A passagem por Lisboa do QUEEN ELIZABETH 2 a caminho do Dubai anunciada para Novembro de 2008 faz-nos recordar os processos por que passaram os antigos QUEENS quando a Cunard decidiu desfazer-se dos navios em 1967 e 1968.
O QUEEN MARY de 1936 foi vendido à cidade de Long Beach e passou por Lisboa no cruzeiro de despedida, em Outubro de 1967, à semelhança do que vai acontecer com o navio que o substituiu em 1969: o QE2. Acrescente-se que esta viagem se fez via Cabo Horn ao longo das costas da América do Sul, por o QUEEN MARY não poder atravessar o Canal do Panamá.
O facto de o navio não ter ar condicionado e ser um paquete fechado destinado aos rigores do Atlântico Norte tornou a viagem muito desconfortável, pois com as temperaturas elevadas dos trópicos, os passageiros do QUEEN MARY acabaram por ter de dormir nos tombadilhos em cadeiras...
O QUEEN MARY chegou a Long Beach em Dezembro de 1967 onde foi entregue ao município local, que preservou o navio, o qual entretanto se tornou num ícone daquela cidade satélite de Los Angeles.
Menos sorte teve o QUEEN ELIZABETH de 1940. Vendido em 1968 a uns empresários da Florida que acabaram por se mostrar indignos e incapazes de assegurar a preservação do navio em Port Everglades, para onde seguiu vazio em Dezembro de 1968, foi revendido em 1970 ao armador C.Y. Tung, de Hong Kong, que o pretendia transformar numa universidade flutuante com o nome SEAWISE UNIVERSITY, mas dias antes de iniciar a viagem inaugural, o antigo QUEEN ELIZABETH ardeu em Hong Kong e perdeu-se por fogo de origem criminosa.
Legendas das fotografias:
Porto de Port Everglades numa imagem de 1969 em que se vê , além do QUEEN, os paquetes CARMANIA e FRANCONIA, ambos da Cunard, o SANTA MARIA da Companhia Colonial de Navegação, e o seu rival italiano FEDERICO C, também utilizado na carreira Europa - América Central, o EUROPA ex-KUNGSHOLM de 1953 e o ARIADNE ex-PATRICIA.
SEAWISE UNIVERSITY ex-QUEEN ELIZABETH fotografado em Cape Town por Ian Shiffman na viagem de entrega do navio de Port Everglades para Hong Kong.
QUEEN MARY fotografado em Long Beach, onde está preservado como hotel e museu.
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Não sabia que o incêndio tinha sido por origem criminosa. Outro grande navio perdido por incêndio criminoso foi o Normandie, às mãos da Máfia.
ReplyDeleteJoão,
ReplyDeleteO SEAWISE UNIVERSITY ex QUEEN ELIZABETH foi de facto de origem criminosa, começou em simultaneo em diferentes pontos do navio, etc...
Já o NORMANDIE foi por incúria dos norte americanos e negligência... A Máfia tem as costas largas mas nem sempre é a má da fita...
Caro LMC,
ReplyDeleteAlegadamente, o incêndio iniciou-se por descuido de operários que, durante os trabalhos de transformação do Normandie em navio de transporte de tropas, teriam estado a soldar junto de material sujo de alcatrão, e o fogo teria rapidamente escapado ao controlo. Depois, os bombeiros do porto de NY combateram mal o incêndio, apontando as mangueiras sempre para o mesmo lado do navio, acabando por alagá-lo e provocar o seu adornamento. Uma sucessão de incúrias (dos operários, dos bombeiros, e da Marinha dos EUA) foi a desculpa oficial para o sucedido com o Normandie. Aliás, os norte-americanos naquilo em que são mesmo desastrados é a arranjar cortinas de fumo, e a incúria é uma frequente.
O que se passou foi o seguinte: como é sabido - mas pouco falado - a Máfia é de facto quem manda nos portos americanos. Já é assim desde o Séc. XIX e ainda hoje o é. Em 1940, numa altura em que os EUA não estavam oficialmente em guerra mas já auxiliavam bastante os Aliados, e preparavam-se para entrar em breve, a Marinha dos EUA achou que era intolerável que a Máfia continuasse a controlar um sector tão importante como os portos, em tempo de guerra. O Estado-Maior decidiu, com a aprovação do presidente Roosevelt, lançar uma grande operação de polícia mas sob moldes militares e sob a autoridade da Marinha (não me lembro do nome de código da operação), para combater o poder da Máfia. E foi um fracasso total. De tal forma que a Máfia respondeu à "guerra" e quis deixar bem claro o seu poder (não só nos sindicatos dos estivadores mas em todo o sector portuário) destruindo o Normandie. Mais: ficou patente que a Máfia tinha poder dentro da própria US Navy. Quando o navio começou a adornar, um dos engenheiros que tinha projectado o Normandie estava em NY e ofereceu-se para ir a bordo e alagar compartimentos do bordo contrário de forma a equilibrar o navio. Disse que podia dar com as válvulas com os olhos fechados porque conhecia o navio de cor. Foi impedido de o fazer pelo almirante que estava a comandar o combate ao incêndio, a pretexto de que o combate ao incêndio era um trabalho da Marinha. E assim foi destruído o Normandie. A Máfia demonstrou o seu poder, a Marinha aprendeu a lição (e a Máfia acabou por ser um importante aliado durante a guerra, sobretudo na campanha de libertação da Itália da ocupação alemã), e os portos americanos funcionaram perfeitamente durante a guerra.
Os franceses é que nunca perdoarão aos americanos a perda do Normandie, um dos mais belos paquetes de sempre.