 No texto que temos o gosto de divulgar, o Eng. José Carlos Gonçalves Viana sistematiza as ideias principais da nossa história marítima e aponta as possibilidades futuras do Mar integrado numa política portuguesa de desenvolvimento. O Eng. Gonçalves Viana tem vivido o Mar de diversas formas ao longo de uma vida de trabalho. Era Director da Empresa Insulana de Navegação quando se tomou a decisão de converter o FUNCHAL para cruzeiros. Em 1974 foi Secretário de Estado da Marinha Mercante e mais tarde Secretário de Estado das Pescas, a ele se devendo a decisão de adaptar o CREOULA a navio-escola. Foi durante muitos anos Presidente da SOPONATA. - LMC
No texto que temos o gosto de divulgar, o Eng. José Carlos Gonçalves Viana sistematiza as ideias principais da nossa história marítima e aponta as possibilidades futuras do Mar integrado numa política portuguesa de desenvolvimento. O Eng. Gonçalves Viana tem vivido o Mar de diversas formas ao longo de uma vida de trabalho. Era Director da Empresa Insulana de Navegação quando se tomou a decisão de converter o FUNCHAL para cruzeiros. Em 1974 foi Secretário de Estado da Marinha Mercante e mais tarde Secretário de Estado das Pescas, a ele se devendo a decisão de adaptar o CREOULA a navio-escola. Foi durante muitos anos Presidente da SOPONATA. - LMCO nascimento de Portugal  como país foi fruto da vontade de crescimento de uma população em  expansão que encontrou um território, na verdade um único território  para a realizar, pois não teve outra alternativa nesse momento, ocupado  por uma variedade de populações das quais só algumas, poucas, tinham  tradições marítimas. Mas para consumar a ocupação  desse território imediatamente o nosso primeiro Rei apercebeu-se da  importância da navegação ao longo da costa até para poder aproveitar  a ajuda dos cruzados que por ela passavam a caminho do Médio Oriente.
Assim no final do primeiro  acto de expansão a fronteira sul era uma linha que ia da entrada do  rio Douro em Portugal até Lisboa, cidade que logo se transformou na  base de todo o nosso desenvolvimento e da nossa futura aventura marítima,  dadas as condições excepcionais do estuário do Tejo para as actividades  marítimas. Além disto tínhamos um  vizinho forte e ambicioso, aliás vários mas que foram rapidamente  dominados por Castela, o que significava em termos práticos que a nossa  evolução tinha que se processar para sul e para ocidente, ou seja  para o Mar. Passado pouco mais de um  século D.Dinis, já com o país configurado do ponto de vista de fronteiras  terrestres e com a organização desenvolvida por seu Pai, iniciou a  organização da nossa Marinha, certamente não lhe tendo chamado cluster  ou hipercluster por que não conhecia o Michael Porter nem lhe teria  passado pela cabeça de chefe prático e eficiente que fosse preciso  tais nomes para se fazer o que era preciso. Ao contrário de agora  em que passamos o tempo todo a fazer reuniões, a nomear comissões,  a redigir livros das mais variadas cores, a organizar festas e exposições,  festivais gastronómicos muito marítimos, a arranjar a orla marítima  de preferência com muitos restaurantes mas poucas embarcações, tudo  isto em nome do Mar.
É curioso, tanto quanto  preocupante a comparação com a situação actual, que em dez anos  D. João II conseguiu que se explorasse o Oceano Atlântico quase todo  de forma que foi possível, depois de Bartolomeu Dias ter descoberto  o caminho para a Índia, empurrar os Espanhóis para a América Central  com a colaboração de Cristóvão Colombo, assinar o tratado de Tordesilhas  que nos assegurou não só aquele caminho mas também o território  do Brasil, e mudar os nossos navios de caravelas para naus que chegaram  ao seu destino oriental e tomaram conta deste. E tudo isto sem escrever  qualquer documento o que originou a situação paradoxal de vários  historiadores portugueses agora porem em dúvida a autenticidade de  alguns destes factos. Entretanto nós, nestes  trinta e poucos anos que fazem parte do meio século em que mais e mais  profundas mudanças ocorreram na História da Humanidade estivemos entretidos  em destruir parte do que herdámos, como foi o caso da Marinha, em baixar  o nosso rendimento real com políticas imediatistas e eleitoralistas,  em discutir um aumento de meia dúzia de euros do ordenado mínimo etc.,  etc., e em falar e escrever muito, mas fazer no que respeita a Mar e  a Marinha… nada, ou quase nada.
