Dedicado aos nossos Amigos açorianos que nos visitam regularmente e enriquecem este espaço com os seus comentários tão interessantes, uma imagem do paquete PONTA DELGADA, com as cores originais da Empresa Insulana de Navegação, um navio que serviu bem as Ilhas dos Açores, de 1962 a 1984 e ainda hoje é recordado com saudades...
Texto e imagens /Text and images copyright L.M.Correia. For other posts and images, check our archive at the right column of the main page. Click on the photos to see them enlarged. Thanks for your visit and comments. Luís Miguel Correia
Texto e imagens /Text and images copyright L.M.Correia. For other posts and images, check our archive at the right column of the main page. Click on the photos to see them enlarged. Thanks for your visit and comments. Luís Miguel Correia
Fiz em 82 a ultima viagem nele,de S.Miguel a Terceira,era um navio que mexia muito,e que tinha um cheiro muito particular,mas de noite,ah popa entre o rosio do mar e o cheiro da chamine,a ver-lhe rasgar o mar,era algo inesquecivel.Prestou grandes servicos nos Acores principalmente a estudantes como eu que sempre "tesos" viam nele a possibilidade de ir a outra ilha com pouco dinheiro. Outros tempos!!!
ReplyDeleteEsta foto também não conhecia, LMC, e não resisto a comentá-la..
ReplyDeleteNeste "bailarino", eu, que me gabo de ter bom equilibrio a bordo,chamei o "Gregório" uma vez, na ligação, invernosa, da Graciosa para a Terceira - quase 6 horas de viagem para um percurso que, mesmo com um pouquinho de mar, durava metade..acompanhado pelo cão de bordo, bom marinheiro, que se estendeu no tapete de entrada da ponte de comando, e lá ficou, prostado de enjoo.. Os demais passageiros, nem vê-los, tudo recolhido aos beliches..
Quando tinha de viajar no Inverno, tornava-me um especialista em Meteorologia, a tentar antever as condições na rota, e com ventos de Norte, o aspecto do mar era enganador - saímos de S.Miguel às 22.00, dobrava-se a ponta da doca, e tudo tranquilo..assim uma brisazinha, vinda da terra, as malhas das rajadas a crispar, corridinhas, a superficie da água...Mas eu sabia - e alguns dos desgraçados dos caixeiros-viajantes que, idos do Continente, iam correr as ilhas, com uma data de malas com mostruário atrás deles, e que já tinham uma séria de "comissões" destas no currículo - que, chegados à ponta da Ferraria, nos Mosteiros, a "valsa" nos esperava..
E era "meio-dito, meio certo", nariz de fora, neste caso proa, e lá estava, navio de um "corisco", cacetada de três em pipa...por ali abaixo, noite escura, até ao porto de Pipas, em Angra..
Gostava, nestas alturas, de me por na aba da ponte, canadiana vestida,e préviamente abonado pelo "barman" João Toco com um uísquinho em versão de amigos, a ver o que era um "wet ship"..e a tentar confirmar a velha história das 3 ondas maiores depois da sucessão de 7 menores..só eu, o som da pancada na proa, a sarrafada a vir bater na ponte,depois a vibração do hélice quando saía da água, a calma do homem do leme - um "picaroto", lobo do mar como só o pessoal do Pico sabe ser - que eu, mais do que ver, adivinhava que estava ali, pela ponta do "Santa Justa" a brilhar no negrume, quando ele puxava uma tragaça..
Algumas vezes, era a indecisão, nas ligações S.Miguel-Faial - daria para acostar em Angra, ou íamos para a Praia da Vitória? E na Graciosa, seria Sta. Cruz ou Praia? E em S.Jorge, Velas ou Calheta?..e por aí fora, até à chegada à Horta..com repetição na volta a S.Miguel.. acrescendo que, para o pessoal em terra, estava sempre tudo em condições de operar, eles queriam era o navio lá, para receber e despachar a carga. Valia a experiência da tripulação que, pelo estado do mar e orientação do vento, sabia "tirar as medidas" à coisa, não se deixando influenciar pelo canto das "sereias" que chegava da terra..
Nesse tempo - anos 60 - portos seguros eram os de P.Delgada e da Horta..o resto era "consoante"..
Uma vez, nas Velas de S.Jorge, ondulação forte, mas que permitiu fundear; desce o portaló, e lá vem uma lanchinha a batalhar, esforçadamente, para se chegar ao navio..aproxima-se, navio para cima, mais a escada, lancha para baixo, até que o "picaroto", o tal, gritava "salta!", da amurada do "P.Delgada" para quem estava na lancha - e era mesmo para saltar, sem hesitações..O que o pessoal fazia prontamente porque toda a gente tinha uma enorme confiança naquele marinheiro..
