Saturday, June 06, 2020

Porto de Lisboa: manhã de 19 de Agosto de 1966



Três grandes navios mercantes portugueses, todos novos à data desta imagem preciosa: FUNCHAL de 1961, atracado ao cais de Santos (cais privativo da Insulana); INFANTE DOM HENRIQUE, também de 1961, fundeado após ter chegado nessa manhã da sua última ida a Cádis para docar (a docagem seguinte será já na Lisnave Margueira); JECI, de 1966, a subir o Tejo pela primeira vez, vindo do Japão onde acabara de ser construído para a SOPONATA, nessa manhã de 19 de Agosto de 1966. 
A ponte Salazar acabara de ser aberta 13 dias antes, o paquete IMPÉRIO vinha também de entrada, procedente de Leixões, tendo largado no dia seguinte para África Oriental, como se pode ver numa outra fotografia da chegada do JECI que publiquei no meu livro SOPONATA 1947-1997
O INFANTE DOM HENRIQUE está fundeado a meio do Tejo, durante a estadia habitual entre viagens na carreira Lisboa - Beira (concluiu a viagem anterior a 3 de Agosto e no dia 8 fez um cruzeiro ao largo de Cascais para 1000 convidados do Ministro da Marinha em comemoração da inauguração da ponte sobre o Tejo), e saiu, a 26 de Agosto, para a Beira, com as escalas habituais pelo Funchal, Luanda, Lobito, Cabo e Lourenço Marques. Era frequente, durante as estadias, os nossos maiores navios de passageiros passarem um dia ou dois fundeados ao largo no Tejo, por falta de cais. Nessas situações, as tripulações seguiam de bordo para terra e vice-versa, nos rebocadores e lanchas da Companhia Colonial, o mais importante dos quais, o rebocador de alto-mar MONSANTO, se pode ver ao costado do paquete na imagem. 
O FUNCHAL estava imobilizado, com as caldeiras avariadas desde 3 de Julho de 1966, só tendo regressado à carreira das Ilhas e aos Cruzeiros, a 7 de Abril de 1967. Esteve atracado ao cais de Santos muito poucas vezes, pois o cais privativo da Insulana era nesta altura utilizado principalmente pelos paquetes CARVALHO ARAÚJO e LIMA, pelo cargueiro TERCEIRENSE e pelos navios de passageiros do serviço entre ilhas dos Açores, à data os navios CEDROS e PONTA DELGADA, que vinham a Lisboa regularmente para docagem e reparações. O FUNCHAL atracava habitualmente na Doca de Alcântara, cais sul, junto à ponte giratória da Rocha. Passou grande parte desta primeira imobilização técnica no Mar da Palha. Atracar em Santos para o FUNCHAL, só depois de o cais ter sido dragado recentemente.
O JECI (1966-1985) era em 1966 o maior navio português de sempre, (o que se alterou em 1969 com a aquisição do LAROUCO); seria em 1985 o maior navio até hoje demolido em Alhos Vedros, pela firma de sucateiros Baptistas.
Esta é uma das fotografias históricas que integram a colecção Luís Miguel Correia, e que tanto prazer me dão, a estudar e datar quando possível. Em alguns casos, levo anos até conseguir obter essas informações complementares, que tornam esta ou aquela imagem ainda mais rica. Espero que muitas delas venham a integrar livros novos num futuro próximo.
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