Monday, June 01, 2009

ANTIGA DOCA DA CP



Imagens da antiga doca seca da CP - Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses aparentemente votada ao abandono no Barreiro. Fotos tiradas a 29 de Maio de 2009. Esta doca serviu durante muitas décadas para efectuar a manutenção técnica dos navios de passageiros da frota da CP que asseguraram as ligações entre Lisboa e o Barreiro até à formação da actual Soflusa.
Texto e imagens /Text and images copyright L.M.Correia. For other posts and images, check our archive at the right column of the main page. Click on the photos to see them enlarged. Thanks for your visit and comments. Luís Miguel Correia

8 comments:

  1. A soflusa, que comparada à Transtejo tem muitos melhores Comandantes e Mestres..

    Nuno Marques

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  2. Aparentemente tratava-se apenas de uma doca onde eram sujeitos a "grandes fabricos" os antigos navios de passageiros da CP.

    Dessa doca seca, atravessando a Rua Miguel Pais, existe(ia) um pórtico que ligava a doca às ainda oficinas, já não da CP, mas sim da EMEF.

    Essas oficinas foram construídas numa antiga estação ferroviária do Barreiro, no tempo "Companhia dos Caminhos de Ferro de Sul e Sueste".

    Como era prática nesse tempo (antes da criaç
    ao da Soflusa), os navios de passageiros recebiam idêntico tratamento ao das locomotivas (diesel) da CP, ou sejam, depois de um determinado periodo de serviço, eram sujeitos a uma reparação profunda que leva a que os mesmos fossem quase completamente decapados. Mesmo o casco durante esses tempo nunca verificaram uma soldadura, respeitando-se o processo original de construção do casco (rebites).

    Nas escolhas das locomotivas por parte da CP, houve uma clara opção por determinadas características de motores e transmissão diesel, tendo nos finais dos anos 40, colocado em confronto a solução alemã (diesel/hidráulica) face à americana (diesel / eléctrica), tendo a opção recaido sobre a segunda.

    Dessa opção, foram nos finais dos anos 40 encomendadas uma série de locomotivas ALCO (American Locomotive Company) da série 1501 a 1512, as quais segundo se julga vieram equipadas com motores diesel maritimos que equipavam os submarinos americanos da 2º Guerra Mundial (no Youtube existem clips dessas loco através da pesquisa por "RS-2" e "RS-3". Algumas delas ainda operam.

    Posteriormente foram inclusivamente adquiridas outras locomotivas ao EUA (igualmente ao abrigo do Plano MArshal) da série 1301 - 1312, estas equipadas com motores Cummings.

    De todas estas sinergias entre locomotivas diesel e navios, foi mantidos em funcionamento toda uma frota ainda anterior ao navio Évora, até aos últimos "Tunes" e "Pinhal Novo", os quais eram clientes assiduos dos serviço do estaleiro da CP.

    Em toda esta operação "fluvial + ferroviária", ainda existia uma antiga fundição no "terrapleno" do Barreiro-A, na qual se fabricavam peças para navios e comboios (locomotivas e carruagens). Segundo creio, foi tentado aí, o fabrico de uma biela para o navio Évora, a qual por se desconhecer o tipo de liga utilizada pelos estaleiros de origem (Krupp), nunca funcionou satisfatóriamente, o que atirou o Évora para cenário de abate.

    Pelo meio (entre os estaleiros e a Fundição) ainda existia a antiga CUF - Companhia União Fabril, a qual até à Revolução ainda construia navios, muito embora "não" no Barreiro - Paquetes da Sociedade Geral - Alfredo da Silva (1950) até ao Amélia de Mello (1956).


    A

    Rui

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  3. Com a criação da Soflusa, os estaleiros foram desactivados, e as operações de reparação foram entregues a empreiteiros (últimos no Seixal). Nessa "operação", toda a ferramentaria que permitia a reparação dos navios no estaleiro da CP, foi cedido ao empreiteiro.

    Como o "conhecimento" desses navios não seguiu, ficou traçado o futuro e o acelerado desgaste desses navios. Aliás, chegaram-se a cortas cascos para a retirada de motores (Tunes ou Pinhal Novo). Nos outros navios da frota a "chapa rebitada" foi igualmente descontinuada.

    Da "traça" original desses navios, após a sua saida sob gestão CP, muito foi alterado. Inclusivamente foi calculado que a importância do tempo de quem lá viajava era de menor importância (portugueses de 2ª), o que levou ao aumento das zonas dos bares, retirando-se dessa forma alguma privacidade que havia a bordo, ou seja, foram abolidas na prática a "1ª e a 2ª classes".