E embarcava tudo, carteiros que vinham levar e entregar os sacos da correspondência - a 1ª vez que vi um, não resisti e disse-lhe " ó homem, um carteiro, que devia andar em terra a distribuir cartas pelas portas, aqui, metido nestes trabalhos..? Ó senhor que quer, a gente tem que se amanhar,é a vida..." - ceguinhos,(eram,literalmente, levantados da lancha pelo marinheiro do portaló que, entretanto, na espera pelo melhor momento, já ficara com água até à cintura,) mulheres com crianças, velhinhos e velhinhas, os tais caixeiros-viajantes, os que iam a S.Miguel para tratar dos papeis no Consulado para emigrar para a América..enfim tudo entrava, tudo saía..até o gado e as pipas de vinho, o gado de olhos esbugalhados, em pânico, com a lona passada pela barriga, balouçando no ar, puxadas pelo pau de carga, as pipas a sairem do lanchão,o pessoal que as prendera às correntes que as elevavam, em cima dos travessões do batelão,a ver se tudo corria bem, sem nenhum receio que lhes caisse em cima uma coisa daquele tamanho...
Serviço feito, lá íamos nós, nova corrida, nova viagem..às vezes, no Pico, só dava para operar lá onde o Judas perdeu as botas - acho que era Praínha - e só para serviço de passageiros..
No Verão, tudo mudava, grandes viagens se faziam - boa mesa, boa acomodação, toda a gente cá em cima, uns copos, por vezes umas promessas de encontro - ou de carta a escrever para a jovem que aí daqui para ali..até dava pena que a o cais ou a doca estivesse já ali à vista..
E então neste mês de Junho, com as Festas de S.João em Angra, à grande "Ponta Delgada" ! chegava a levar 400 pessoas de S.Miguel para a Terceira, com banda de música à mistura, o navio ficava surrealista, parecia um "arraial" no mar, noites de calor, mesmo no oceano, ninguém se deitava, bebiam-se umas cervejas - muitas cervejas - às tantas andava o maestro, chefe da banda, à procura do homem do trombone, dos do clarinete ou dos trompetistas - uns perdiam-se à proa, outros à popa, alguns a "concertear" o mar, em solos solitários..
Grandes tempos.
Obrigado
Saudações marinheiras
Obrigado, João Coelho...
ReplyDeleteTenho muito material iconográfico sobre o PONTA DELGADA, um dia ainda perco a cabeça e faço um livro sobre este grande pequeno paquete insular, com a sua contribuição experimentada...
Entretanto hoje fui espreitar o que resta do PONTA DELGADA, que está a ser desmantelado no Poço do Bispo pela empresa IRMÃOS CAVACOS... Só com a maré baixa se consegue ainda ver o navio.
Eu é que agradeço o espaço para as minhas "divagações"..
ReplyDeleteO "P.Delgada" acrescentaria o " Cedros" e o "Arnel" bem mereciam a concretização da sua ideia, pelo que representaram, na época, e durante uma série de anos,de melhoria nas ligações inter-ilhas dos Açores..
Só no "P.Delgada" trabalhavam,3 pessoas com "história"; o seu comandante mais conhecido, Armando Correia, homem com aspecto saxónico, que parecia dirigir o "Queen Mary", pelo seu aprumo e apresentação..Os passageiros raramente o viam, mesmo num navio tão pequeno, porque, explorando um negócio de criação de gado em S.Miguel, metia-se no camarote, a tratar das contas das vacas..Sendo um marinheiro experiente era, no entanto, incontrolável e, numa ocasião, insistiu em sair da Horta para as Flores, de noite e em pleno temporal, contrariando os avisos da Capitania..e só não afundou o navio por sorte, ao largo dos Capelinhos..
Outra figura era o 1ºMaquinista, homem que tinha sobrevivido ao naufrágio do "Arnel", e cujo nome não recordo..E depois tínhamos o "barman", João Toco, africano de Angola, filho de Simão Toco, faroleiro colocado, por imposição das autoridades da época,na ponta
do Arnel, no Nordeste, em S.Miguel.
Este homem, Simão Toco, tinha criado em Angola, um movimento religioso, denominado "Tocoísmo", ligado ao cristianismo e que ganhou milhares de seguidores rápidamente. O Governo, apesar de não serem conhecidas motivações políticas na seita, entendeu que era melhor para o regime exilar o homem, e lá foi o desgraçado parar à zona mais isolada, na altura, da ilha de S.Miguel..Curioso é que logo após o 25 de Abril, no tempo do Gen.Spínola,Simão Toco foi "desenterrado" da obscuridade, entrevistado pela comunicação social e projectado para a cena política. A ideia era fazer com que, em Angola, os interlocutores para os portugueses não fosem apenas a FNLA, a Unita e o MPLA..
Coisas da política...
Saudações atlânticas