Voltando a D. Dinis, para  haver Marinha era preciso em primeiro lugar ter pessoas com capacidades  específicas e como não as havia por cá foi buscar ao estrangeiro  quem fosse capaz de o fazer.  Também eram precisos navios  e portanto criou estaleiros e outras infra-estruturas e assim se iniciou  o tal cluster. De início a navegação  era basicamente costeira mas quando a burguesia de Lisboa e Porto conseguiu  pôr no trono D. João I rapidamente a necessidade de expansão apontou  para o Mar e por isso se desenvolveram as técnicas de navegação,  de combate naval, de construção naval para se poder enfrentar o mar  alto e os inimigos, e assim se começou a chamada epopeia dos descobrimentos,  de forma sustentada e progressiva, alargando o conhecimento dos ventos  e das correntes do Atlântico que permitiu ir navegando cada vez mais  longe e dominando assim as rotas mais importantes dessa época. Quando ainda muita gente  pela Europa fora aceitava a cartografia de Ptolomeu já os portugueses  lhe conheciam os erros e a carta dita de Cantino, além de muitas outras,  mostra bem o avanço dos nossos cartógrafos. Mas além disto iniciámos  a actividade comercial global o que completou o cluster da Marinha que,  algumas dezenas de anos depois, começou a ser destroçado pela expulsão  dos judeus, que como se sabe eram os seus componentes mais destacados, principalmente  nos aspectos comerciais e científicos o que provocou a transferência  destas competências particularmente para a Holanda e assim se desfez  o predomínio do anterior império português. Portugal tornou-se, pela  sua actividade marítima global, um país central conforme se pode apreciar  quando se observa um planisfério com o Atlântico em primeiro plano,  ao contrário do que sucede agora que, por não ter Marinha, passou  a ser um estado periférico da Europa continental. Apesar das dificuldades  acima indicadas, provocadas pelos erros cometidos pelas elites dominantes,  a Marinha portuguesa continuou a ter importância e durante as guerras  napoleónicas ainda tínhamos navios de elevada qualidade mas a deslocação  da corte para o Brasil que levou grande parte da nossa frota que não  voltou mais e logo a seguir a incapacidade nacional de acompanhar a  revolução industrial e a evolução subsequente da construção de  madeira para a de aço, deixou-nos a Marinha em péssimas condições.
Os Reis D. Luís e D. Carlos  ainda tentaram desenvolver actividades científicas marítimas mas não  tiveram acompanhamento da sociedade civil que se mostrou totalmente  incapaz de sustentar o cluster da Marinha. Só mais tarde após o  despacho 100 de 1945 pelo Ministro da Marinha Cte Américo Tomás se  iniciou a sua ressurreição, e em que o Grupo CUF teve papel preponderante,  de tal forma que em 1974 tínhamos perto de 250 navios na marinha mercante  e se desenvolveram vários estaleiros de importância internacional. Nessa altura ainda a marinha  de recreio a nível mundial não tinha a expressão que tem agora mas  a diferença da nossa não era da dimensão que tem hoje. Até então o cluster do  Mar, isto é, da Marinha estava praticamente coordenado pelo Ministério  da Marinha, portanto pela Armada o que depois de 1974 foi considerado  politicamente incorrecto pois não era corrente tal prática tanto na  Europa como na América, o que foi ainda agravado pelo preconceito que  se formou resultante da confusa estrutura político-partidária que  surgiu com a queda da ditadura e com as guerras coloniais dos últimos  anos. A Marinha Portuguesa era,  como não podia deixar de ser, a base do antigo império colonial do  qual naturalmente havia várias críticas e razões de queixa legítimas  mas também tinha dado muitas oportunidades para termos orgulho por  muitas obras aí realizadas. Esse preconceito chegou  ao ponto de a prática de desportos náuticos ser considerada fascista  o que somado ao miserabilismo de alguns dos chefes revolucionários  que defendiam como lema essencial acabar com os ricos, enquanto outros  países se esforçavam por acabar com os pobres, levou à estagnação  da Marinha de recreio e ao desprezo pelas actividades marítimas.
