Monday, October 09, 2006

UM OLHAR SOBRE O MAR DA PALHA

O cimenteiro Fayal Cement a subir o Tejo com o mar da Palha em pano de fundo

Quando a Marinha de Comércio Nacional tinha alguma expressão e muitos navios, o Mar da Palha era o fundeadouro final para os navios retirados do serviço, que ali aguardavam o destino, que tanto podia ser um novo armador como um qualquer sucateiro. Na década de setenta por lá rodaram ao sabor das marés as últimas glórias da frota de paquetes portugueses. Quando comecei a fotografar a sério em 1975, fui muitas vezes ao Mar da Palha a bordo do rebocador MUTELA, que fazia aa rendição das tripulações dos navios da CTM imobilisados, com destaque para os paquetes INFANTE DOM HENRIQUE e UIGE. Em 1985, durante a liquidação da CTM e da CNN o Mar da Palha encheu-se de navios, como já havia acontecido em 1917 quando da apreensão dos navios mercantes alemães que dariam origem aos Transportes Marítimos do Estado. Depois, foram-se os navios, foi-se a navegação tradicional do Mar da Palha. Também os graneleiros que descarregavam ao largo foram sendo menos frequentes, à medida que se construiram terminais de graneis sólidos no Tejo.
Curiosamente há dias contei 6 navios no Mar da Palha, incluindo dois portugueses imobilisados: o petroleiro GALP LEIXÕES, da Sacor Maritima, e o ferry GOLF, ex- GOLFINHO AZUL, vendido em Agosto pela Açor Line a um sucateiro indiano. Estava também uma fragata da classe JOÃO BELO, um graneleiro belga, um navio-químico...
Há muito que deixou de se carregar lá palha, mas ficou o nome: MAR DA PALHA. Por definição o Mar da Palha é a zona do estuário do Tejo em frente a Lisboa em que o rio alarga a sua configuração, antes de voltar a estreitar junto a Cacilhas. Nos dias de menor visibilidade chega a não se distinguir a margem sul. A origem do nome está ligada a uma carga perigosa de outros tempos, a palha, que era carregada ao largo, a partir de fragatas para os vapores da companhia alemã OPDR, com destino às Canárias, onde servia para acondicionar banana exportada depois para o Norte da Europa. Como a palha era altamente inflamável os navios eram obrigados a fazer os carregamentos fundeados, pois o perigo de incêndio nos cais e armazéns do Porto de Lisboa era significativo. Aos navios da companhia chamava-se no Tejo "os alemães da palha". Entretanto, foram-se os navios, ficou o Mar da Palha...

Texto e fotos de Luís Miguel Correia - 2006

2 comments:

Eurydice said...

Esta é a mias bela PALHA do mundo!... ;)

LUIS MIGUEL CORREIA said...

Cinderela,
Depende das circunstãncias, mas será sempre palha em estado líquido...

LMC