Friday, February 09, 2007

SANTOS: o CAIS DA INSULANA

Último espaço portuária a ser desmaritimizado pela Administração do Porto de Lisboa, com a transferência do terminal da TRANSINSULAR para Santa Apolónia e posterior concessão do respectivo terrapleno para actividades lúdicas, o cais de Santos é hoje um cais morto.
Aspecto bem diferente apresentava Santos na década de sessenta, como mostra a imagem, reproduzida a partir de um postal ilustrado de Lisboa.
Santos estava então dividido em três sectores.
O cais nascente, conhecido como cais do Gás por durante muitos anos aí se descarregar combustível para a antiga fábrica de gás de São Paulo, era utilizado regularmente pelo navio de carga CORVO (II), da Mutualista Açoreana, que fazia viagens quinzenais Lisboa - Ponta Delgada, e se vê na imagem atracado com batelões ao costado.
A zona central era conhecida como cais da Empresa Insulana de Navegação, onde habitualmente atracavam os paquetes LIMA (que se vê na foto) e CARVALHO ARAÚJO, além de unidades mais pequenas, como os cargueiros TERCEIRENSE, MADALENA ou GORGULHO, e os paquetes CEDROS e PONTA DELGADA, nas suas vindas ao Continente para reparações e docagem. O FUNCHAL chegou a atracar em Santos diversas vezes também. A EIN tinha armazém próprio e este caís privativo era fechado.
A secção oeste do cais e respectivo travessão era conhecida como Entreposto de Santos e servia essencialmente a navegação estrangeira com carreiras para o Norte da Europa, havendo sempre navios costeiros atracados, com destaque para cargueiros holandeses e alemães.
Com a criação da CTM o cais de Santos passou a ser o terminal de carga para as Ilhas desta empresa, e quando em 1985 a TRANSINSULAR lhe sucedeu, Santos manteve a mesma funcionalidade.
Esta fotografia foi tirada a partir de um dos pontões então usados para apoio das embarcações de pesca que aí descarregavam o peixe, que seguia para a lota do Caís do Sodré. Esta actividade foi transferida para a última doca a ser construída no porto de Lisboa, em 1966, a Docapesca, em Algés.
Em termos técnico o problema do cais de Santos reside na tendência para o assoreamento do cais e bacia de manobra, exigindo dragagens regulares e dispendiosas. Durante muitos anos Lisboa dispunha de material de dragagem diverso, desde dragas a batelões de descarga, uns propriedade da AGPL outros da Direcção Geral de Portos, que depois deu origem à empresa Dragapor. Na época não se concebia a existência de portos -os chamados portos principais, com destaque para Lisboa- sem que estes estivessem apetrechados com meios de dragagem próprios. Havia também rebocadores e guindastes flutuantes - as cábreas - detidas e operadas pela AGPL.
Com os desinvestimentos sistemáticos efectuados no porto de Lisboa na área dos equipamentos marítimos, deixaram de haver meios de dragagem próprios, primeiro passo para se deixar de dragar determinados cais. Quanto a Santos, é pena que não se tenha encontrado uma utilização alternativa para este caís, que com pequenos melhoramentos e infraestruturas podia ser utilizado por navios de cruzeiros de pequena e média dimensão, ajudando a revitalizar a zona e diminuindo a pressão de falta de caís nos terminais de Alcântara, Rocha e Santa Apolónia nos períodos de maior afluência de navios, em Maio e Setembro.
Imagem da colecção LMC - Texto de Luís Miguel Correia - 9 Fevereiro 2007

5 comments:

  1. E que tal procurarmos o contrato de concessão? Juridicamente, deverá estar publicado em Diário da República. Mas se for como o contrato de concessão da prospecção e exploração de petróleo no Algarve, não estará publicado e terá de ser pedido à tutela (com a probabilidade mínima de obtermos resposta).

    Porém, confia-se que a Estrutura de Missão para os Assuntos do Mar consiga ser uma voz forte nesta questão...

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  2. Sailor Girl,
    Estes desencontros marítimo-portuários que têm caracterizado Lisboa nas últimas décadas resultam essencialmente de falta de políticas bem definidas e consequentes para o Mar, os Portos, etc... Não tem havido estabilidade no sector, com as administrações portuárias a serem nomeadas muitas vezes segundo critérios que pouco terão a ver com os seus conhecimentos do sector, e mais por identificações políticas e pessoais várias...

    LMC

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  3. O Cais de Santos era muito animado... mas agora é um espaço muito desejado, a CML concerteza que teria outras ideias de utilização para aquela zona.
    De certeza que ainda vão propôr outro mamaracho para Santos, como o que queriam em Alcântara.

    Paulo Mestre

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  4. Até se poderia transferir a Marítimo-turística e náutica de recreio de modo a deixar a doca de Alcântara novamente para a marinha mercante.
    Agora que se fala tanto em barcaças fluviais para o transporte de contentores rio acima, (nada de novo noutros paísas). Já que agora é um cais para restaurantes e discotecas, complete-se o lúdico.

    Rafael

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  5. O Rafael Silva ouviu a conferencia?? Pode ser que se vá a algum lado, assim.

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