O Governo anunciou ontem, 17 de Janeiro de 2008, a decisão de se entregar às Autarquias os terrenos actualmente sob jurisdição das Administrações Portuárias que não estejam afectos directamente à actividade portuária.
Esta importante medida de desmaritimização resulta ao que tudo indica de uma luta política que se verifica desde há algum tempo em torno de sectores da Sociedade Civil pouco familiarizados com as actividades do Mar, que sonharão talvez com o ajardinamento das margens do Tejo. Serão incentivados discretamente por um poderoso "lobby" civil mas da construção, que muito teria a ganhar com o referido ajardinamento mas em betão, que coisas de botânica não contribuem para o crescimento do PIB....
Desde há algumas décadas Portugal tem vindo a sofrer um processo de desmaritimização gradual mas efectivo, com o quase desaparecimento da Marinha Mercante, Comércio e Pesca, da Indústria Naval, muito reduzida no que toca à construção e igualmente diminuída na capacidade de reparação, e a falta de políticas portuárias complementares de uma estratégia portuária nacional efectiva. Vive-se uma fase da nossa história em que cada vez mais o Mar acaba na praia. Apesar de discursos oficiais diversos acerca das virtudes marítimas no futuro, nada se tem feito de efectivo, e é triste verificar-se a cedência a interesses manifestamente contrários ao Mar neste caso Municípios - Portos. Sendo notória a tradição de ineficiência suspeita que caracteriza a vida autárquica, grande responsável pelo caos de ordenamento do território, e profundo desequilíbrio urbano, a medida agora anunciada não augura nada de bom. Esperemos que esta disposição governamental não seja para cumprir na prática, como tantas vezes acontece entre nós. Ou então que quem de direito assuma o Mar Tenebroso e se acabem as quimeras marinheiras em Portugal...
Texto e fotografia de Luís Miguel Correia - Copyright