Friday, August 02, 2019

Sociedade Geral constituída há 100 anos

Sociedade Geral de Comércio, Indústria e Transportes foi constituída há 100 anos, em Julho de 1919, por iniciativa de Alfredo da Silva, cujo dinamismo permitiu a criação e desenvolvimento da que seria por muito tempo a mais importante empresa de navegação portuguesa, detentora da maior frota. A SG comemorou os 50 anoso em 1969 mas pouco mais durou, dado que foi integrada na Companhia Nacional de Navegação a 1 de Janeiro de 1972, transitando a frota para a CNN.

Aúncios de saídas de navios da Sociedade Geral de Comércio, Indústria e Transportes relativas a Julho e Agosto de 1955.

Estes anúncios apenas referem as linhas regulares que nesta fase da vida da SG não eram muitas: antes de mais, a carreira de Cabo Verde e Guiné, com saídas regulares quinzenais de Lisboa, com os navios de passageiros e carga ALFREDO DA SILVA e ANA MAFALDA, com largadas do Tejo todos os dias 10 e 25 de cada mês. Estas viagens eram complementadas por outras com navios de carga sempre que as necessidades de transporte o tornavam necessário.

A linha Metrópole - Angola ocupava na época o paquete RITA MARIA e os cargueiros mistos AMBRIZETE e ANDULO, unidades da classe "A" com aparelho de carga mais desenvolvido que os outros quatros "As", destinados ao "tramping" ou se preferirmos o termo português, a fretamentos internacionais.

A terceira carreira, inaugurada em 1954 com o MANUEL ALFREDO, era a carreira Norte da Europa - Matadi - Angola, que então dava ocupação normalmente aos navios da classe "B", com "As" de permeio...

Na época (anos cinquenta) a Sociedade Geral queria adquirir um navio de passageiros de maior tonelagem para a carreira de Angola por forma a substituir o RITA MARIA, mais pequeno e lento que os paquetes NIASSA, UIGE e QUANZA, que faziam  a carreira.
Esta pretensão da Sociedade Geral não teve o acolhimento do Ministro da Marinha, Américo Tomás, e entretanto a CUF foi comprando as acções da Companhia Nacional de Navegação, também a contragosto do Ministro e do Governo.

Foi a capacidade financeira da CUF que permitiu, em 1956 avançar-se com o projecto e depois a encomenda do paquete PRÍNCIPE PERFEITO para a CNN. Apesar dos interesses na Nacional, a CUF não desistiu de vir a ter uma presença mais digna no transporte de passageiros para Angola e em 1959-61 ampliou e modernizou o RITA MARIA que foi alongado e teve os motores Polar substituídos por Sulzer e, mais tarde, em 1966, comprou o paquete ZION, que passou a ser o AMÉLIA DE MELLO.

A Sociedade Geral era nesta época a empresa de navegação portuguesa com maior frota em termos de navios.
Fazendo parte do Grupo CUF, a Sociedade Geral havia sido constituída em 1919 por Alfredo da Silva para servir de "holding" ao Grupo.

Acabou por receber os serviços marítimos da Companhia União Fabril, que detinha uma pequena frota fluvial e costeira, com destaque para o navio a vapor LISBOA, e na década de 1920 a frota desenvolveu-se, primeiro com a aquisição de algumas unidades no estrangeiro e depois com a compra de grandes cargueiros aos Transportes Marítimos do Estado.

Mais tarde a Sociedade Geral começou a construir navios de carga nos estaleiros da CUF, primeiro no Barreiro e depois na Rocha do Conde de Óbidos, e a seguir à segunda guerra mundial encomendou 10 cargueiros em Inglaterra e mais 4 no Canadá.

Todos os navios apresentados nos anúncios de saídas que aqui reproduzimos eram novos na altura.

Em Lisboa a Sociedade Geral tinha cais privativo e armazéns na Doca e Alcântara, e o seu edifício é utilizado hoje pelo IPTM e organismo sucedâneo...

Em 1971 a frota da Sociedade Geral foi vendida à Companhia Nacional de Navegação, que entretanto passara a fazer parte também do grupo de empresas da CUF.

A Sociedade Geral foi ainda sócia fundadora da SOPONATA, em 1947, e mais tarde de diversas outras empresas de navegação associadas, como a Transfrio ou a Suprema Naviera, do Panamá. Enfim, uma grande empresa que conheci bem, fez muita falta e custa a aceitar que tenha sido destruída com a voragem de maluqueiras e crimes económicos cometidos no PREC e governos posteriores que tanto se têm empenhado na desmaritimização... E estamos a pagar a factura.

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