Não sei se o meu fascínio ilimitado por navios começou com uma viagem no paquete SANTA MARIA em 1961 ou mesmo antes, pois a imagem mais remota na minha memória de coisas marítimas é uma recordação de ter ido ver o paquete inglês HILDBRAND encalhado nos Oitavos, ao Guincho, onde o navio se perdeu, em Setembro de 1957, devido ao nevoeiro aliado à particularidade de não ter radar. Tinha menos de 2 anos de idade, mas o que é certo é que me lembro até do carro em que fui, um Vauxall com estofos de cabedal castanhos com aroma a antigo que partilho com as minhas primeiras andanças de Volkswagen, em que era enjoo certo.
Certo é que em 1964, com 8 anos de idade já contava, entre os meus objectivos de vida, escrever um livro sobre os navios de passageiros portugueses. Esse objectivo cumpriu-se em 1992 com a edição do livro PAQUETES PORTUGUESES, esgotado desde 1995, e de muitos outros títulos, a que me tenho dedicado todos estes anos.
O livro PAQUETES PORTUGUESES de 1992 é considerado por muitos leitores como o meu melhor livro, com o que não concordo nem discordo, pois cada livro é um filho com características próprias, e como no meu caso tenho mais de 20 livros publicados, só posso dizer que gosto de todos, embora de momento o mais bem conseguido, na minha perspectiva seja este, nas suas duas versões em Português e em Inglês. Ou então, se calhar neste momento, o meu preferido é um novo livro sobre NAVIOS DE PASSAGEIROS PORTUGUESES, em que estou a trabalhar há alguns meses, e que vai contar com o resultado de todo o meu empenho e anos de estudo e investigação sobre o tema, garantia de que será muito superior ao que escrevi em 1992.
Este mundo dos nossos navios de passageiros em que venho navegando por mares de escrita e iconografia é de facto fascinante. Aqui fica um pormenor de uma imagem inédita a incluir no livro "em construção", com três dos nossos Paquetes: o AMÉLIA DE MELLO, o FAIAL, e o MADALENA, que considero no livro como navio de passageiros pelo seu papel de paquete activo nas ligações inter-ilhas.
Habitualmente o MADALENA transportava carga geral de Lisboa para o Funchal, tendo como segunda vocação o transporte de frutas, em especial bananas, do Funchal para o Continente. Foi muito utilizado como navio de passageiros em viagens Funchal – Porto Santo, principalmente nos meses de Verão, podendo alojar 208 passageiros, tendo navegado toda a sua vida útil entre o Continente, a Madeira, os Açores e ainda as Canárias, onde foi por diversas vezes, com itinerários que hoje se associariam a cruzeiros. Assim, o MADALENA faz parte dessa nova obra em construção acelerada, ainda com muito trabalho de estaleiro, mas que espero, dentro de alguns meses possa chegar às mãos de muitos leitores interessados no tema.
Voltando à fotografia que ilustra esta minha "notícia" literária e marítima, o AMÈLIA DE MELLO era um dos meus navios preferidos, com o seu casco branco elegante. Infelizmente foi dos primeiros a ser abatido, em 1972, abrindo precedente para a venda de quase todos os outros. Quase todos porque sobrou um resistente, que se tem negado a ser alienado até agora. Falo do FUNCHAL, neste momento prestes a ser vendido para o estrangeiro a preço de saldo. Enfim, vão-se os navios, ficam as suas histórias e as minhas crónicas dessa frota magnífica que tão bem conheci.
Em 1989 meti-me num avião e fui a Miami ver o AMÉLIA DE MELLO, provavelmente terei de começar a amealhar para qualquer dia ir a Cuba ver o ex-FUNCHAL. Isto no caso de recuperar do desgosto de viver num País de M**** que pura e simplesmente traiu o MAR e os NAVIOS. Devia era ir daqui para fora de vez.
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2 comments:
Caro Luis Miguel Correia,
Se lhe aprouver e necessitar dalguma informação sobre o último "Angola", e até sobre os outros, penso que além dos meus "posts" terei mais alguma documentação, tal como plantas e Plano Geral da revista "Motor Ship" de 1947. Estarei ao seu dispor!
Cumprimentos,
João Celorico
Muito má noticia, essa. Lamento que seja vendido e nunca mais o vejamos. Acabou!
Quanto ao livro, aguardo com enorme expectativa.
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