Entretanto como consequência  do desenvolvimento desta cultura anti-marinha, da desorganização do  enquadramento legal e jurídico destas actividades e ainda das dificuldades  causadas por exigências sindicais irrealistas e pelo enquadramento  estatal pouco propício a níveis elevados de competitividade ao que  se somou a cultura imediatista desenvolvida na vida política nacional,  levou ao desinteresse dos capitais privados pelos investimentos nestas  áreas. Nas duas últimas décadas  as orientações políticas foram decididamente contrárias ao desenvolvimento  da Marinha como aconteceu, por exemplo, com a perda de posições já  adquiridas em Macau e com as dificuldades postas à criação de uma  empresa de cruzeiros. Mas não se pense que só  houve erros por parte dos políticos.  Quando o desenvolvimento  dos aviões a jacto veio liquidar a validade dos paquetes de longo curso, muitos armadores de outros países foram transformando-os  em navios de cruzeiros enquanto entre nós apenas o Funchal o foi, aliás  com sucesso mas porque o Presidente da República Alm.te Américo Tomás  se opôs à sua venda o que permitiu a sua transformação e aproveitamento. Os outros armadores nacionais  possuidores de navios de passageiros não se mostraram capazes de darem  o passo inovador que então se impunha e nessa altura não havia ainda  as condições adversas que acima se descreveram características do  período pós revolucionário dos anos 70 e 80.
A propósito de termos  referido as dificuldades quanto à competitividade convém recordar,  muito resumidamente é claro, que esta depende das condições para  os empresários como seja facilidades para investir, facilidades burocráticas  para a operacionalidade, funcionamento eficaz da justiça, tratamento  correcto do ponto de vista de impostos, tratamento correcto da previdência  social específica destas actividades, etc., etc., e das condições para  os trabalhadores que são sobrecarregados com custos de habitação  e mobilidade elevados, bem como os custos da água, da energia, e outros  que afectam principalmente as profissões de menores rendimentos mas  que condicionam a competitividade das empresas. Aliás como já está definido  em directriz europeia que os nossos actuais responsáveis por este sector  continuam a ignorar. A quem quiser aprofundar  este tema sugiro a leitura da entrevista ao Dr. João Prates Bebiano  publicada na revista Cargo de Setembro de 2008. Quanto ao cluster do Mar  ou da Marinha vou recorrer a parte do texto de uma comunicação por  mim apresentada na Academia de Marinha em 1985 por duas razões:1ª  para mostrar que esta questão não só é muita antiga mas também  tem sido quase totalmente desprezada pelos media, pelos políticos e  pelos empresários e 2ª ainda para mostrar que nestes vinte e três  anos que entretanto passaram não houve alterações relevantes na constituição  do cluster do Mar, além das novas tecnologias que afectaram tudo, que  justifiquem poder agora dizer-se que estamos perante uma realidade nova,  que, aliás, já tinha então quase setecentos anos de vida. Devo esclarecer que hoje  muito provavelmente faria uma lista um pouco diferente porque em vinte  e três anos houve algumas alterações provenientes do progresso tecnológico  e científico mas na verdade em nada alterando a essência do significado  da forma de aglomeração destas actividades ligadas ao Mar e portanto  à Marinha. Por isto mesmo não vou  gastar o vosso tempo e passarei rapidamente sobre esta parte para chamar  a vossa atenção para o que considero mais importante neste momento:  o que fazer agora, isto é, já para podermos contribuir eficientemente  para tirar o País da situação difícil em que estamos actualmente.
