O navio de cruzeiros alemão HAMBURG entrou esta manhã no Tejo com 400 passageiros, chegou a Algés, deu a volta e seguiu viagem para Sevilha, anulando a escala em Lisboa por não haver lancha disponível para transportar o Piloto da Barra para bordo. É já o nono navio de passageiros a anular a escala prevista para Lisboa na sequência das greves concertadas no sector portuário, que ao todo já afastaram de Lisboa 20.000 turistas de cruzeiros e 6.000 tripulantes. Apenas um entre diversos sectores de negócio marítimo a ver aumentarem os prejuízos resultantes do conflito laboral contra novas medidas legislativas que pretendem impor uma maior desregularização das actividades portuárias.
No caso dos navios de cruzeiros está a ser posto em causa um esforço concertado e investimentos significativos efectuados no decorrer dos últimos cinco anos, para além dos prejuízos imediatos que são importantes.
Amanhã e depois cumprem-se mais dois dias de greve por parte dos Pilotos, que lutam pelo reconhecimento da reposição da idade de reforma para 55 anos (é uma profissão de grande desgaste, os pilotos na Europa têm em média menos 10 anos de esperança de vida que o resto da população) e pela admissão de novos Pilotos para substituição dos que têm estado a emigrar para países estrangeiros devido à degradação das condições de trabalho. Segundo um Piloto de Lisboa que contactámos, as tentativas de marcação de uma reunião na Sec. de Estado do Mar têm-se mostrado infrutíferas, e as reuniões já efectuadas este ano não levaram a qualquer desenvolvimento positivo. Entretanto a Sec. Estado do Mar fez publicar na última Sexta Feira novas regras para isenção de pilotagem obrigatória dos navios, passando a permitir a isenção de obrigatoriedade de pilotagem a comandantes estrangeiros que dominem a língua inglesa, passando a dispensar o domínio do Português, o que vai pôr em causa de forma evidente a segurança da navegação no Tejo, por exemplo, onde não há garantias de que as embarcações locais ou os amarradores dos cais consigam responder em inglês a estes navios.
Às pressões dos credores estrangeiros que procuram albanizar Portugal junta-se uma inépcia lamentável por parte dos Governantes do actual Governo de Portugal, que apesar de propalar o desejo de um "Regresso ao Mar" nada está a fazer para dignificar o mar que se cumpre com navios, empresários e marinheiros:
- Os navios estão a ser arrestados por toda a Europa por dívidas a fornecedores por falta de créditos bancários que lhes permitam a continuação de actividades com muitos anos mas que não sobrevivem aos cortes de crédito bancário- é o caso dos paquetes da Classic International Cruises e aos 12 cargueiros da NAVEIRO;
- Os empresários são ignorados e não há quaisquer medidas didáticas para despertar o interesse dos empresários pelos negócios marítimos apesar de Portugal depender do transporte marítimo para mais de 70 por cento das suas necessidades de transporte, nomeadamente produtos estratégicos, como os combustíveis;
- Os marinheiros têm visto a suas profissões serem reduzidas ao mínimo em termos da dignidade do exercício das respectivas funções, quer nos navios, transformados em navios piratas com tripulações reduzidas e com cada vez menos qualificações, quer em terra, com o Estado a impor condições de trabalho cada vez mais degradadas a técnicos das actividades marítimas e portuárias, nomeadamente os Pilotos dos Portos e Barras.
Assim não se vai a lado nenhum.
Imagens do paquete HAMBURG em Lisboa, rota do HAMBURG a entrar e sair do Tejo esta manhã e um escóvem do navio estatal NORUEGA a chorar ferrugem, imagem que traduz uma certa indiferença face ao Mar e seus verdadeiros desígnios. No caso do NORUEGA, nem se substitui este navio como chegou a ser anunciado, nem se procede à sua reparação em alternativa.
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