O Meu Amigo Luís Filipe Jardim publicou no blogue CRUZEIROS NA MADEIRA este texto, tão oportuno como sentido acerca da desistência da armadora canarina NAVIERA ARMAS de continuar a ligar o Funchal a Portimão com os seus modernos ferries de passageiros e carga:
"Obrigado Naviera Armas por estes anos de ligações ferry. Obrigado pela oportunidade dada aos madeirenses na Madeira, e aos madeirenses no continente de poderem viajar de e para a sua terra natal sem ser apenas de avião. Obrigado por nos teres dado navios modernos e operações adequadas aos tempos. Obrigado Armas, obrigado Canárias, obrigado Espanha. Infelizmente, não posso agradecer a um armador português, à minha ilha ou ao meu país. Portugal parou no tempo, também no sector dos transportes marítimos. Parou ou regrediu. Em 2008, a Armas oferecia à região e a Portugal o primeiro e único serviço ferry, passados 30 anos do fim das ligações marítimas de passageiros entre a Madeira e Lisboa. Portugal andou para trás no que o tornou na grande Nação que foi, o MAR! Infelizmente, tristemente, nem mesmo com mar à porta se sabemos aproveitar essa oportunidade natural. Nem saber receber quem nos dava a oportunidade de sermos menos "ilhéus", leia-se, menos isolados.
A marinha mercante portuguesa, ou transportes marítimos, vive hoje apenas das carreiras da Madeira e dos Açores e algumas ligações para os arquipélagos africanos. A bandeira portuguesa flutua pelo mundo fora, sobretudo, ou exclusivamente, graças ao registo internacional de navios da Madeira. Que bem haja, sempre. De resto é ver a bandeira e o registo português em alguns porta-contentores. A evolução do transporte marítimo de carga convencional ficou-se por essas unidades que carregam caixas multi-colores. Nos anos 70, CTM e CNN, extintas na década seguinte para dar lugar à Transinsular e à Portline, respectivamente, passaram dos navios de carga geral para os porta-contentores e ficaram-se por aí. A experiência de navios roll on/roll off reduziu-se a um pouco sucedido Cidade de Funchal. Vá lá que recebeu o nome da capital madeirense... mas pouco tempo foi utilizado numa operação que morreu quase à nascença. Os armadores não quiseram saber de navios ferry no transporte de cargas rolantes, automóveis e passageiros, ao contrário da vizinha Espanha e dessa Europa fora. Madeira e Açores são as únicas ilhas dessa Europa apegada ao controle orçamental onde os seus cidadãos apenas podem viajar para o continente de avião. E ninguém em Portugal quis saber destas operações ferry que não são mais do que um prolongamento de uma auto-estrada. As auto-estradas marítimas das ilhas. Uma operação ferry é um serviço rápido para passageiros, automoveis e mercadorias. Um serviço limpo, verde, amigo do ambiente. Com poucas intervenções de trabalho portuário, rápido, de fácil acesso até ao destino final de pessoas e bens. Durante a operação da Armas, tivemos oportunidade de conhecer o que é esse serviço, tal como já tinhamos visto com os ferries da Porto Santo Line. A opção ferry deve voltar a bem da Madeira, a bem de um Portugal que deve voltar ao mar com uma nova estratégia. Os tempos da tradicional estiva acabaram. Os tempos da exclusividade dos contentores têm de acabar. Infelizmente, volto a ter vergonha de ter de dizer a europeus que querem visitar a Madeira que não podem chegar ao Funchal com o seu próprio carro. Infelizmente, perdemos a primeira e única linha ferry do Funchal para o continente. Por um conjunto de razões que o tempo dirá. Obrigado Armas. Que não sejam necessários mais 30 anos à espera de um navio de passageiros para o continente!"
Luís Filipe Jardim é um jovem jornalista muito dedicado aos assuntos do mar. Fundador do Clube de Entusiasta de Navios, e seu primeiro Presidente, o Luís Filipe integra há anos os quadros da RTP e foi pioneiro em Portugal na realização dos primeiros programas televisivos sobre a temática dos cruzeiros e navios de passageiros. É actualmente Director da revista CRUZEIROS.
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4 comments:
Caro Luís Filipe,
É com muita tristeza que leio o teu comentário ao encerramento desta carreira regular assegurada pela Naviera Armas desde 2008.
É um retrocesso para a Madeira e para todos os que gostariam de contar com uma ligação marítima moderna e eficiente com o Funchal.
É mais um capitulo triste da DESMARITIMIZAÇÃO, um drama português estúpido e inconcebível que se arrasta desde o último quartel do século XX em Portugal e que já levou à perda de 50.000 postos de trabalho em Portugal e à redução da frota portuguesa em 80%
Mais que isso, é um monumento a tudo o que de negativo levou Portugal ao beco de difícil saída que caracteriza o momento económico e politico actual.
E não haja dúvidas, ou o sistema muda de forma radical nos próximos tempos, ou Portugal acaba de vez por falta de viabilidade. Já estamos a viver em regime de protectorado de facto governados por instâncias internacionais...
O facto de não dispormos de uma Marinha de Comércio compatível com a nossa dimensão económica e com as nossas necessidades custa em fretes pagos anualmente ao estrangeiro mais de 500 milhões de euros, dinheiro que não temos.
Caro Luís Miguel,
obrigado pelo post e pelo comentário. Esta é uma causa que deveria de ser de todos nós, ilhéus ou não. Infelizemente, o ilhéu que conttribuiu para este serviço foi espanhol e não português. Mas sabemos o estado a que chegou a nossa marinha de comércio. Portugal precisa de CAUSAS. Que melhor dessas causas do que o MAR! A nova estratégia para o país pode recomeçar por aqui. Novas ligações marítimas; novo tipo de unidades; renovação dos portos portugueses; construção naval. TUDO ISTO E MUITO MAIS e com a garantia do PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE TERRITORIAL. Com as ilhas, com a experiência e as culturas desta parte de Portugal. Bem haja também pelas tuas CAUSAS MARÍTIMAS.
Se alguém tinha dúvidas de que estamos a caminhar para o "fim", penso que agora já ninguém as terá. Começo a pensar se há anos atrás os meus pais terão feito bem em decidir viver numa ilha quando estavam em aberto outras opções (certas coisas decidem-se antes dos filhos nascerem e se adaptarem a uma terra... não depois!). É que parece que em alturas de "fim" a corda rebenta sempre por dois lados: O lado de quem vive em ilhas (com custos acrescidos inerentes) e o lado de quem é da classe média ou das classes menos favorecidas. Se a pessoa tiver o azar de reunir estes dois preceitos então está feito ao bife. Depois há outro problema: Nem toda a gente tem veia de emigrante ou tem saúde e idade para tal. Os Maias tinham razão, o mundo acaba mesmo este ano... Pelo menos para muita gente.
Isto está tudo errado, como bem sabemos.
Segundo ouvi dizer a Armas exigiu uma serie de contrapartidas. Nomeadamente o fim das taxas portuárias. Será que foi assim? Se si, será que não se podia ter reduzido o valor dessas mesmas taxas?
Mais uma vez o povo tem o que merece, pois continua-se a idolatrar o AJJ.
Os nossos governos são os mais culpados pelo facto de não existirem carreiras mistas de e para as Ilhas.
Agora e para terminar não concordo com uma das frases no texto. Mais carros para a ilha?? Onde está a defesa do que é nosso?
O dizer aos outros Europeus que não podem trazer os seus carros para a ilha parece-me conversa 3º mundista.
De acordo com tudo o resto!
Abraço
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