Saturday, April 06, 2013

Estação Fluvial e caciheiro "UM DE ABRIL"




Interessante imagem da Estação Fluvial de Belém com o cacilheiro UM DE ABRIL atracado. Imagem de Mário Novais, actualmente pertença da Biblioteca da Gulbenkian. 
Esta fotografia pode ser datada com segurança como tendo sido registada no final da década de 1950. Ainda não se vê o Padrão dos Descobrimentos que depois de ter sido construído em 1940 para a EXPO de Belém com materiais perecíveis, voltou a ser erigido em 1960, desta vez com materiais duradouros. Por sua vez o cacilheiro atracado na secção montante da ponte-cais de Belém é o UM DE ABRIL, da Sociedade Cooperativa dos Catraeiros do Porto de Lisboa, sendo o nome deste pequeno navio de passageiros o da data "oficial" da fundação da Cooperativa dos Catraeiros, creio que em 1921. Digo "Oficial" por que se trata de um embuste anedótico digno da mentalidade do Estado Novo. A Cooperativa havia sido fundada efectivamente a 1 de Maio, dia dos trabalhadores, data com poucas simpatias no tempo do Salazarismo. Assim, em dada altura a direcção da Cooperativa dos Catraeiros decidiu mudar a data oficial da sua fundação, antecipando um mês para 1 de Abril, data do "Dia das Mentiras". Isto para não parecer mal perante as autoridades. E assim ficou. 
Uma das actividades da Cooperativa era o serviço de transporte de passageiros de Belém para o Porto Brandão com lanchas. Em 1951 decidiram construir um cacilheiro já com maiores dimensões e surgiu assim o UM DE ABRIL, com as suas linhas de pequeno paquete. Foi construído no estaleiro de Porto Brandão e em 1959 seria vendido à Sociedade Marítima de Transportes, então o maior operador de serviços fluviais de passageiros e viaturas a operar no Tejo. Passou a chamar-se DARDO e ainda chegou a integrar a frota da Transtejo em 1975, tendo sido desmantelado em Alhos Vedros em 1980. 

Tenho muitas destas histórias de Cacilheiros no meu novo livro DE LISBOA À OUTRA BANDA, onde poderão ler detalhadamente a história e características do UM DE ABRIL / DARDO.
Texto e imagens /Text and images copyright L.M.Correia. Favor não piratear. Respeite o meu trabalho / No piracy, please. For other posts and images, check our archive at the right column of the main page. Click on the photos to see them enlarged. Thanks for your visit and comments. Luís Miguel Correia

3 comments:

  1. Caro Luis Miguel Correia,

    Quero acreditar em tudo o que aqui descreve mas, a não ser que a minha memória já não seja o que era (o que é muito possível), eu recordo o DARDO, tal como o ZAGAIA, no período entre 1951 e 1955. Isto porque frequentador, nessa época, das praias da outra margem do Tejo, bastas vezes aguardava horas na Trafaria, por um barco que fosse levando aquele mar de gente que aguardava regressar a Belém e, de vez em quando lá apareciam o DARDO (é o que eu penso) e o ZAGAIA que levavam o pessoal sim mas para o Terreiro do Paço (também ao que julgo). Para Belém, havia o FAVORITO (também se não estou em erro) e um outro. O UM DE ABRIL não tenho a menor ideia, mas isso é problema meu que também só utilizava o barco nos domingos de praia. Depois de 1955 eu já tinha mudado de frequência das praias, já era mais linha do Estoril. Ora, como diz que o nome DARDO só aparece em 1959, custa-me a interiorizar tal data. A não ser que, anteriormente, tenha havido outro com esse nome!

    Cumprimentos,
    João Celorico

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  2. Caro João Celorico,

    Pode acreditar em tudo o que escrevo relativo ao UM DE ABRIL pois o assunto foi estudado com a maior seriedade e a documentação e registos do navio foram consultados num arquivo de Lisboa.
    Penso que está a confundir o DARDO com o FLECHA, que era o irmão gémeo do ZAGAIA. Ambos fizeram durante muitos anos essa carreira sazonal das praias a partir do Terreiro do Paço. Já o UM DE ABRIL atravessava o rio para o Porto Brandão, não a Trafaria ou a Cova do Vapor. São serviços diferentes.
    O meu novo livro DE LISBOA À OUTRA BANDA conta todas estas histórias.

    Cumprimentos

    Luís Miguel Correia

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  3. Caro Luis Miguel Correia

    Grato pela sua informação e, claro que a diferença entre um DARDO e uma FLECHA, foi o suficiente para me baralhar. Como referi, o meu contacto com esses nomes foi mais nesse período e apesar de confiar nos seus escritos, por vezes a dactilografia prega-nos partidas e em vez dum algarismo poderia ter saído um 9. Tudo esclarecido renovo os meus agradecimentos!

    João Celorico

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