Wednesday, July 04, 2007

LISBOETAS ANTI-CRUZEIROS


Parece ter-se criado um fundamentalismo de lisboetas mais ou menos amigos do Tejo e muito pouco amigos do Porto e dos Navios que desde sempre foram a razão de ser da Cidade. O tema mais recente é o da construção do Terminal de Cruzeiros de Lisboa junto ao Terreiro do Trigo e Santa Apolónia. Aqui fica uma opinião recebida de Nuno Santos e os meus comentários. Ressalta dos argumentos anti-cruzeiros um desconhecimento significativo da realidade portuária lisboeta e do que são os cruzeiros.

Caro Luís Miguel Correia,
Penso que a sua opinião sobre a ideia de desenvolver Portugal e tomar decisões é correcta e óbvia. A revisão histórica pode até ser útil, mas neste projecto penso que não considera alguns aspectos fundamentais: (i) Qual o valor do turismo de cruzeiros para a cidade? (penso que as estimativas da APL é que cada turista apenas gaste 7 euros em média). Há que estimar quantos $ são previstos devido a este projecto. (ii) Dado o valor do turismo para a cidade quais os custos? Neste sentido penso que alguns importantes elementos são: a) a poluição do Tejo devido aos enormes navios de cruzeiro (nada comparável aos antigos veleiros) b) a diminuição do valor turístico e imobiliário do centro histórico de Lisboa que já sendo pequeno e em mau estado será ainda pior perdendo a vista do rio c) a diminuição da qualidade de vida dos Lisboetas por perderem vista para o rio num dos segmentos onde ainda há um quase contacto entre zona de habitação e o rio Eu vivo Itália actualmente e gostaria de lhe perguntar se pensa que os Venezianos deixariam barcos de cruzeiro atracar em frente à praça de São Marcos?
Nuno Santos - Roma, Itália

Caro Nuno Santos,
Não concordo com um único argumento dos que apresenta para condenar o terminal de cruzeiros de Santa Apolónia.
- O valor médio de €7 apresentado sabe-se lá por quem como sendo o dos gastos por passageiro de cruzeiros em Lisboa é uma falsidade. Basta um passageiro utilizar um táxi ou fazer uma excursão para gastar mais que isso. O valor correcto andará entre €50 e €100, vamos considerar os €80. Lisboa é visitada por cerca de 300.000 passageiros de cruzeiros.
- Questão da poluição - os navios de cruzeiros não têm qualquer impacto a nível ambiental. São seguidos pelos navios os mais exigentes códigos de preservação do ambiente, nada é deitado borda fora, os lixos são tratados e desembarcados nos portos de escala. No caso de Lisboa o desembarque de Lixo é um bom negócio pelas taxas cobradas e postos de trabalho proporcionados. O mesmo não aconteceria com os antigos veleiros de que fala nostalgicamente. O mesmo não acontece com a população nativa de Lisboa, cujo civismo face à preservação do rio deixa muito a desejar. O mesmo não acontece com o tratamento de afluentes e esgotos, que é deficiente, basta espreitar os caneiros em Alcântara ou no Terreiro do Paço, cuja sopa faz as delícias dos peixinhos mais resistentes.
- O valor imobiliário da zona próxima do terminal só irá aumentar com as beneficiações efectuadas na zona e a recuperação urbana e portuária decorrente da construção do terminal. Está tudo a cair e podre, neste momento, embora os turistas adorem esse pitoresco terceiromundista.
E os navios, ao passarem no Tejo durante algumas horas não vão estragar a vista a ninguém, pelo contrário, vão enriquecer a mesma, com novas formas e cores e gentes e movimento... Eu quero morar em frente aos navios quando for grande...
Não vejo em que é que os nativos de Lisboa vão ficar diminuidos na sua qualidade de vida com a recuperação de uma zona em ruinas alvo dos sem abrigo e outros cartazes da nossa liberdade miserável a utilizar a zona do Terreiro do Trigo para sobreviver.
Os cais estão também a desmonorar-se, e de facto pouca gente circula no local. Eu passo lá muito e nunca vejo ninguém. Será que os meus concidadãos fogem de mim? Na minha opinião, ninguém ou quase ninguém em Lisboa liga ao rio. Se o Tejo estivesse noutro País seria diferente. Assim fica o encanto do nosso atraso cultural e económico. Quantos lisboetas têm o hábito de navegar ou passear no Tejo frequentemente? Vão todos para os shoppings passear em bandos tristes...
- Veneza - Quanto a Veneza, garanto-lhe que os venezianos apreciam os navios de cruzeiros que atracam e manobram muito próximos da praça de S. Marcos. Veneza está a fazer um enorme esforço no sentido de aumentar a actividade de cruzeiros na cidade. Há novos terminais e cada vez mais navios e passageiros, que na sua maioria embarcam no porto. São uma fonte de riqueza importante. Veja lá se vai defender as suas opções anti-cruzeiros junto dos venezianos. Corre o risco de acabar no fundo do Grande Canal com os pézinhos atados a um pedregulho.
Em Itália os portos competem uns com os outros para atrair os negócios dos cruzeiros que vão da construção dos navios à operação dos mesmos. Em VeneAza são construídos muitos navios de cruzeiros e ninguém se preocupa com a poluição, embora hoje ninguém provoque poluição deliberadamente em lugar nunhum...
A construção do terminal de cruzeiros de Lisboa em Santa Apolónia e Terreiro do Trigo só peca pelo atraso do calendário. Já devia ter sido tudo feito há dez anos... Mas mais vale tarde do que nunca.
Fotos: o paquete OCEANA a sair de Lisboa e aspecto actual da muralha do Jardim do Tabaco e construções adjacentes, local onde vai começar a ser construído o Terminal de Cruzeiros de Lisboa, que irá recuperar a zona hoje em adiantado estado degradação.
Text and images copyright L.M.Correia. For other posts and images, check our archive at the right column of the main page. Thanks for your visit and comments. You are most welcome at any time - Luís Miguel Correia

12 comments:

  1. esta carta deste leitor é incrível pela demonstração de tacanhez...

    estou impressionada.

    a comparação com veneza então é demais!!!

    e em quê que os navios poderiam desfeiar Lisboa? VENHAM ELES!

