Thursday, November 25, 2021

Recordando o SANTA MARIA

Navios Portugueses

n/t SANTA MARIA de 1953

por Luís Miguel Correia

O antigo navio de passageiros SANTA MARIA, que navegou com as cores da Companhia Colonial de Navegação (CCN), de 1953 a 1973, foi um dos mais importantes navios portugueses do século XX.

Construído na Bélgica, em 1951-53, especialmente para fazer a carreira regular Europa – América do Sul, a par com o seu irmão gémeo VERA CRUZ (1952-1973), o SANTA MARIA foi um navio muito prestigiado, embora a fama atual se tenha ficado a dever muito mais ao incidente político ocorrido em 1961, e conhecido como o "assalto ao SANTA MARIA", do que às caraterísticas e serviços associados a este grande paquete português.

Ao contrário do que é voz corrente, a existência do SANTA MARIA não resultou do famoso programa de renovação da frota mercante nacional após a segunda guerra mundial, conhecido como "Despacho 100", tendo sido construído, por iniciativa independente da CCN, para consolidação da linha da América do Sul. Este serviço tinha sido iniciado em 1940, pela Colonial, como linha do Brasil, ligando Lisboa e Funchal ao Rio de Janeiro e Santos, com escalas em São Vicente de Cabo Verde, Recife e São Salvador, nela se tendo destacado o paquete SERPA PINTO, conhecido como o “Navio da Saudade” nos portos brasileiros.

O SERPA PINTO fora comprado em 1940 à Jugoslávia e era o antigo navio de passageiros inglês EBRO, construído em 1915 para a Mala Real Inglesa. Foi uma compra especialmente oportuna, com a guerra a alastrar rapidamente, e serviu a marinha mercante portuguesa até 1955.

Em 1953, o SANTA MARIA era o orgulho da indústria naval da Bélgica, tendo sido visitado pelo rei Balduino I, no estaleiro Cockerill, antes de ser entregue oficialmente à Companhia Colonial, a 20 de Outubro de 1953.

O navio havia sido encomendado em Abril de 1951 à Société Anonyme John Cockerill. Foi construído em Hoboken, Antuérpia. A quilha foi assente a 2 de Junho de 1951, minutos depois de o VERA CRUZ ser lançado à água. A 20 de Setembro de 1952 o SANTA MARIA foi lançado à água pelas 17h30; o cónego Moreira das Neves abençoou o navio, do qual foi madrinha Dª. Maria Amália Costa Leite (Lumbrales), mulher do ministro da Presidência.

O SANTA MARIA subiu o Tejo pela primeira vez a 25 de Outubro de 1953, comandado por Mário Simões da Maia. O navio foi visitado pelo ministro da Marinha à chegada a Lisboa, e pelo presidente da República, Craveiro Lopes, a 10 de Novembro, dois dias antes da largada na viagem inaugural, para Funchal, Salvador, Rio de Janeiro, Santos, Montevideu e Buenos Aires, transportando o ministro Américo Tomás em visita oficial ao Brasil, Uruguai e Argentina.

A 22 de Janeiro de 1961 o SANTA MARIA foi assaltado no mar, por 24 indivíduos portugueses e espanhóis, embarcados em La Guaira e Curaçau, dirigidos por Henrique Galvão e Jorge Sottomaior. O navio passou a notícia de destaque nos jornais de todo o mundo e acabou por arribar ao Recife a 2 de Fevereiro, e ser devolvido à CCN a 5, tendo regressado a Lisboa a 16 de Fevereiro. O assalto causou à CCN 16 mil contos de prejuízos, a vida do 3.º piloto João José do Nascimento Costa e a saúde depauperada do piloto João Lopes de Sousa, que ficou conhecido por "Sousa dos tiros".

Durante os seus 19 anos de navegações, o SANTA MARIA completou 192 viagens, das quais 14 à América do Sul, 176 à América Central, 1 a Angola, e 1 para a ilha Formosa, com passagem por Angola e Moçambique, na viagem de entrega para ser desmantelado. Fez também 11 cruzeiros, à Madeira, Mediterrâneo, Norte da Europa e nas Caraíbas. Transportou 373.372 passageiros e 57.008 toneladas de carga, tendo gerado 1.895.932 contos em passagens e 98.733 contos em fretes.

O SANTA MARIA era um belíssimo navio de passageiros, moderno e bem adaptado às necessidades da carreira do Brasil na década de 1950. Em paralelo com os 800 emigrantes na terceira, a primeira classe transportava 156 passageiros em instalações de luxo, havendo ainda a bordo a segunda classe, com alojamentos confortáveis para 232 passageiros. Com a arqueação bruta de 20.906 toneladas Moorson, 185 m de comprimento máximo e 23 m de boca, o SANTA MARIA estava equipado com turbinas a vapor, com 20.000 cavalos SHP, navegando a 20 nós, para o que consumia 140 toneladas de nafta por dia. Custo: 692 milhões de Francos Belgas, cerca de 511.236.000$00. Podia ter sido modernizado e adaptado para cruzeiros, mas tal não aconteceu.

(Artigo publicado originalmente no jornal O ILHAVENSE, em 2021. Fotografia do SANTA MARIA a navegar no rio Escalda, rumo a Antuérpia após provas de mar, em Outubro de 1953.)

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Thursday, November 04, 2021

Paquete FUNCHAL: viagem inaugural há 60 anos






Há 60 anos, a 4 de Novembro de 1961, o novíssimo paquete a turbinas português FUNCHAL saiu de Lisboa na viagem inaugural, com destino ao Funchal, Ponta Delgada, Horta e Angra do Heroísmo, dando início a uma carreira que, na altura, ninguém imaginava, seria tão bem sucedida e longa.
Encomendado em Agosto de 1959 ao estaleiro Elsinore pela Empresa Insulana de Navegação, o FUNCHAL, de 10.030 TAB e capacidade para 400 passageiros, foi o último navio de passageiros projetado de raiz para a carreira Lisboa - Madeira - Açores, um serviço público iniciado pela Insulana em 1871, e que seria abandonado em Outubro de 1975. Construído em Elsinore, Dinamarca, foi entregue a 12 de Outbro de 1961 e chegou ao Tejo a 19 de Outubro desse ano.
O FUNCHAL fez essencialmente o serviço das ilhas até Agosto de 1972, e depois foi adaptado para cruzeiros e equipado com motores diesel, muito económicos, tendo operado no mercado de cruzeiros internacionais até 2015. Hoje pertence a um grupo de investidores/salvadores dos Estados Unidos da América, que o adquiriram a interesses ingleses em Janeiro deste ano, e está sofrer reparações em Lisboa, embora o seu futuro esteja em equação.
O paquete FUNCHAL é o último sobrevivente da frota da Marinha Mercante portuguesa do período após a segunda guerra mundial, em que registou um crescimento significativo. Infelizmente, a década de 1970 trouxe uma inversão de políticas, levando à actual Desmaritimização.
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