Wednesday, February 01, 2012

MAURÍCIO DE OLIVEIRA E A REVISTA DE MARINHA


"(...) devotado pesquisador – Maurício de Oliveira - distinto jornalista e escritor sobre assuntos de marinha, que o nosso meio naval bem conhece. A sua simpatia por tudo quanto com o mar se relaciona e, designadamente, com a actividade das nossas marinhas de guerra e mercante ou de recreio, há muito se tem evidenciado, quer pela sua acção pessoal, mais directa, quer pela sua intervenção na imprensa diária e mais tarde, em revistas da especialidade."
Vice-Almirante Luís de Magalhães Correia
in prefácio do livro Duas Naus e Um Cruzador, de Maurício de Oliveira, Maio de 1945

Há exactamente 75 anos, a 31 de Janeiro de 1937, saiu o primeiro número da Revista de Marinha, uma publicação que tinha como Director Maurício de Oliveira, um jornalista cheio de entusiasmo pelos assuntos do mar, então com 27 anos.
Maurício Carlos Paiva de Oliveira nasceu em Abrantes a 20 de Outubro de 1909. Em 1926, concluído o curso secundário no Liceu Camões, iniciou uma carreira brilhante de jornalista no "Rebate", transitando em 1929 para o "Diário de Lisboa." Em paralelo, foi colaborador próximo do armador Bernardino Alves Corrêa, para quem começou a trabalhar em 1928 na Sociedade Agrícola da Ganda, transitando alguns anos mais tarde para a Companhia Colonial de Navegação, por cuja imagem foi responsável ao longo de várias décadas. Foi igualmente gerente da Pescal, a empresa de pesca do bacalhau criada por Bernardino Corrêa a seguir à segunda grande guerra.
Desde o começo da actividade jornalistica que deu especial atenção aos assuntos de marinha, lutando contra o "zero naval" dos anos vinte, desdobrando-se em actos de divulgação e propaganda no sentido do regresso de Portugal ao mar. Organizou exposições e debates, escreveu centenas de artigos e foi autor de 35 livros sobre a temática naval, alguns dos quais registaram diversas edições, inclusivé em linguas castelhana e inglesa.
A partir de 1937 a Revista de Marinha mereceu sempre o seu mais entusiástico empenho. De início edição e propriedade da Parceria António Maria Pereira, a revista passou a pertencer em 1942 à Editora Marítimo-Colonial, firma ligada a Bernardino Corrêa, que promoveu a publicação de um segundo título mensal, o Jornal da Marinha Mercante, iniciado em 1942 e que 29 anos mais tarde se fundiu com a Revista de Marinha, em 1971.
Entretanto a carreira de jornalista prosseguiu na imprensa diária: em 1967 Maurício de Oliveira foi um dos fundadores do jornal "A Capital", deixando para o efeito o "Diário de Lisboa". Em 1971 assumiu a Direcção do Jornal do Comércio, cuja empresa proprietária, ligada ao Grupo Borges, comprou a Revista de Marinha. Iniciou então a renovação do mais importante diário económico português, mas pouco tempo se manteve no Jornal do Comércio, pois veio a falecer inesperadamente em Agosto de 1972, com 62 anos.
O Diário de Notícias publicou então um extenso artigo dedicado a Maurício de Oliveira, referindo-se-lhe como "o jornalista que em Portugal mais amou e melhor serviu a Marinha." Por sua vez o "Diário de Lisboa" enalteceu "a sua natural tendência para os assuntos marítimos, tendo trabalhado bastante em prol do prestígio da Marinha.
Ao longo da carreira jornalistica assinou grandes reportagens, nomeadamente quando em 1932 acompanhou o Ministro das Colónias, Armindo Monteiro, a África, ou no ano seguinte quando fez a reportagem da inauguração do paquete italiano OCEANIA, no Mediterrâneo. Assistiu à cerimónia da coroação do rei Jorge VI embarcado no aviso BARTOLOMEU DIAS. Repetiram-se as reportagens com o andar dos anos. Notabilizou-se igualmente em entrevistas a figuras políticas nacionais e estrangeiras, apresentando as suas conversas de forma original.
Homem de cultura e fino trato, Maurício de Oliveira grangeou inúmeras amizados nos meios naval e marítimo, tendo-lhe sido atribuídas numerosas condecorações nacionais e estrangeiras, desde a Legião de Honra (França), à comenda da Ordem Militar de Cristo, ou à medalha naval Vasco da Gama.
Por sugestão do Presidente da República a Empresa Insulana de Navegação atribuiu o nome MAURÍCIO DE OLIVEIRA a um porta-contentores adquirido então para a carreira de Nova Iorque, que assegurou até 1985, quando foi vendido na sequência da liquidação da companhia armadora. A Câmara Municipal de Lisboa, de que era Presidente o Engenheiro Santos e Castro, prestou igualmente homenagem a Maurício de Oliveira, atribuindo o seu nome a uma praça em Benfica.
Para além destas distinções e homenagens, a sua obra teve continuidade com a manutenção da publicação da Revista de Marinha, dirigida, de 1976 a 2008 pelo Cte. Gabriel Lobo Fialho e desde a última data referida, pelo Vice-Almirante Alexandre da Fonseca, que actualmente dirige a revista com sucesso crescente.
Há 75 anos, na nota de abertura do nº 1 da RM, o Ministro da Marinha Manuel Ortins de Bettencourt destacou a missão a cumprir escrevendo: "parece adormecida a nossa vocação marinheira; se esta Revista contribuir para a despertar, terá cumprido a sua missão e servido a Pátria." A missão foi-se renovando ao longo de todos estes anos, e continua a cumprir-se. É este talvez o mais nobre legado de Maurício de Oliveira.
Tive o privilégio de descobrir Maurício de Oliveira em 1970, quando da publicação do livro "Os Submarinos na Marinha Portuguesa", que comprei e cujo conteúdo devorei. Descobri de seguida a Revista de Marinha e o Jornal da Marinha Mercante, e, com 14 anos passei a ir comprar as revistas directamente ao escritório da rua do Comércio 8, onde ia adquirindo também os números atrasados com o resultado da poupança do bilhete do autocarro de e para o Liceu, fazendo o percurso a pé. Numa dessas idas à Editora Maritimo-Colonial fui apresentado a Maurício de Oliveira. Mal sabia eu que alguns anos depois, a partir de 1980, passaria a colaborador regular da Revista de Marinha.

Legendas das imagens: Maurício de Oliveira homenageado pela Administração da Colonial, recebe uma medalha no dia do 46º. Aniversário da fundação da companhia, a 3 de Julho de 1968, a bordo do paquete IMPÉRIO; Capa do livro Duas Naus e Um Cruzador, publicado em 1945 com prefácio do Almirante Magalhães Correia
Texto concebido especialmente para a edição do 75º aniversário da REVISTA DE MARINHA - Janeiro de 2012. Texto e imagens /Text and images copyright L.M.Correia. Favor não piratear. Respeite o meu trabalho / No piracy, please. For other posts and images, check our archive at the right column of the main page. Click on the photos to see them enlarged. Thanks for your visit and comments. Luís Miguel Correia

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