Wednesday, August 03, 2011

IGNORÂNCIA OCEANICA - Festival dos Oceanos

Está a decorrer em Lisboa o Festival dos Oceanos, um evento de animação promovido pelo Turismo de Lisboa e patrocinado pela Mercearia Continente, do Grupo Sonae.
Além do título oceânico e festivaleiro, muito pouco transparece de marítimo, não fosse a presença providencial e feliz do lugre aveirense SANTA MARIA MANUELA, o irmão gémeo do CREOULA, renovado em boa hora pela empresa Pascoal. Mas pasme-se a organização anuncia o SANTA MARIA MANUELA como embarcação. Santa ignorância ainda por cima semi-oficial. Senhores, tenham tino, o SANTA MARIA MANUELA é um navio, ou se preferirem um termo mais popular e simples, um barco: e se quiserem aprender alguma coisa, barcos grandes chamam-se navios; aos pequenos chamamos embarcações. 
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5 comments:

CAP CRÉUS said...

É pá, que feios!
E já se enviou um email só para os colocar de sobreaviso?

Anonymous said...

Designa-se por embarcação todas as construções cujo objectivo é navegar, tanto no mar, como em lagos, rios, etc, independentemente do tamanho, forma de propulsão, função ou material de construção.

As embarcações dividem-se por vários tipos, barcos, navios, botes, etc, e estes ainda se subdividem em grupos, sub-grupos, famílias, etc com base em inúmeros critérios.

Dada a utilização generalizada do termo "barco", assistimos muitas vezes de forma errada à divisão entre embarcação e barco, ou entre embarcação e navio. Na realidade tanto um como o outro são primeiro embarcações, e só depois barco ou navio.

VMF said...

Olá
Ainda bem que me esclarecem porque eu pensava que a "embarcação" SMM era uma lancha.....Estamos sempre a aprender

LUIS MIGUEL CORREIA said...

Embarcação - Barco de pequena tonelagem empregado especialmente no serviço de portos, rios, pequena cabotagem e nas comunicações dos navios com outros ou com a terra: Era antigamente o termo geral para designar vasos flutuantes destinados a navegar; hoje o termo geral é barco.

Cte. António Marques Esparteiro in Dicionário Ilustrado de Marinha

Anonymous said...

Caro LMC, desta vez “tiro na água”! Penso eu de que...

Efectivamente, no Dicionário Ilustrado de Marinha, do com.te A. Marques Esparteiro, e como transcreve, embarcação é definida como “barco de pequena tonelagem,etc. Era antigamente o termo geral para designar vasos flutuantes destinados a navegar”. E no mesmo dicionário pode-se ler que barco é “uma construção flutuante … e destinada a percorrer as águas. É termo de ordem geral; ao barco pequeno chama-se embarcação a ao grande, navio”; e que navio é “um barco de grandes dimensões, destinado à grande cabotagem e às viagens transoceânicas”.

E na Arte Naval Moderna – essa nossa “Bíblia do Marinheiro” – do alm. Rogério de Castro e Silva, logo a abrir, consta: “O navio ou embarcação é uma construção flutuante e habitável, destinada a navegar”. E um pouco adiante: “A designação de navio aplica-se a construções de tamanho considerável, ao passo que o termo embarcação é correntemente usada para designar pequena s construções. Barco é o nome vulgar de embarcações ou navios”.

Até aqui, a “bota” condiz com a “perdigota”!

Por sua vez, no “Livro do Grumete” - a “Bíblia de Bolso do Marinheiro” - , editado pelo então Ministério da Marinha, pode-se ler: “Um navio é uma construção flutuante destinada a navegar. Esta palavra navio só se aplica a construções grandes. A palavra embarcação pode abranger grandes e pequenas construções, embora vulgarmente se empregue apenas para designar construções de tamanho modesto. A palavra barco, que é o nome popular das embarcações e navios, não é geralmente usada entre marinheiros”.

A coisa complica-se!

E depois temos o que “vale”, a Lei! E o RGC – Regulamento Geral das Capitanias (Dec.Lei 265/72, de 31 de Julho), no nº4 do seu artº 19º, diz: “Para efeitos do presente diploma, embarcação é todo o engenho ou aparelho de qualquer natureza, excepto um hidroavião amarado, utilizado ou susceptível de ser utilizado como meio de transporte sobre a água”. E estabelece a classificação das embarcações segundo os mais variados critérios – actividade, área de operação, etc . Isto é, a designação abrangente para todas as construções que navegam, é embarcação! Como está referido no comentário do “anonymous”. E neste diploma, as palavras “navio” ou “barco” nem uma única vez aparecem! É só embarcação e mais nada!

Então como ficamos? São todos “embarcações” – grandes, pequenas ou “assim assim”. As maiores são “navios” – navio de guerra, navio oceanográfico, navio de carga, navio porta contentores, navio tanque, navio de passageiros, navio de pesca, etc - e as menores “barcos” (embora aqui esteja como o grumete, barcos no geral não gosto) ou “embarcações” (prefiro) – barco ou embarcação a remos, barco ou embarcação a motor, barco ou embarcação à vela, barco ou embarcação de pesca, barco ou embarcação salva-vidas, etc.

Resumindo: dizer que a “embarcação Santa Maria Manuela” vai estar na Marina do Parque das Nações, está correcto. Mas como se trata de uma embarcação grande, mais correcto – por ser designação que mais se usa e melhor o caracteriza - seria estar “o navio SMM”.

Mas a “confusão” não é só nossa. No “The Oxford Companion to Ships and the Sea”, editado por Peter Kemp, “ship” (o nosso navio) é “the generic name for sea-going vessels, as opposed to boats” e “boat” (o nosso barco) é “the generic name for a small open craft”. Mas acrescenta: “Boat is a word frequently used by people ashore when they really mean ship”! E pelo “middle” também têm “vessels”, “watercrafts”, and so on…

Espero ter contribuído para a "confusão"! Enfim, a língua portuguesa – mesmo sem acordo – é muito traiçoeira!!!

TC