Há cerca de 50 anos, em Junho de 1966, afundou-se por água aberta, o lugre bacalhoeiro BRITES, nos mares da Terra Nova. Aconteceu com muitos dos navios da nossa frota, em especial os com casco de madeira. Diziam as más línguas que eram "vendidos" ao seguro...
Notícia do Diário de Lisboa na sua edição de 30 de Junho de 1966.
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Caro Luis Miguel
ReplyDeleteJá faz algum tempo que não trocávamos uns very ligths sobre a famosa “desmaritimizacão” que tanto tens apregoado. Após ter lido esta notícia sobre o trágico destino que estava reservado a este bonito lugre, não pude deixar de dar o meu parecer sobre este caso, especialmente quando te referes aos navios que eram “vendidos” ao seguro. Acredito que ninguém tem dúvidas que foram vários os navios da famosa “Frota Branca”, especialmente aqueles com casco de madeira, que mesmo antes de largarem dos portos portugueses já estavam condenados a não regressarem.
A estatística não deixa qualquer desconfiança, dos dezassete navios motores com casco em madeira, construídos entre 1943 e 1960, treze perderam-se por naufrágio devido a causas “diversas”, a estes temos que somar mais dois, perdidos por “incêndio”, no porto de Aveiro, precisamente na véspera de largarem para mais uma campanha. Foram eles os navios motores “Elisabeth” e “Rainha Santa”. Deste grupo de navios, somente por milagre ou não, o “Capitão Ferreira” e o “Novos Mares”, acabaram os seus dias na sucata.
Em relação aos lugres a razia foi ainda mais grave, dos dezassete navios construídos de raiz em Portugal, entre 1936 e 1953, aos quais devemos juntar mais três navios comprados em segunda mão, entre 1935 e 36, (os grandes lugres “Senhora da Saúde”, José Alberto” e “Milena”), de toda esta enorme frota, somente os dois irmãos “Creoula” e “Santa Maria Manuela” além do famoso “Argus” não se perderam na voragem do oceano, talvez porque o tipo do seu casco em aço, pôde proporcionar ao seu armador outras alternativas.
Só não entendo porque é que ainda hoje existe tanto pudor em abordar este assunto, foram mesmo muitos aqueles que enriqueceram à custa destes afundamentos cirúrgicos. Para aqueles mais céticos, basta lerem o famoso livro “Memórias de um radio telegrafista”, para ficarem a perceber que a “desmaritimização” em Portugal, tem tido ao longo dos tempos várias faces, vários protagonistas e o seu início já vem desde há muito tempo.
Destes naufrágios “duvidosos” gostaria de salientar as perdas dos navios-motores “São Jorge”, em 24-7-74, nos mares da Terra Nova, devido a uma explosão deveras “misteriosa” na praça das máquinas, “Ilhavense” e “S. Jacinto”, respetivamente, em 25-6-74, e 17-9-71, ambos vítimas de incêndios repentinos e intensos, localizados na casa das máquinas e a do “Vila do Conde”, em 26-6-73, devido a um incêndio deveras enigmático no paiol dos mantimentos. Quanto as perdas de lugres, o naufrágio do “José Alberto”, devido a incêndio, também ele algo inexplicável, não só pela sua dimensão, como pela rapidez como se propagou a todo o navio, em 1968, no Virgin Rocks-Terra Nova, será esta a meu ver, uma das maiores perdas de lesa património, tratou-se do primeiro navio para a pesca à linha em Portugal, com casco em ferro, apresentava um comprimento de 59m, boca 10m, 4 mastros e um deslocamento de 720 toneladas brutas. Construído na Dinamarca, em 1923, devido às suas características invulgares e beleza de casco, depois de ter sido navio mercante, chegou a ser iate real. Este navio caso tivesse sobrevivido, poderia ser atualmente um dos navios escolas mais bonitos e poderosos do mundo.
Em minha opinião já é tempo de começar a chamar os bois pelos nomes.
Um abraço do amigo
Luis Filipe Morazzo
Bem vindo, Luis Fiipe Morazzo, estas histórias à volta dos navios bacalhoeiros são sempre fascinantes. LMC
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