Tuesday, October 25, 2016

PORTO DE LISBOA: 129 ANOS


Forte de São Julião da Barra, onde o Tejo se encontra com o Atlântico e começa a jurisdição do Porto de Lisboa que vai até Vila Franca

Outubro é tempo de aniversário do Porto de Lisboa, não porque o Criador tenha acabado por aqui o seu sétimo dia de realizações fluviais e portuárias nesse mês, mas por ter sido a 31 de Outubro de 1887 que arrancaram as obras marítimas do que é ainda hoje o conjunto de docas do Porto de Lisboa. E as obras arrancaram nesse dia por ser o aniversário do Rei, então o Senhor D. Luíz, que mais tarde teve direito a rebocador com o seu nome e tudo.

As obras do Porto de Lisboa (que ainda prosseguem na medida em que este se tem mostrado dinâmico e se reinventa à medida dos progressos diversos associados aos navios, às cargas e às cidades que o rodeiam) foram, com o Caminho de Ferro, as grandes obras do Estado Português concretizadas na segunda metade do século XIX, e enquadradas no Fontísmo e na ânsia de que o País recuperasse o atraso face à Europa desenvolvida. 
Pensava-se então que Lisboa se transformaria num cais da Europa, com a navegação internacional a deixar no Tejo as suas cargas que daqui seguiriam por comboio para os seus destinos finais. Era já o sonho da carga de baldeação que agora se chama transhipment, não por falta de termos genuínos locais. 
O Porto de Lisboa cresceu e desenvolveu-se ao longo do século XX como o maior porto português, grande entreposto colonial e ultramarino, num mundo de regalias partilhadas com Leixões - o outro "porto de primeira", porque os restantes eram secundários, com parco investimento e influência local, de acordo com a classificação do Estado Novo.
EBORENSE, barco da carreira da Trafaria a Belém, e o mais antigo cacilheiro em actividade, nascido em Viana do Castelo em 1954


Essa característica de Primeiro Porto Português associada historicamente ao Porto de Lisboa é no entanto muito anterior às obras iniciadas há 129 anos, pois aqui quem realmente foi decisivo terá sido o Criador, ao conceder à natureza um estuário com todas as condições para um grande porto, aliás bem aproveitadas durante séculos desde a mais remota antiguidade, e que estiveram na própria origem da cidade de Lisboa que até há poucas décadas quase tudo devia ao rio e ao porto.

Navio de cruzeiros THOMSON SPIRIT em navegação no Porto de Lisboa com os terminais de passageiros e de carga de Santa Apolónia em segundo plano


Passageiros e carga continuam a fazer a história funcional do Porto de Lisboa, nas formas modernas de turistas e de contentores, aqui a cruzarem-se na tarde de 18-10-2016,
 o BRITANNIA e o AZURA de saída com passageiros, o MAERSK KOBE a entrar para 
operação de carga e descarga de contentores em Alcântara


Hoje talvez com o peso de tantos séculos mais 129 anos de portualidade moderna, o Porto de Lisboa parece desencontrado da grandeza que sempre o caracterizou. Deixou de ser o porto mais movimentado, os seus cais mostram-se vazios muitas vezes, e a cidade deixou de o compreender e associar-se com orgulho às suas actividades, à medida que os lisboetas foram renunciando ao espírito marítimo de outros tempos.
Apesar das condicionantes do momento, Lisboa continua a ser um dos melhores portos naturais da Europa, e continua a pensar-se no seu desenvolvimento futuro, com destaque para a margem sul e o Barreiro. Neste aniversário é altura para felicitar o Porto de Lisboa e expressar o desejo sincero de que continue a cumprir o seu papel de grande porto e para já, que em breve volte a ser o maior porto português, não por bairrismo mas por todas as condições estarem aqui na forma natural e não ser conveniente melindrar o Criador com o seu desperdício continuado.
Texto e imagens /Text and images copyright L.M.Correia. Favor não piratear. Respeite o meu trabalho / No piracy, please. For other posts and images, check our archive at the right column of the main page. Click on the photos to see them enlarged. Thanks for your visit and comments. Luís Miguel Correia

No comments:

Post a Comment