“Passando agora ao futuro  e tendo em mente a mesma atitude dos bons velhos tempos vamos começar  por examinar as actividades que permitam tirar directa ou indirectamente  proveito do mar:            
- Transportes marítimos, construção naval, reparação naval, portos, entrepostos comerciais ,  zonas francas industriais;
- Pesca, construção naval, reparação naval, redes, aparelhos diversos de pesca ,  equipamentos de detecção,  tratamento e conservação de pescado a bordo;
- Aquacultura a nível total, i.e, incluindo desde a procriação até à preparação  para o consumo  a nível parcial, i.e. só a fase final em zonas restritas artificiais, em zonas restritas naturais ,  sem restrição de zona;
- Minerais da superfície dos fundos marinhos- exº manganês, abaixo dos fundos- exº petróleo ,  da água-exº sal               
- Turismo náutico: marinha de recreio como actividade turística pois também o é  educativa e social; ilhas artificiais,   pesca desportiva;
- Energia: produção de energia por via física, produção de energia por via biológica, aproveitamento directo da energia eólica
- Educação.
Para que estas actividades  possam ser realizadas é preciso como já vimos conjugar as tecnologias  essenciais com a gestão eficiente dos empreendimentos mas pondo esta  agora de lado vamos ocupar-nos das primeiras. Quando se fala de construção  naval, por exemplo, há que distinguir os problemas e portanto as respectivas  soluções dos transportes, da pesca, da marinha de recreio, da marinha  de guerra, da exploração submarina, etc., etc., incluídas nas tecnologias  específicas relativas a cada actividade dos que lhes são comuns e  são tratados com toda a generalidade. Assim, continuando com  o exemplo da construção naval devemos considerar como essenciais as  tecnologias seguintes:
- Materiais: metálicos, plásticos, elásticos, fibrosos, vítreos e outros -i ncluindo a sua utilização, transformação e produção (por esta  ordem) ,informática, hidrodinâmica - cascos e hélices ,  aerodinâmica – velaria, termodinâmica - motores, turbinas, mecânica - transmissões, redutores,  sistemas hidráulicos, electrónica, telecomunicações, sistemas de transporte e manipulação de materiais, ar condicionado, sistemas de captura de pescado, sistemas de detecção de pescado .  sistemas de tratamento e conservação de pescado. Já estamos a detectar  nesta lista uma mistura de tecnologias de graus científicos e de graus  de utilização diferentes e com aplicações mais ou menos sobrepostas  a várias actividades. Para melhor se sistematizar  esta exposição seria fundamental a elaboração de uma matriz enquadrando  as actividades do ponto de vista aproveitamento económico e as várias  tecnologias devidamente individualizadas se possível segundo um critério  prático propício ao seu desenvolvimento coordenado. Quando digo graus científicos  e graus de utilização directa quero referir-me a uma escala hipotética  representada graficamente por um segmento de recta em que a extremidade  esquerda representaria o máximo de «pureza» do trabalho de investigação  científica, significando como tal a sua proximidade da ciência pura  sem a preocupação de aplicação prática e imediata e em que a extremidade  direita representaria a simples utilização pelo utilizador genérico  por vezes até desconhecedor dos fundamentos científicos do que está  a usar. É o que acontece com milhentos  utensílios e equipamentos desde electrodomésticos a calculadoras e  de automóveis a brinquedos. Para seguirmos os mesmos  princípios que orientaram os responsáveis por este País quando se  obteve o sucesso de que tanto é costume envaidecermo-nos, teremos que  analisar exaustivamente esta complexa matéria tendo em conta que os  estudos e trabalhos de investigação quanto mais próximos do extremo  prático mais rapidamente se tornam rentáveis, menor é o investimento  mas maior a dependência de terceiros para se lhes dar início e quanto  mais perto se estiver do máximo de pureza científica maior será o  investimento, maior o prazo até se conseguir o retorno respectivo mas  também maior será a independência no trabalho e na decisão. Para cada caso ou grupo  de casos aquela análise deverá permitir decidir por que grau começar,  pesando nesta decisão o conhecimento das nossas possibilidades actuais  e as potencialidades de desenvolvimento previsíveis. No fundo, actos  de gestão: analisar, compreender, planear, executar, como foi realizado  há alguns séculos com menos teoria e mais sucesso. Estamos neste momento em  situação mais desvantajosa mas que isto não sirva de desculpa à  nossa geração se um dia as seguintes nos classificarem como nós,  em abono da verdade, temos que fazer quanto a algumas nossas antecessoras  menos antigas que as da primeira dinastia e início da segunda.
