"(...)
devotado pesquisador – Maurício de Oliveira - distinto jornalista
e escritor sobre assuntos de marinha, que o nosso meio naval bem
conhece. A sua simpatia por tudo quanto com o mar se relaciona e,
designadamente, com a actividade das nossas marinhas de guerra e
mercante ou de recreio, há muito se tem evidenciado, quer pela sua
acção pessoal, mais directa, quer pela sua intervenção na
imprensa diária e mais tarde, em revistas da especialidade."
Vice-Almirante
Luís de Magalhães Correia
in
prefácio do livro Duas Naus e Um Cruzador, de Maurício de Oliveira,
Maio de 1945
Há
exactamente 75 anos, a 31 de Janeiro de 1937, saiu o primeiro número
da Revista de Marinha, uma publicação que tinha como Director
Maurício de Oliveira, um jornalista cheio de entusiasmo pelos
assuntos do mar, então com 27 anos.
Maurício
Carlos Paiva de Oliveira nasceu em Abrantes a 20 de Outubro de 1909.
Em 1926, concluído o curso secundário no Liceu Camões, iniciou uma
carreira brilhante de jornalista no "Rebate", transitando
em 1929 para o "Diário de Lisboa." Em paralelo, foi
colaborador próximo do armador Bernardino Alves Corrêa, para quem
começou a trabalhar em 1928 na Sociedade Agrícola da Ganda,
transitando alguns anos mais tarde para a Companhia Colonial de
Navegação, por cuja imagem foi responsável ao longo de várias
décadas. Foi igualmente gerente da Pescal, a empresa de pesca do
bacalhau criada por Bernardino Corrêa a seguir à segunda grande
guerra.
Desde
o começo da actividade jornalistica que deu especial atenção aos
assuntos de marinha, lutando contra o "zero naval" dos anos
vinte, desdobrando-se em actos de divulgação e propaganda no
sentido do regresso de Portugal ao mar. Organizou exposições e
debates, escreveu centenas de artigos e foi autor de 35 livros sobre
a temática naval, alguns dos quais registaram diversas edições,
inclusivé em linguas castelhana e inglesa.
A
partir de 1937 a Revista de Marinha mereceu sempre o seu mais
entusiástico empenho. De início edição e propriedade da Parceria
António Maria Pereira, a revista passou a pertencer em 1942 à
Editora Marítimo-Colonial, firma ligada a Bernardino Corrêa, que
promoveu a publicação de um segundo título mensal, o Jornal da
Marinha Mercante, iniciado em 1942 e que 29 anos mais tarde se fundiu
com a Revista de Marinha, em 1971.
Entretanto
a carreira de jornalista prosseguiu na imprensa diária: em 1967
Maurício de Oliveira foi um dos fundadores do jornal "A
Capital", deixando para o efeito o "Diário de Lisboa".
Em 1971 assumiu a Direcção do Jornal do Comércio, cuja empresa
proprietária, ligada ao Grupo Borges, comprou a Revista de Marinha.
Iniciou então a renovação do mais importante diário económico
português, mas pouco tempo se manteve no Jornal do Comércio, pois
veio a falecer inesperadamente em Agosto de 1972, com 62 anos.
O
Diário de Notícias publicou então um extenso artigo dedicado a
Maurício de Oliveira, referindo-se-lhe como "o jornalista que
em Portugal mais amou e melhor serviu a Marinha." Por sua vez o
"Diário de Lisboa" enalteceu "a sua natural tendência
para os assuntos marítimos, tendo trabalhado bastante em prol do
prestígio da Marinha.
Ao
longo da carreira jornalistica assinou grandes reportagens,
nomeadamente quando em 1932 acompanhou o Ministro das Colónias,
Armindo Monteiro, a África, ou no ano seguinte quando fez a
reportagem da inauguração do paquete italiano OCEANIA, no
Mediterrâneo. Assistiu à cerimónia da coroação do rei Jorge VI
embarcado no aviso BARTOLOMEU DIAS. Repetiram-se as reportagens com o
andar dos anos. Notabilizou-se igualmente em entrevistas a figuras
políticas nacionais e estrangeiras, apresentando as suas conversas
de forma original.
Homem
de cultura e fino trato, Maurício de Oliveira grangeou inúmeras
amizados nos meios naval e marítimo, tendo-lhe sido atribuídas
numerosas condecorações nacionais e estrangeiras, desde a Legião
de Honra (França), à comenda da Ordem Militar de Cristo, ou à
medalha naval Vasco da Gama.
Por
sugestão do Presidente da República a Empresa Insulana de Navegação
atribuiu o nome MAURÍCIO DE OLIVEIRA a um porta-contentores
adquirido então para a carreira de Nova Iorque, que assegurou até
1985, quando foi vendido na sequência da liquidação da companhia
armadora. A Câmara Municipal de Lisboa, de que era Presidente o
Engenheiro Santos e Castro, prestou igualmente homenagem a Maurício
de Oliveira, atribuindo o seu nome a uma praça em Benfica.
Para
além destas distinções e homenagens, a sua obra teve continuidade
com a manutenção da publicação da Revista de Marinha, dirigida,
de 1976 a 2008 pelo Cte. Gabriel Lobo Fialho e desde a última data
referida, pelo Vice-Almirante Alexandre da Fonseca, que actualmente
dirige a revista com sucesso crescente.
Há
75 anos, na nota de abertura do nº 1 da RM, o Ministro da Marinha
Manuel Ortins de Bettencourt destacou a missão a cumprir escrevendo:
"parece adormecida a nossa vocação marinheira; se esta Revista
contribuir para a despertar, terá cumprido a sua missão e servido a
Pátria." A missão foi-se renovando ao longo de todos estes
anos, e continua a cumprir-se. É este talvez o mais nobre legado de
Maurício de Oliveira.
Tive
o privilégio de descobrir Maurício de Oliveira em 1970, quando da
publicação do livro "Os Submarinos na Marinha Portuguesa",
que comprei e cujo conteúdo devorei. Descobri de seguida a Revista
de Marinha e o Jornal da Marinha Mercante, e, com 14 anos passei a ir
comprar as revistas directamente ao escritório da rua do Comércio
8, onde ia adquirindo também os números atrasados com o resultado
da poupança do bilhete do autocarro de e para o Liceu, fazendo o
percurso a pé. Numa dessas idas à Editora Maritimo-Colonial fui
apresentado a Maurício de Oliveira. Mal sabia eu que alguns anos
depois, a partir de 1980, passaria a colaborador regular da Revista
de Marinha.
Legendas
das imagens: Maurício
de Oliveira homenageado pela Administração da Colonial, recebe uma
medalha no dia do 46º. Aniversário da fundação da companhia, a 3
de Julho de 1968, a bordo do paquete IMPÉRIO; Capa
do livro Duas Naus e Um Cruzador, publicado em 1945 com prefácio do
Almirante Magalhães Correia
Texto concebido especialmente para a edição do 75º aniversário da REVISTA DE MARINHA - Janeiro de 2012. Texto e imagens /Text and images copyright L.M.Correia. Favor não piratear. Respeite o meu trabalho / No piracy, please. For other posts and images, check our archive at the right column of the main page. Click on the photos to see them enlarged. Thanks for your visit and comments. Luís Miguel Correia
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