A propósito dos 50 anos de existência da companhia PRINCESS, escrevi recentemente um artigo para a revista CRUZEIROS nº 16, que se encontra em distribuição nos postos de venda habituais, do qual deixo um pequeno excerto:
O nome da PRINCESS CRUISES e a sucessão de princesas flutuantes por que se traduz a frota da companhia foram inspirados neste pequeno vapor da Canadian Pacific, o PRINCESS PATRICIA
A Princess Cruises operou o seu primeiro cruzeiro há 50 anos, contando meio século de vida num sector com cada vez mais notoriedade e adeptos para cujo sucesso deu um grande contributo, inventando os "Barcos do Amor".
A década de 1960 assistiu a mudanças profundas no mar. As cargas passaram a ser transportadas cada vez mais por unidades especializadas de todos os tipos possíveis e imaginários, desde navios-tanques preparados para o transporte de vinhos ou sumo de laranja, até a transportadores de caixas metálicas coloridas uniformizadas, a que hoje chamamos contentores, e a paquetes concebidos de raiz para abrir os oceanos ao turismo de massas, democratizando os cruzeiros, até aí feudo de uns tantos privilegiados.
Há 50 anos ainda se construiam na Europa grandes navios de passageiros para carreiras regulares, caso da Itália, com uma derradeira geração de transatlânticos, OCEANIC, MICHELANGELO, RAFFAELLO, EUGENIO C, e do Reino Unido, com a aposta no QUEEN ELIZABETH 2, mas o volume de passageiros descia irreversívelmente, empurrando algumas das maiores frotas de então para uma extinção rápida, enquanto outras viram nos cruzeiros o único futuro possível. Nesse contexto, o OCEANIC de 1965 nunca chegou a ser utilizado no Atlântico Norte apesar de projectado para a linha Norte da Europa – Canadá e tornou-se um êxito imediato em Nova Iorque com cruzeiros regulares à Bahamas e Caraíbas, enquanto a Cunard concebia o célebre QE2 como paquete de linha e ao mesmo tempo navio de cruzeiros, aposta em que muitos duvidaram nos primeiros anos, mas que provou ter sido a escolha acertada.
Constituída em 1964 na costa Oeste dos Estados Unidos por Stanley B. MacDonald, a Princess Cruises iniciou a actividade no final de 1965 e está a comemorar os primeiros 50 anos como uma das grandes companhias de cruzeiros internacionais, integrada no Grupo Carnival, onde tem um peso de 19 por cento, com uma frota de 18 navios que em 2014 transportaram cerca de 1,5 milhões de passageiros por todo o mundo.
O começo foi modesto mas criativo, inventando-se literalmente a Riviera Mexicana, com o afretamento à Canadian Pacific do vapor PRINCESS PATRICIA, que saiu de Los Angeles a 3 de Dezembro de 1965 para o México, data que marcou o arranque dos cruzeiros regulares na costa oeste dos EUA e de uma pequena companhia que adoptou o nome desse ferry construído em 1949, e convertido para cruzeiros ao Alaska em 1963, com 6 062 toneladas de arqueação bruta e lotação para 390 passageiros, apresentando-se como Princess Cruises.
Stanley MacDonald nasceu em Alberta, Canadá, em 1920 e a ideia de criar uma empresa de cruzeiros alinhavou-se com a primeira experiência profissional que teve com navios de passageiros, em 1962, quando da 21ª. Feira Mundial, em Seattle, ligada ao afretamento do paquete YARMOUTH, que então veio das Caraíbas e fez diversos cruzeiros de 10 dias de São Francisco a Seattle e Victoria essencialmente para os passageiros visitarem a EXPO.
O YARMOUTH era um navio de passageiros costeiro construído em 1927 em Filadélfia, no famoso estaleiro William Cramp & Sons, com o seu gémeo EVANGELINE, para a carreira Boston – Yarmouth. Tinha 5 043 toneladas de arqueação bruta e capacidade para 751 passageiros. Serviu como transporte de tropas durante a segunda guerra mundial, de 1942 a 1946, e no ano seguinte regressou aos serviços de passageiros na costa leste dos EUA, actividade então em rápido declínio. Foi depois um dos pioneiros dos cruzeiros às Caraíbas a partir da Florida, após ser vendido em 1954 e baseado em Miami, operando até Abril de 1966.
Mais moderno que o YARMOUTH, o PRINCESS PATRICIA apresentava características semelhantes e havia sido adaptado no início de 1963 pela Canadian Pacific para cruzeiros sazonais ao Alasca, de Maio a Setembro, quando a lotação para passageiros foi reduzida a cerca de 400. Comparado com as condições oferecidas pelos navios actuais, o nível destes pequenos vapores costeiros era inimaginável, mas era o que havia então e ninguém se queixava. A própria invenção pela Princess Cruises de um itinerário de Los Angeles aos portos de Mazatlan, Puerto Vallarta Cabo San Lucas e Acapulco, no México, teve pormenores muito curiosos, dado que na maior parte das escalas não existiam quaisquer infraestruturas de apoio ao embarque e desembarque de passageiros e foi necessário recorrer a todo o tipo de expedientes, como afundar um batelão junto à praia para servir de pontão para onde os turistas podessem saltar em Cabo San Lucas. O que é certo é que os cruzeiros do PRINCESS PATRICIA foram um sucesso e o programa foi repetido em 1966-67 com o mesmo navio.
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