Saturday, April 20, 2013

E ali na Rocha o SANTA MARIA


Cresci com esta vista deslumbrante. Mesmo por cima das Janelas Verdes, as chaminés amarelas dos paquetes da CCN enchiam a alma de quem passava, eram navios lindíssimos os nossos maiores paquetes, o SANTA MARIA e o seu irmão VERA CRUZ. À noite as letras com o nome acendiam, eram luzes verdes, foram dos primeiro paquetes com este requinte. Já o INFANTE DOM HENRIQUE, mais moderno, tinha o nome com luzes vermelhas aceso por cima da ponte. 
Em primeiro plano, no cais do estaleiro da CUF, pode observar-se um bacalhoeiro da Lusitania Companhia Portuguesa de Pesca, creio que o BISSAYA BARRETO ou o COMANDANTE TENREIRO, quem conhecer melhor que me corrija.

Pelo que a imagem nos deixa ver, trata-se de uma fotografia (de Mário Novais, integrada na colecção da Gulbenkian) da primeira metade dos anos cinquenta, os edifícios junto à proa do SANTA MARIA ainda não tinham sido deitados abaixo. Interessante também o pormenor de a chaminé do SANTA MARIA estar a ser pintada, ritual efectuado todas as estadias antes de nova viagem. 
Esta imagem do SANTA MARIA faz-me lembrar um artigo de opinião que li há dias acerca da Marinha Mercante nos tempos do Estados Novo, que ao que parece, na opinião do autor, operava exclusivamente nos mercados protegidos de e para o Ultramar, dividindo-se em dois segmentos - passageiros e as diversas cargas. A verdade era um bocadinho diferente, pois para além dos tráfegos reservados havia participação significativa de armadores nacionais nos tráfegos internacionais, desde a Sociedade Geral que operava principalmente nestes mercados, até aos Carregadores Açoreanos, que operavam em exclusivo em mercados abertos. O caso mais significativo de investimento em navios para carreiras internacionais é o dos gémeos VERA CRUZ e SANTA MARIA, construídos em 1952 e 53 para a carreira Europa - América do Sul, em cuja construção a CCN investiu o equivalente a 370 milhões de euros, feita a correcção monetária. Foram navios que prestigiaram Portugal durante anos e transportaram milhares de passageiros. Hoje não conheço nenhuma empresa de navegação nacional com a capacidade ou a vontade de investir centenas de milhões de euros em navios deste nível. Quando foram construídos os gémeos da CCN só oito países em todo o mundo tinham navios da categoria dos nossos ou maiores: a Inglaterra, os EUA, a França, a Itália, a Suécia (o KUNGSHOLM de 1953), a Grécia (o OLYMPIA de 1953) e a Holanda. Haveria muito mais a dizer sobre o assunto, mas fica para outra oportunidade.
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2 comments:

João Celorico said...

Caro Luis Miguel Correia

E nesta curiosa foto, parece-me vislumbrar, ali bem no centro, aquele que foi um táxi, clássico e muito apreciado pelos turistas que nos visitavam e não só. Um "ex-libris", que ainda circulou por muitos e bons anos!

Cumprimentos,
João Celorico

LUIS MIGUEL CORREIA said...

Sim, lá está o famoso Táxi, que na década de 1980 ainda circulava em Lisboa e se manteve operacional enquanto teve dono a preceito.