Porta-contentores estrangeiro a carregar no terminal de contentores de Alcântara, em Lisboa. Actualmente não há um único porta-contentores de propriedade ou operação portuguesa a ligar os nossos portos à Europa...
Quem entrar neste blogue poderá achar uma certa graça aos navios e fotografias respectivas por cá expostas. Mas a maioria não vai muito além da curiosidade. A cultura marítima adormeceu em Portugal e o povo, para além da "Caravela" (*) SAGRES que costuma abrir os desfiles navais no Tejo, pouco mais conhece. E o panorama não difere muito em esferas mais elevadas da economia ou da governação.
Ninguém fala nos rios de dinheiro que se gastam em Portugal (onde os recursos por muito limitados deveriam ser melhor geridos também com uma política marítima) por não termos navios. Como a grande maioria das nossas importações e exportações continuam a ser feitas por via marítima, há que pagar fretes ao estrangeiro. E paga-se sem sequer alguém se questionar sobre a possibilidade de haver navios portugueses a assegurar uma participação no comércio marítimo. E até há, mas numa proporção infima das necessidades e possibilidades por que os negócios marítimos se podiam traduzir em Portugal.
Falta a cultura marítima, que começa com criancinhas e jovens a gostarem de navios e a sonharem um dia serem marinheiros(as) ou armadores. Falta cultura marítima com uma política de desenvolvimento e incentivo, que gradualmente articule as necessidades do País com as potencialidades que a geografia, a tradição e própria globalização podem tornar em oportunidade histórica.
A última política marítima oficial que foi executada em Portugal decorreu da visão e empenho de um Ministro da Marinha que passou as passas do algarve durante a Segunda Guerra Mundial, por não haver navios suficientes para assegurar as necessidades básicas em termos de importações. Na época os navios eram quase todos velhos e não havia petroleiros. Hoje quase não temos navios e até os petroleiros velhos estão a acabar. O Ministro era o almirante Américo Thomaz, que nunca teve ilusões acerca do alcance das suas iniciativas, por nem na época se haver atingido os objectivos propostos. Mas na época as actividades marítimas tiveram grande importância. As grandes empresas de navegação eram estrelas no firmamento da nossa economia, e chegou a conseguir-se alguma articulação com outras indústrias, nomeadamente com a indústria naval. Fizeram-se estaleiros para reparar e construir navios e não importava que construir em Portugal fosse um pouco mais caro. A qualidade era boa e gerava-se emprego. Em 1937, a construção do CREOULA foi subsídiada pelo Governo com dinheiro do Fundo de Desemprego para cobrir o diferencial do preço a pagar pelo armador.
Tudo isso pertence ao passado, um passado envolto em políticas polémicas que muitas vezes se criticam sem grande conhecimento de causa. Mas interessa o presente, e deviamos voltar a olhar para o mar de forma objectiva. E precisamos de iniciativas e de navios, de estaleiros e de investimentos. E de uma Marinha de Guerra com um mínimo de meios operacionais modernos que lhe dê dignidade para além do esforço permanente de missão que caracteriza esta instituição, tantas vezes maltratada e ignorada. E o mar e os navios estão hoje mais do que nunca no coração do mundo. Sem porta-contentores gigantes, isto é transporte marítimo intercontinental barato, não haveria globalização. E o transporte marítimo até é amigo do ambiente, o que dá a possibilidade de usar envelopes políticamente correctos para uma política marítima que tarda em Portugal.
(*) - O navio-escola SAGRES não é uma caravela, mas sim uma lindíssima barca de três mastros...
Fotos e análise desapaixonada de Luís Miguel Correia - 2006
Navio de transporte de gás cipriota na Trafaria. Há dias em que não se vêm navios mercantes portugueses em Lisboa nos dias que correm. No resto dos mares são também uma espécie em vias de extinção...
Foto central: proas do N/E SAGRES e do NTM CREOULA, dois navios portugueses, e dois símbolos da relação de Portugal com o Mar no seu melhor.
Quem entrar neste blogue poderá achar uma certa graça aos navios e fotografias respectivas por cá expostas. Mas a maioria não vai muito além da curiosidade. A cultura marítima adormeceu em Portugal e o povo, para além da "Caravela" (*) SAGRES que costuma abrir os desfiles navais no Tejo, pouco mais conhece. E o panorama não difere muito em esferas mais elevadas da economia ou da governação.
