Thursday, January 22, 2009

SANTA MARIA: largada do FUNCHAL

Bonita fotografia do paquete SANTA MARIA, da Companhia Colonial de Navegação a largar do Funchal para Tenerife em 12 de Janeiro de 1968, numa das suas viagens regulares à América Central.
Fotografia de João Pestana feita por encomenda da CCN, que depois utilizou esta imagem para imprimir um postal.
O SANTA MARIA foi construído na Bélgica em 1952-1953 para a linha do Brasil da CCN, substituindo o SERPA PINTO nesta carreira em Novembro de 1953.
O paquete mais antigo inaugurou então uma nova carreira para a América Central que seria mantida durante 20 anos, a maior parte dos quais precisamente com o SANTA MARIA.
O navio celebrizou-se com o assalto em 1961, mas não vamos aqui falar desse episódio agora. Importa referir que o SANTA MARIA era o navio de prestígio da Colonial, mantendo a linha da Venezuela e América até Abril de 1973.
Fazia 10 viagens redondas por ano, saindo de Lisboa para Vigo, Funchal e Tenerife antes de atravessar o Atlântico rumo a La Guaira, Curaçau, San Juan de Puerto Rico e Port Everglades (Florida), após o que atravessava novamente o Atlântico directamente para Tenerife, seguindo-se escalas em Funchal e Vigo.
A viagem redonda era muitas vezes efectuada por passageiros em regime de cruzeiro. E ao longo dos anos o navio efectuou também muitos cruzeiros, de Fim de Ano à Madeira, onde era presença habitual a 31 de Dezembro, bem como ao Mediterrâneo, Norte da Europa e Caraíbas.
Em 1973 o SANTA MARIA foi vendido para desmantelar na Ilha Formosa. Tinha apenas 19 anos de serviço e podia ter durado muito mais anos. Hoje ofereceram-me imagens da ultima largada do SANTA MARIA de Lisboa, ao fim do dia 1 de Junho de 1973. Assisti à partida da entrada do Museu de Arte Antiga. Não consegui ver mais de perto. Passados todos estes anos ainda sinto um aperto ao recordar essa despedida desnecessária num navio que tinha dado um excelente paquete de cruzeiros e podia ter navegado pelo menos mais 20 anos se fosse modernizado e recebesse máquinas novas, como aconteceu a outros da mesma época...
Foto da colecção LMC - Texto de Luís Miguel Correia de 11 Fevereiro 2007 editado a 22 de Janeiro de 2009

8 comments:

  1. Qual a razão para o desmantelamento de um navio desta categoria e com História com apenas 19 anos?

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  2. Esta foto é um clássico, com o SANTA MARIA em toda a sua glória.

    Sailor Girl, o SANTA MARIA foi vítima de falta de sorte/visão.

    Falta de visão porque a CCN não optou por o reconverter para cruzeiros (como a Arcália faria mais tarde com o INFANTE com muito sucesso) e tentar a sorte no mercado.
    Podiam até operar e vender os cruzeiros, ou então optar pelo mercado dos alugueres/fretes, como faz a Arcália.
    Com a sua média dimensão, bons espaços (interiores e exteriores), tripulado por bons marinheiros e com o charme dos Portugueses, concerteza que faria sucesso.

    Falta de sorte porque uma empresa como a Carnival ou outra, poderia ter pegado nele, já que os Portugueses não o quiseram fazer.

    Miguel, o problema não eram as caldeiras e as turbinas... mas sim os enormes calados dos navios clássicos.

    E por vezes o próprio arranjo interno dos navios, com três classes, com salões separados para todas as classes e acessos e escadarias não organizados para funcionar como um todo.

    Em 73, quando a bolha rebentou e a OPEP decidiu fechar a torneira do petróleo, a grande maioria dos navios de passageiros eram de turbinas, mas a realidade impunha navios mais pequenos, mais económicos, com uma mentalidade diferente.

    O FRANCE/NORWAY só escapou porque o Knut Kloster mandou desactivar metade da maquinaria, economizando no combustível... não era preciso o navio andar a correr a 30 nós, bastavam uns 20.

    E, graças ao seu tamanho, aplicou-se o fenómeno da economia de escala, e graças ao elevado número de passageiros que podia levar, o rendimento extra compensava os gastos com o combustível, que eram sempre muito superiores aos do resto da frota da NCL.

