérpia a 23 de Fevereiro de 1952. O navio largou para Lisboa a 28 e passou ao largo da Foz do Douro na tarde de 1 de Março seguinte, onde foi saudado por um grupo de Portuenses que se aproximaram do paquete a bordo de um rebocador da APDL.
Na manhã de Domingo, 2 de Março de 1952 o VERA CRUZ entrou em Lisboa pela primeira vez e foi fundear ao lado do Navio-escola SAGRES (actual RICKMER RICKMERS) frente ao Terreiro do Paço, onde foi visitado pelo Ministro da Marinha Américo Thomaz. A fotografia que apresentamos regista esse momento, vendo-se o distintivo do ministro içado no tope do mastro principal do VERA CRUZ. Foi um momento de emoção para o Ministro que então pronunciou um discurso transmitido em directo de bordo pela Emissora Nacional, de que se transcrevem excertos:
"O paquete VERA CRUZ - que na madrugada de hoje sulcou pela primeira vez as águas do Tejo - é, com apreciável diferença, a mais importante unidade do plano de renovação estabelecido ao findar da última guerra, cuja execução está quase a atingir o seu termo e tem enriquecido o País com algumas dezenas de navios modernos, facto que há um quarto de século seria considerado de impossível realização.
Pode este belo navio emparceirar sem favor com os melhores que navegam entre a Europa e a América do Sul, quer na tonelagem, quer na velocidade, quer, ainda, no conforto (...)
(...) "Portugal regressa ao Mar" foram as palavras inscritas como legenda breve mas sugestiva, no reverso da medalha comemorativa do ressurgimento da nossa Marinha de Comércio e da realização do primeiro Congresso Nacional da Marinha Mercante.
Ao ver o VERA CRUZ vieram-me ao pensamento estas quatro palavras e com elas, também, o desejo sincero de que o esforço feito nestes últimos anos se não perca, antes perdure e se fortaleça."
A triste realidade dos últimos 35 anos de desmaritimização veio anular todo o esforço anterior e desperdiçar muito do que de melhor havia sido consolidado na Marinha Mercante (comércio e pesca) e na Indústria Naval. O actual movimento de Regresso ao Mar constitui nova esperança, mas não deixa de ser triste que a relação de Portugal com o Mar se repita em ciclos de entusiasmo anulados por desmaritimizações ignotas, sempre tendo por base a tradicional ignorância de um sector importante da sociedade portuguesa. O sector que tem ocupado o Poder em Portugal nas últimas décadas.
A segunda fotografia mostra o VERA CRUZ fotografado de bordo do seu irmão gémeo SANTA MARIA no dia 25 de Outubro de 1953, quando da chegada ao Tejo do segundo paquete da carreira do Brasil. A terceira imagem reproduz a capa de um livro precioso editado em 1952 pelo estaleiro Cockerill para comemorar a construção dos maiores navios até então saídos de estaleiros belgas.Texto e imagens /Text and images copyright L.M.Correia. For other posts and images, check our archive at the right column of the main page. Click on the photos to see them enlarged. Thanks for your visit and comments. Luís Miguel Correia
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