Monday, November 21, 2022

Paquete INFANTE DOM HENRIQUE - uma fotografia com uma história


























Paquete INFANTE DOM HENRIQUE (1961-1988), fotografado por mim a 19 de Agosto de 1975, a partir da varanda da Estação Marítima da Rocha do Conde de Óbidos. 
Gosto especialmente desta fotografia, cujo suporte é um negativo 35mm a cores, das primeiras que fiz a cores, pois embora tenha começado a fotografar em 1970, a preto e branco, só me iniciei na cor, com diapositivos e negativos, em 1975. Desde então ainda não parei mais. 
O INFANTE DOM HENRIQUE (IDH), estava atracado ao cais da Colonial, adjacente à Rocha e concessionado à Companhia Colonial de Navegação (CCN) e, depois, de 1974 até 1985, à CTM - Companhia Portuguesa de Transportes Marítimos, que sucedeu à CCN. 
Fiz esta fotografia após registar a largada do navio inglês ORIANA (1960-2005), da P&O, que nesse ano cumpria um programa de cruzeiros para o mercado britânico, em conjunto com os navios ARCADIA e CANBERRA, que também fotografei em 1975.
O INFANTE DOM HENRIQUE era o nosso maior navio de passageiros e o mais emblemático, mas vivia tempos menos felizes, completava as últimas viagens na carreira de África, era parte de uma coreografia que se desvanecia depressa. O rival PRÍNCIPE PERFEITO já havia completado a última viagem, em Junho desse ano, e aguardava outro destino no Tejo. Seria vendido em Abril de 1976. O INFANTE sairia de cena em Janeiro de 1976, após cruzeiro de fim de ano à Madeira, prolongando depois a vida em Sines dando alojamento a pessoal do GAS e a curiosos. Seria resgatado por George Potamianos em Novembro de 1986, e renovado com o nome VASCO DA GAMA para cruzeiros internacionais, que fez até Setembro de 2000.
O paquete é apenas parte do encanto que retiro da imagem. Hoje não há como fazer um registo semelhante, pois as mudanças foram tão radicais como as decorrentes da tragédia de 1 de Novembro de 1755. Mudou tudo, o navio desapareceu, com a Marinha Mercante Nacional, o edifício da CCN foi demolido, passou o tempo. 
Ainda bem que fiz este "click". Foi o meu dia de folga, trabalhava como monitor na Colónia do jornal O Século, em São Pedro do Estoril, e nessa tarde atravessei o Mar da Palha num dos ferries da carreira do Montijo para passar perto do PRÍNCIPE PERFEITO, que também fotografei a cores, fundeado. Olho mais uma vez para a imagem e sinto os cheiros e a música de ruídos de operação portuária, com a descarga da bagagem dos passageiros do IDH, os caixotes que eram então carga de porão e verdadeiros "salvados" de vidas interrompidas em Angola. O cheiro era o perfume do fumo discreto do INFANTE, a nafta queimada pelas caldeiras que alimentavam as turbinas a vapor.  
Fotografia original de Luís Miguel Correia.
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