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  2. Vide capa da Revista de Marinha deste mês, com diversos paquetes atracados no Rio de Janeiro... a beleza do local só é enaltecida.

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  3. Sarah Franco,
    É isso mesmo, só que como nos últimos 15 anos Lisboa se desleixou irremediavelmente em relação às condições de recepção dos navios de cruzeiros, muitos optaram por utilizar principalmente portos espanhóis com destaque para Barcelona.
    As carruagens principais do combóiuo já se perderam, mas como o mercado está a crescer e os navios são cada vez em maior número e dimensões, vale sempre a pena melhorar o porto de Lisboa. E há poucos portos lindos para entrar e sair de navio como o nosso. Sei o que digo, que tenho frequentado muitos...

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  4. Malheiro do Vale,
    O exemplo do Rio de Janeiro é significativo. A cidade vive uma certa decadência que começou quando a capital foi transferida para Brasília e hoje a verdadeira capital económica e cultural é São Paulo. Com paquetes atracados a zona do cais Mauá torna-se bem mais interessante que nos outros dias. Tal como em Lisboa...

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  5. Basta olhar para o porto do Funchal! Verifica-se o desenvolvimento da Cidade e da Ilha muito pelos navios.

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  6. Caro Luis Miguel

    Já não nos encontramos há alguns anos, creio que desde os meus anos no "Funchal", mas de vez em quanto venho aqui ao seu blog, para recordar...o que lhe agradeço.
    Desta vez não resisti a meter a colher para informar o nosso amigo que não gosta de cruzeiros em Lisboa de que em frente da Praça de S.Marcos existem duas bóias para amarre de navios.
    Não são muito usadas porque o amarre é caro, só dá para navios pequenos e o serviço de transporte para terra é muito perturbado pelo tráfego constante. Mas a resposta á pergunta final é de que sim, os Venezianos permitem o amarre diante da Praça "pagando, claro".

    Um abraço

    Amadeu Albuquerque

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  7. Caro Cte. Amadeu Albuquerque,
    Pertinente o seu comentário acerca de Veneza. Tenho diversas fotografias de navios de cruzeiros atracados ou amarrados muito perto da Praça de São Marcos. E em Lisboa, nos anos sessenta, os paquetes QUEEN MARY e QUEEN ELIZABETH, da Cunard, fundeavam em frente ao Terreiro do Paço, por terem demasiado calado para atracarem na Rocha... Os passageiros vinham para terra de cacilheiros...
    Seja bem vindo a este blog e apareça sempre. A ultima vez que tive o gosto de o ver foi quando voce passou em Lisboa com o OCEANIC vindo das Bahamas..., já lá vão 7 anos...
    Um pouco fora de contexto, li algures que você levou o SANTA MARIA para a Formosa em 1973. Confirma? Um abraço e apareça sempre...

    Luís Miguel Correia

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  8. Rafael Silva,

    No Funchal há outra sensibilidade face aos navios, nunca ouvi ninguém manifestar-se contra os navios de cruzeiros... e até as actividades marítimo-turisticas têm uma enorme divulgação...
    Nunca pensou em levar o PP para o Funchal no Inverno? Lá é a estação alta...

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  9. Caro Luis Miguel

    Sou velho mas não tanto...em 1973 eu era o 2º piloto do Pátria e foi esse navio que levei para a Formosa, com o Cte. Alexandre Guerra.
    Atualmente estou fazendo a época do Báltico, com o Blue Dream, nascido R7.

    Um abraço
    A.Albuquerque

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  10. C aro Cte.Amadeu Albuquerque,

    Eu lembro-me de si como Piloto do PÁTRIA. Viajei no navio em Agosto e Setembro de 1972, numa das últimas viagens, era o Futre Imediato e Comandante o Cte. Guerra.Lembro-me também do Comissário Caldas e do Comissário Bilhau.
    Perguntei a questão do SANTA MARIA porque vi na internet a afirmação de que você tinha levado o Santa Maria para a Formosa, um tipo de Santos, que viajou consigo no FUNCHAL na costa brasileira...

    Um abraço e bons cruzeiros com o BLUE DREAM... São os últimos cruzeiros desse navio antes de ser entregue à RCCL, penso eu?

    LMC

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  11. Boa memória! Já agora, o 3º cvomissário era um amigo que já não vejo há alguns anos, seu primo acho, o Chaves Correia...

    Este navio vai seguir o caminho do Blue DReam (R6) que entreguei á RCCL para ser o Azamara Journey. Este será o Azamara Quest. Uma pena, porque não gostei do que fizeram ao BDream. Paciência, eu não mando nestas coisas.

    Depois irei para o Zenith, em Novembro, e depois logo se vê.

    Um abraço
    AA

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  12. Então e o que dizer das observações feitas por alguns dos candidatos às eleições de Lisboa sobre a ocupação do espaço ribeirinho...

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