    Paulo Mestre

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  3. Sailor Girl:

    Porque é que o SANTA MARIA foi desmantelado com apenas 19 anos?
    Por diversas razões.
    A mais óbvia reside no facto de ninguém o ter querido comprar para continuar a operar. A conjuntura era desfavorável a este tipo de navios.O SANTA MARIA tinha sido construído no início dos anos cinquenta segundo um projecto desenvolvido em 1949, com o objectivo expresso de fazer a linha regular Lisboa - Brasil. Grande parte dos alojamentos para os 1182 passageiros que o navio transportava destinavam-se ao transporte de emigrantes. Estes eram transportado em condições melhores do que noutros navios da época, mas na sua maioria em camaratas. Só os camarotes destinados aos 156 passageiros de Primeira Classe tinham casas de banho privativas e níveis de conforto compatíveis com os padrões esperados num navio de cruzeiros no início dos anos setenta. Havia depois camarotes para 226 passageiros em Segunda classe sem casas de banho privativas e camarotes para 200 passageiros em Terceira classe igualmente sem casas de banho. Havia ainda uma chamada Terceira classe suplementar com capacidade para 600 passageiros alojados em camaratas.
    Quando entrou em serviço em Novembro de 1953 o SANTA MARIA era um navio moderno, mas na década de sesenta construiram-se navios muito melhores, com predominância de classes turísticas, alguns com casas de banho privativas em todos os camarotes, e os navios contemporâneos do SANTA que sobreviveram foram gradualmente modernizados e adaptados às novas tendências do mercado. Isto só parcialmente se fez no SANTA MARIA, que em 1967 sofreu uma reconversão dos alojamentos dos emigrantes, sendo essses espaços aproveitados para novos camarotes de turística, com melhores condições.
    A Companhia Colonial de Navegação era uma empresa virada essencialmente para as ligações Metrópole - África Portuguesa e nessas linhas ganhava dinheiro essencialmente no transporte de cargas e tropas. Os navios de passageiros maiores eram muito dispendiosos e provavelmente nunca ganharam dinheiro que se visse. O mesmo aconteceu com o FUNCHAL, único sobrevivente actual dessa frota de paquetes portugueses que em 1966 chegou a contar com 26 unidades. O FUNCHAL só começou a gnahar dinheiro depois de ser vendido em 1985 ao armador George Potamianos.
    Voltando ao SANTA MARIA, o empenho da Colonial na sua manutenção em serviço não era grande. A empresa estava autorizada a proceder á sua venda desde 1971 e quando no princí+io de 1973 os custos com os combustíveis passaram a ser exorbitantes, a empresa aproveitou uma avaria técnica para retirar da carreira o navio e vendê-lo. De qualquer forma estava programada a retirada do navio de serviço em Outubro de 1973.
    Nessa época havia muitos navios semelhantes aos nossos ou melhores para venda, e a maior parte das frotas das companhias tradicionais com navios de passageiros vocacionados para os serviços de linha regular acabaram prematuramente nas mãos de sucateiros, ou foram salvos in-extremis para conversão para cruzeiros (caso do famoso FRANCE, imobilizado em França em Setembro de 1974 com apenas 12 anos de serviço activo e vendido em 1979 para a Noruega).
    Houve casos de navios mais modernos e melhor equipados para cruzeiros que o SANTA MARIA que foram demolidos com menos anos de serviço. O caso mais flagrante foi o do paquete inglês NORTHERN STAR, construído em 1962 e que foi vendido para a sucata em 1975, com apenas 13 anos. Também mais ninguém o queria. A lista de outros navios famosos subaproveitados e que nessa época acabaram na sucata é imensa. Práticamente toda a frota estatal italiana, por exemplo, a começar pelos super-famosos gémeos RAFFAELLO e MICHELANGELO, construídos em 1965 e que só navegaram 10 anos...
    Na vida dos navios há também a considerar o factor sorte, como em tudo na vida. Um exemplo: a Canadian Pacific construiu dois navios gémeos de características semelhantes ao SANTA MARIA, o EMPRESS OF BRITAIN em 1956 e o EMPRESS OF ENGLAND em 1957. O p+rimeiro ainda navega com exito, e com as turbinas originais, apesar do custo elevado da sua exploração. O segundo foi vendido para a sucata em 1975 com apenas 17 anos de serviço, apesar de três anos antes o armador ter gasto uma fortuna na sua reconversão para cruzeiros.
    Na época havia a ideia firme de que os grandes paquetes eram uma extravagância do passado. Os que pensavam assim desapareceram quase todos, pois os cruzeiros tiveram um crescimento explosivo a partir de 1970 e só os empresários de visão beneficiaram com este mercado.
    Podia ficar aqui a escrever o resto do dia acerca da venda do SANTA MARIA...

    Luís Miguel Correia

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  4. Miguel e Paulo Mestre,

    Houve "N" razões para a maior parte dos nosos navios serem vendidos nos anos setenta...
    Foi uma época.
    O armador George Potamianos disse-me uma vez que se o SANTA MARIA e o VERA CRUZ tivessem durado mais uns anos em Portugal ele não teria deixado que acabassem assim...

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  5. Verifico que o seu amor pelos navios nada tem de político! ;)

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  6. Pelo contrário, K. Embuçado,

    Tudo é político na vida, e não sou indiferente a políticas marítimas ou outras de desmaritimização generalizada.
    Acredito memso que é indispensável uma política de desenvolvimento maritimo alargado em Portugal, e sei muito bem o que isso quer dizer...

    LMC

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  7. Entendo... boa réplica! ;)
    ... por acaso estava a pensar no Henrique Galvão...
    Porque não dedica uns posts à pirataria, aos navios piratas... e aos grandes piratas? :)

    Abraço.

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  8. P. S. Eu e o do machado somos duas faces do mesmo rosto... como Jano.

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