Thursday, April 07, 2016

ADMIRAL VLADIMIRSKIY - retrato oficial

Após ter publicado as fotografias da reportagem que fiz a 5 de Abril da largada de Lisboa do navio oceanográfico russo ADMIRAL VLADIMIRSKIY, resolvi adicionar esta imagem - a fotografia oficial do navio, e fazer alguns comentários acerca da estética no âmbito da construção naval. 
Diversos amigos e leitores desta página e da página associada no facebook, comentaram ser o ADMIRAL VLADIMIRSKIY um navio bonito, opiniões com alguma carga nostálgica e tão relativas como afinal tantas posições sobre tudo e mais alguma coisa que nesta era de comunicação imediata se emitem. 
- O que é que afinal torna um navio "bonito"? 
- Os navios são concebidos como peças de arte com conceitos de beleza assumidos por si?
Pessoalmente, as imagens que registei do ADMIRAL VLADIMIRSKIY em Lisboa proporcionaram um exercício de nostalgia, na medida em que, após ter começado a fotografar os navios e a actividade portuária numa perspectiva regular em Fevereiro de 1975, assisti ao início da presença de navios da então URSS em Lisboa, com a chegada do SHOTA RUSTAVELI ao cais da Rocha num Domingo (23 de Março de 1975) e logo a seguir, dos paquetes LATVIYA (cais de Alcântara, 1 de Abril de 1975) e IVAN FRANKO (cais da Rocha a 21 de Abril de 1975). 
Ao ver o ADMIRAL VLADIMIRSKIY atracado na Rocha, veio de imediato à lembrança a recordação de outros tempos com a presença frequente dos navios de passageiros da URSS, e até me pareceu ver outra vez o MIKHAIL KALININ, apesar deste ser bem mais pequeno que o ADMIRAL VLADIMIRSKIY. Mas era o mesmo estilo. 
A URSS construiu ao longo do século XX uma enorme frota de navios, militares, mercantes e de pesca, de que o ADMIRAL VLADIMIRSKIY agora com 41 anos, é ainda um vestígio vivo, apesar de ser o único sobrevivente dos seis gémeos originais construídos na Polónia entre 1974 e 1979. Eram navios bonitos, com equilíbrio de linhas de onde sobressaía o que se pode chamar uma elegância utilitária, com nítida influência da arquitectura naval italiana, mas sem a perfeição obtida pelos nossos parceiros mediterrânicos.
O que é que torna afinal os navios bonitos? Não há uma resposta absoluta, pois trata-se de uma apreciação subjectiva, quanto a mim direi que pelo aspecto e dimensões quase todos os navios impressionam positivamente, ao atraírem facilmente a atenção dos observadores, não fossem dos maiores objectos móveis construídos pelo homem. Claro que depois há os pormenores que podem marcar a diferença, mas a raiz do conceito de beleza acaba mais por estar associada ao tempo e à estética particular da época em que o próprio observador iniciou o seu exercício. No meu caso foi o início dos anos sessenta do século passado, daí a minha especial predilecção por navios como o FUNCHAL ou o LEONARDO DA VINCI, por exemplo, ao passo que para um grande Amigo já desaparecido, os navios mais bonitos eram os do primeiro quartel do século XX, em especial os britânicos saídos dos estaleiros Harland & Wolff - navios de facto lindíssimos - cujo último "exemplar" significativo foi o CANBERRA (1961-1997).
Mas na realidade há navios lindíssimos em todas as épocas, incluindo a actual, em que se estão a construir e projectar novas gerações de navios cada vez mais funcionais e amigos do ambiente. E os actuais gigantes não deixam de ser navios fantásticos, em especial de um ponto de vista do utilizador. Os navios de cruzeiros novos, por exemplo, muitas vezes apresentam uma escala difícil, mas o que oferecem aos passageiros é tão variado e original que o conceito de beleza acaba por assumir novas leituras. Fazem-se navios para serem bonitos? Sim e não. Adicionar elementos puramente estéticos à composição arquitectónica dos navios actuais custa muito dinheiro e cada vez mais esses exercícios são limitados a uma associação à "marca" da empresa armadora, como a chaminé ou as recentes decorações dos cascos, afinal seguindo as mesmas linhas que levavam noutras épocas os armadores a embelezarem as suas unidades com figuras de proa artísticas ou chaminés falsas suplementares. Enfim, mudam-se os tempos, mudam-se os olhares e as sensibilidades, mas a "verdade" é que não há navio mais bonito que o ainda nosso FUNCHAL. Do meu ponto de vista, claro, sei pelo menos de quem prefira a SAGRES, e por aí fora...
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