Os grandes paquetes de cruzeiros que actualmente escalam Lisboa - caso do novo COSTA CONCORDIA, chamam a atenção de quem tem o privilégio de os observar e despertam sonhos de viagens urgentes para os afortunados que os visitam. São todos estrangeiros, estes navios de sonho. Mas nem sempre foi assim.
Nas décadas de cinquenta e sessenta do século passado Portugal detinha uma Marinha de Comércio de que se orgulhava justamente, e desses navios faziam parte grandes paquetes, ao nível do melhor que então navegava por esses mares perdidos. O VERA CRUZ foi o primeiro desses grandes navios de prestígio.
De concepção extremamente avançada para a época, o VERA CRUZ foi o primeiro verdadeiro paquete Português, pois todos os navios de passageiros anteriores se classificavam como unidades mistas, pela grande quantidade de carga transportada a par dos passageiros. Encomendado em 1949 na Bélgica pela Companhia Colonial de Navegação, o VERA CRUZ entrou ao serviço em Março de 1952, substituindo o MOUZINHO na carreira do Brasil, que fez regularmente até 1961, a par com viagens à América Central e cruzeiros. A partir de 1961 o VERA CRUZ navegou para destinos africanos, muitas vezes fretado ao Estado para transporte de tropas e material de guerra. Concluiu a sua última viagem em 1972 e foi vendido e desmantelado na Formosa em 1973.
Quando seguiu para a sucata o VERA CRUZ era ainda um navio relativamente moderno, e se tivesse sido reconvertido para cruzeiros podia ter navegado pelomenos durante mais 30 anos. Foi para o lixo quase novo.
Com 21.765 toneladas de arqueação bruta, o VERA CRUZ tinha 185,75 metros de comprimento fora-a-fora e 23m de boca. Dois grupos de turbinas a vapor Parsons desenvolviam 25.500 SHP, permitindo uma velocidade máxima de 23 nós. O navio dispunha de alojamento para 1242 passageiros e 350 tripulantes. os seus interiores eram considerados luxuosos para a época. Foi o primeiro paquete em que naveguei, e guardo, muitas recordações boas e saudades. Assisti com tristeza à sua última largada do Tejo em 1973, ferrugento e carregado de automóveis e carga geral, numa viagem sem regresso para África e os mares da China.
Texto de Luís Miguel Correia - 2006
Não deixa de ser verdade o seu comentário, infelizmente foi assim.
ReplyDeleteLembro-me há uns anos em conversa com o actual armador do FUNCHAL, ele me dizer que se ele tivesse sabido, o VER e o SANTA nunca tinham ido para a sucata naquela altura...
Mas o fenómeno não aconteceu apenas por cá. Acreditava-se que o paquete era uma coisa do passado e ninguém levava muito a sério o potencial dos cruzeiros. Paises como os EUA, a França, a Espanha e tantos outros, como a IOtália no que toca à frota estatal, desfizeram-se de tudo em poucos anos. Mesmo os ingleses, pense em quantas companhias tinham... A maior parte desapareceu...
LMC
I am looking for more high-rez images of this boat. Do you know where I could find some?
ReplyDeletePhillip
Por ser filho e neto de marinheiros, tenho a brochura promocional do Paquete Vera Cruz, da Campanhia Colonial de Navegação, de 1952. Com desenhos de António Soares, Manuel Lapa, Jorge Barradas, etc.
ReplyDeleteEu viajei neste paquete em 1967, tinha 5 anos e vim a Portugal passar férias.De Luanda/Lisboa/Luanda.Fiquei fascinada desde aí.Ainda hoje sinto o cheiro de bordo, dos camarotes, da sopa dos miudos,lembro das gincanas e jogos e festas que organizavam.Foram as melhores férias da minha vida.Se alguém tiver fotos do interior partilhe sim?Obrigada.Ana Cristina
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