    Porque a memória começa a sofrer os efeitos do tempo, aproveito para esclarecer de que os navios construídos em Viana do Castelo podiam realizar as viagens entre o Barreiro e o Terreiro do Paço em menos tempo, e que Pinhal Novo e Tunes para tempos que rondavam os 17 minutos.
    Nas opções quanto às escolhas dos navios esteve ainda em consideração o abandono no actual "canal" - Rio Coina, para se passar a operar no "canal do lavradio", o que reduzia em muito os tempos de viagem.
    Devido à CUF tal nunca foi possível, ou seja, utilizar os espaços no Lavradio junto à fábrica UFA - União Fabril do Azoto (posteriormente integrada na Quimigal).
    Da parte das autoridades nunca houve igualmente vontade de que os tempos de percurso fossem reduzidos, mesmo com os Navios de Viana do castelo (Estremadura, Algarve, Trás-os-Montes, Minho, Alentejo e Lagos".

    Quem se quiser "perder" pelas praias dos Moinhos no Barreiro, poderá encontrar agora um "esporão" em pedra, o qual era o cais inicial onde os passageiros desembarcavam e desembarcavam nos antigos navios a vapor da CP (o último navio a vapor chamava-se "Alentejo", e já utilizava hélice). Contam os mais velhos que houve nesse serviço navios movidos a rodas(!).

    Esse "esporão" é agora visivel devido à utilização por parte da Transtejo (e Soflusa) dos catamarãs, os quais devido à força das turbinas alteraram profundamente todo o movimento das areias e lodos, havendo inclusivamente por parte da Marinha de Guerra algum desconforto relativamente aos navios atracados no Alfeite.

    A

    Rui

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  4. Rui,

    Obrigado pelos seus comentários tão interessantes.
    Ainda me lembro de ver o Évora a navegar, mesmo na fase final, casco branco, chaminé amarela, parecia um iate, com o casario cheio de madeiras envernizadas. Não tnha comparação com o seu aspecto actual...

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  5. Rui,

    A CUF construiu 5 navios mistos de passageiros e carga, no estaleiro da Rocha do Conde de Óbidos, mas o Amélia de Mello foi construído na Alemanha (Hamburgo) em 1955-56, com o nome ZION para a companhia israelita Zim. Em 1966 foi vendido à SG para quem navegou até Agosto de 1971 como AMÉLIA DE MELLO.

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  6. Caro Luis Miguel Correia.

    Antes de mais, o meu obrigado pela atenção dada ao que foi escrito.

    A informação relativamente aos navios fabricados pela CUF tem origem num livro publicado (julgo que por si) relativo aos paquetes portugueses - Um livro de capa azul.

    Relativamente ao Évora, o que actualmente se conhece nada tem a ver com o que existia.

    As obras vivas eram como são pintadas de branco, e as obras mortas em madeira envernizada. Mesmo a ponte era em madeira.

    Esse navio tinha 2 classes: A 1ª e a 2ª classe.
    Na 1ª Classe existia no convés uma sala com muitos "amarelos" latão religiosamente polidos, existindo um enorme espelho num compartimento onde os bancos eram de um luxo próprio da época.
    Por falta de capacidade de lugares, chegaram a existir bancos desmontáveis forrados nos mesmos tecidos dos bancos.

    Face ao que era o Évora, pode-se dizer que foi ele que deu o mote para a geração seguinte de navios, os Navios construidos em Viana do castelo, mais precisamente o "Estremadura" e o "Algarve". Nesses navios toda a ré estava reservada à 1ª classe, optando-se por um revestimento dos bancos de 1ª classe por napa, tão do agrado dos anos 60 - 70, onde a opção para mobilar uma casa, recaia na linha de mobilias americanas.
    Julgo mesmo que alguns dos navios dessa época paquetes (ex. : Santa Maria) faziam recurso dos mesmos materiais.

    No tocante ao que existia na CP e CUF, pode-se dizer que eram organizações "verticais", onde desde o estofador ao tanoeiro, tudo se fabricava internamente.

    Sem compromisso vou tentar aqui na CP recolher algumas fotos do Navio Évora, à altura da sua entrada ao serviço.

    Na obra (por si publicada (!)), aparece uma foto do Évora acompanhando a entrada de um dos nossos paquetes à entrada no Tejo. Não só ele, como navios da Transtejo, como era o "Junior".

    A

    Rui
    rmvsantos@gmail.com

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  7. Obrigado mais uma vez, Rui, pelo interesse e partilha de informação...

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  8. Caro Amigo LMC,
    Infelizmente é só mais um "abandono"! Está por todo o lado o desleixo pelo nosso património. Primeiro deixa-se apodrecer e depois tenta-se reparar. O caso da doca seca do Barreiro é só mais um caso a juntar milhentos da nossa ferrovia. E um museu lá para os lados do Entroncamento, já leva anos sem fim! Mais umas Fundações, umas promessas, etc...As carruagens estão tapadas com toldos à intempérie. Enfim cenas tristes!

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