Na rua Áurea do lado direito para quem desce do Rossio em direcção ao Tejo, sobressai um belo edifício acabado de restaurar a fachada.
Na varanda do primeiro andar, num mastro branco impecável, flutua uma bandeira azul com uma âncora branca. É uma bandeira do Mar, cheia de significados ainda mais de salientar quanto se pode concluir que é a única bandeira do Mar hasteada na velha Baixa Pombalina, que durante mais de 100 anos foi o centro da nossa vida marítima.
Sinal de tempos de desmaritimização irresponsável o facto de ser única.
A alguns quarteirões de distância existiram os escritórios das nossas principais empresas de navegação: a Nacional, na Rua do Comércio, era a pioneira das carreiras de África e do Oriente, a Insulana, na Rua Nova do Almada com agência de passagens na Rua Augusta era a mais antiga, datando a sua actividade de 1871, havia ainda a Colonial, num edifício soberbo de esquina da Rua da Prata com a Rua de São Julião e a Sociedade Geral, perto da anterior, no começo da Rua dos Douradores.
Todas tinham modelos de navios nas montras e faziam parte do grupo de empresas portuguesas de primeira linha, ao nível dos grandes bancos e seguradoras. A última a deixar a Baixa foi a SOPONATA, no Chiado em 2004.
A bandeira azul do Mar da Rua Áurea assinala a presença da Bensaude Marítima, empresa do Grupo Bensaude que engloba tradições marítimas de armadores de navios na pesca e comércio desde o segundo quartel do século XIX, primeiro com navios de vela, depois com vapores e grandes paquetes, hoje com porta-contentores modernos cujas designações reflectem velhas tradições: o CORVO é o quinto navio deste nome a integrar a frota Bensaude e o FURNAS o terceiro.
Para além do Grupo Bensaude, o edifício tem mais história ligada aos navios e ao mar. Foi sede da Empresa Insulana de Navegação, nos anos sessenta e setenta do século XX, foi sede da Parceria Geral de Pescarias até 1999, da Transtejo e da Secretaria de Estado das Pescas.
Continua a integrar a delegação em Lisboa da Mutualista Açoreana de Transportes Marítimos cujos navios ligam os Açores ao Continente desde 1920.
Para além desta herança náutica que merecia uma placa na fachada a assinalar ser ali o último repositório do Mar Português na Baixa, o edifício é bonito e a bandeira ainda mais bonita. Que ali flutue por muitos anos com a dignidade que hoje transmite.
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Ainda me recordo dos modelos de Navios que existiam na Bensaúde em Ponta Delgada. Eram lindos.
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