Para elaborar um primeiro  esboço da referida matriz tentei basear-me na classificação por domínios  adoptada no Anuário da Ciência e Tecnologia da Junta Nacional de Investigação  Científica e Tecnologia, mas embora me tenha ajudado tive que adoptar  uma listagem diferente. Não posso deixar de precisar  em que consiste a desvantagem da situação actual em relação aos  séculos XII a XV: nessa época possuímos tecnologia a par, ou mais  avançada, em tudo o que se relacionasse com o mar, (e outras) dos povos  mais adiantados, agora a lista atrás indicada só corresponde a uma  pequena parte das tecnologias existentes e na maioria dos casos estamos  ainda na fase da leitura. E aqui está desafio: vamos  ficar assim dependendo do que o estrangeiro nos ofereça correndo o  risco de perdermos a nossa própria identidade depois de sermos despojados  do mar que temos ao nosso dispor e não termos sabido aproveitar tal  qual novo mapa cor de rosa ou vamos proceder como aconteceu com os nossos  antepassados de cuja herança ainda hoje aproveitamos os restos. Da parte que me cabe só  aceito a segunda e assim espero vir a merecer a honra que me foi concedida  ao ser eleito membro desta Academia.
- Transportes marítimos,                                                                     Pesca,                                                                              Aquacultura,                                                                                         Minerais,                                                                                                     Turismo, Materiais-Prod. e transf.          , Metálicos,                  Plásticos, Fibrosos, Sintetizados, Vítreos, Informática, Hidrodinâmica, Aerodinâmica,  Mecânica, Hidráulica mar, Hidráulica sistemas, Electrónica, Electricidade-força motriz, Telecomunicações, Robótica, Transp. e manip. Materiais, Telecomandos, Ultra-sons, Resistência de materiais,      Análise química, Energia, Biologia mar, Eng. Genética, Hidrologia e oceanografia, Matemática aplicada,     Eng. Alimentar, Geologia, Psicologia apl.,  Fisiologia apl., “fim de citação.”
Como se pode avaliar rapidamente,  as áreas tecnológicas abrangidas são inúmeras e com graus diferentes  de aprofundamento mas todas, ou talvez mais sensatamente quase todas,  dentro das nossas possibilidades de desenvolvimento imediato pois não  podemos perder de vista que um dos objectivos essenciais a atingir é  o da criação de postos de trabalho sustentáveis, aliás como dever  ser sempre o desenvolvimento de um país bem governado. Assim teremos actividades  como, por exemplo, os transportes marítimos como terceira bandeira  que levam mais tempo a ganhar dimensão quanto a investimentos porque  implicam o desenvolvimento de empresas de capitais elevados que só  poderão existir após as mudanças de enquadramento necessárias mas  que entretanto poderiam criar oportunidades de trabalho quase de imediato  se desenvolvermos a Escola Náutica. No entanto convém recordar que  em 1974 a frota mercante portuguesa que havia crescido baseada no nosso  tráfego ultramarino já estava a crescer no mercado internacional e  se tivéssemos progredido nessa direcção poderíamos ter aproveitado  a nossa posição geográfica central para desenvolver a capacidade  de “transhipment” e a criação de pontos logísticos internacionais  com navios nacionais, sem esquecer o desenvolvimento correlativo da  construção e da reparação naval. Mas antes de ir mais além  é preciso criar uma cultura de Mar, mas uma cultura activa e não meramente  contemplativa e gastronómica e isso só se consegue com a formação  náutica da juventude em particular e da possibilidade da actividade  náutica por vasto número de praticantes. Para o que, é essencial  a existência de elevado número de postos de amarração e de acessos  eficazes ao mar por pequenas embarcações que não precisam de estar  sempre na água de forma a que a prática náutica não seja acessível  apenas a quem seja rico como acontece com a maior parte das marinas. 