Ninguém fala nos rios de dinheiro que se gastam em Portugal (onde os recursos por muito limitados deveriam ser melhor geridos também com uma política marítima) por não termos navios. Como a grande maioria das nossas importações e exportações continuam a ser feitas por via marítima, há que pagar fretes ao estrangeiro. E paga-se sem sequer alguém se questionar sobre a possibilidade de haver navios portugueses a assegurar uma participação no comércio marítimo. E até há, mas numa proporção infima das necessidades e possibilidades por que os negócios marítimos se podiam traduzir em Portugal.
Falta a cultura marítima, que começa com criancinhas e jovens a gostarem de navios e a sonharem um dia serem marinheiros(as) ou armadores. Falta cultura marítima com uma política de desenvolvimento e incentivo, que gradualmente articule as necessidades do País com as potencialidades que a geografia, a tradição e própria globalização podem tornar em oportunidade histórica.
A última política marítima oficial que foi executada em Portugal decorreu da visão e empenho de um Ministro da Marinha que passou as passas do algarve durante a Segunda Guerra Mundial, por não haver navios suficientes para assegurar as necessidades básicas em termos de importações. Na época os navios eram quase todos velhos e não havia petroleiros. Hoje quase não temos navios e até os petroleiros velhos estão a acabar. O Ministro era o almirante Américo Thomaz, que nunca teve ilusões acerca do alcance das suas iniciativas, por nem na época se haver atingido os objectivos propostos. Mas na época as actividades marítimas tiveram grande importância. As grandes empresas de navegação eram estrelas no firmamento da nossa economia, e chegou a conseguir-se alguma articulação com outras indústrias, nomeadamente com a indústria naval. Fizeram-se estaleiros para reparar e construir navios e não importava que construir em Portugal fosse um pouco mais caro. A qualidade era boa e gerava-se emprego. Em 1937, a construção do CREOULA foi subsídiada pelo Governo com dinheiro do Fundo de Desemprego para cobrir o diferencial do preço a pagar pelo armador.
Tudo isso pertence ao passado, um passado envolto em políticas polémicas que muitas vezes se criticam sem grande conhecimento de causa. Mas interessa o presente, e deviamos voltar a olhar para o mar de forma objectiva. E precisamos de iniciativas e de navios, de estaleiros e de investimentos. E de uma Marinha de Guerra com um mínimo de meios operacionais modernos que lhe dê dignidade para além do esforço permanente de missão que caracteriza esta instituição, tantas vezes maltratada e ignorada. E o mar e os navios estão hoje mais do que nunca no coração do mundo. Sem porta-contentores gigantes, isto é transporte marítimo intercontinental barato, não haveria globalização. E o transporte marítimo até é amigo do ambiente, o que dá a possibilidade de usar envelopes políticamente correctos para uma política marítima que tarda em Portugal.
(*) - O navio-escola SAGRES não é uma caravela, mas sim uma lindíssima barca de três mastros...
Fotos e análise desapaixonada de Luís Miguel Correia - 2006
Navio de transporte de gás cipriota na Trafaria. Há dias em que não se vêm navios mercantes portugueses em Lisboa nos dias que correm. No resto dos mares são também uma espécie em vias de extinção...
Foto central: proas do N/E SAGRES e do NTM CREOULA, dois navios portugueses, e dois símbolos da relação de Portugal com o Mar no seu melhor.
Tudo isto é muito triste!
ReplyDeleteClaro que há espíritos para quem se, foi A. Thomás a preocupar-se com os navios, então = opção fascista!...
A presença de tecnocratas nos lugares de decisão, no entanto, pareceria favorável à compreensão da importância desta matéria, não? Mercadorias, contentores, tecnologia, guindastes, comércio, import-export, RIQUEZA...
Lá estamos de costas voltadas, mais uma vez!...
Cinderela,
ReplyDeleteA questão é complexa. E tem outra vertente. Alugar navios estrangeiros (afretar, para utilizar o termo correcto), dá comissões, ou pelo menos já deu a muita gente...
Claro que quando a Marinha de Comércio esteve nas mãos do Estado, foi muito mal administrada. Ninguém se preocupou em fazer o que há uns anos fizeram com a TAP: arranjar uma administração conhecedora do sector e competente...
LMC
O eterno problema, não é?... suspiro!
ReplyDeleteÉ curioso como em cada linha abanava a cabeça em sinal de concordância. Triste, mas verdadeiro. :(
ReplyDeleteCaiê,
ReplyDeleteMais que triste será muito estúpido. O Mar pode ser uma galinha de ovos de ouro para Portugal.A falta de ambição contenta-nos com um futuro de sol e tremoços em pratinhos servidos aos turístas ricos da UE, tudo embrulhado em agradecidos sorrisos. Uma ternura...
LMC