Portugal tem nos seus estuários e rias largas possibilidades para instalar  pelo menos 30 a 40 000 postos de amarração deste tipo, além de algumas  marinas mais ligadas a empreendimentos turísticos de gama alta. Pensar-se apenas na náutica  de recreio com objectivos turísticos é um erro grave porque só é  possível ter o grau desejável de qualidade de serviços se houver  um mercado alargado que inclua grande número de praticantes de todos  os perfis. Por outro lado a existência  deste mercado alargado permite haver construção naval específica  competitiva até podendo passar a ser exportadora como já somos em  alguns casos, infelizmente ainda muito poucos. As Pescas e a Aquacultura  também têm potencialidades de crescimento mas as primeiras terão  que ser reestruturadas pois os estudos e planos realizados em 1982 para  preparar estas actividades para a futura entrada na CE ficou por fazer  até hoje do que resultou o seu atraso e a baixa produtividade actual.
O aproveitamento dos fundos  para obtenção de minerais e outros fins tem futuro com interesse mas  implica grandes investimentos e demoras sensíveis nos respectivos retornos  o que dada a debilidade da nossa estrutura empresarial significa que  virá a ser praticada por empresas estrangeiras onde poderemos colocar  técnicos portugueses se entretanto conseguirmos prepará-los convenientemente. Quanto às questões energéticas  a primeira forma de energia a aproveitar é o vento como propulsor directo  e depois como base para a produção de electricidade como se faz em  terra e com os problemas mais ou menos idênticos.  A produção de energia  eléctrica pelas ondas e pelas marés na nossa costa será muito limitada  e daí ficar como de importância secundária. Seria bastante mais útil  investir-se em sistemas de protecção das costas. Não vou gastar o vosso  tempo com mais descrições de potencialidades que na verdade até há  mas que no estado em que estamos não adianta. Com efeito aquele texto  que apresentei atrás foi escrito há 23 anos, como já disse, e não  só nada adiantou como aliás logo a seguir até piorou quando a febre  da rodovia quase apagou o transporte marítimo do mapa português. Como disse Peter Drucker  o que se pretende de uma Administração, seja de uma empresa ou de  um País, é que não tome muitas decisões mas em vez disso tome poucas  mas boas. E que assuma que tomar uma decisão efectiva só é verdade  se a realizar em tempo útil.
É interessante recordar  que por volta de 1960 os três grandes desígnios do Governo de então  foram: fazer o Alqueva, o novo aeroporto de Lisboa e uma central nuclear.  E a realidade bem a conhecemos. Nestas últimas décadas  fizeram-se planos e programas nos quais se gastaram verbas colossais  mas as decisões, as tais poucas mas boas e realizadas, ainda estamos  à espera delas. Perspectivam-se grandes  investimentos em transportes mas vemos com enorme preocupação serem  tratados um a um sem os enquadrarem nos sistemas a que pertencem e sobre  os quais nada se diz e pouco se sabe. Começou-se a falar do  Mar e não faltam entidades a organizar reuniões, almoços, congressos,  estatutos e muitas coisas mais excepto ir para o Mar naturalmente usando  embarcações, isto é, desenvolvendo uma Marinha que abranja todas  as áreas que a devem constituir ou seja desde a segurança e a defesa  até à investigação científica, passando por todo o universo das  actividades marítimas. E como vimos atrás são  precisas apenas algumas, poucas mas boas decisões. E principalmente que haja  quem as tome.
Texto de José Carlos Gonçalves Viana. Imagens copyright L.M.Correia. For other posts and images, check our archive at the right column of the main page. Click on the photos to see them enlarged. Thanks for your visit and comments. Luís Miguel Correia