Cá estou de volta à Doca de Alcântara, hoje numa conjugação em pretérito perfeito, pela imagem de autor desconhecido, enviada por Nuno Bartolomeu.
Tudo indica ser uma imagem da primeira metade dos anos sessenta do século passado. A ponte giratória está aberta, para dar saída ao SHELL TAGUS, o último navio-tanque construído para a Shell Portuguesa, que tal como a Sacor Marítima, fazia a redistribuição de produtos refinados Shell pelos portos do Continente. Por sinal um dos mais de 200 navios construídos em Viana do Castelo. O navio está a ser rebocado por uma das lanchas mais pequenas da AGPL, utilizadas principalmente para passarem cabos a terra nas manobras de atracação dos grandes paquetes. Conheci a cabine telefónica, igual a tantas outras espalhadas pela cidade.
A qualidade da imagem não é a melhor, mas o conjunto de navios em segundo plano é fascinante: no canto esquerdo distingue-se, pela chaminé, o cargueiro BENGUELA, de 1946, da Companhia Colonial; ao fundo, no cais norte pode ver-se o vulto de um dos paquetes da Colonial, o PÁTRIA ou o IMPÉRIO e pela popa deste, o INDIA ou o seu irmão TIMOR; a meio destaca-se o ANGOLA, ou o seu gémeo MOÇAMBIQUE e pela popa deste, escondido numa flotilha de batelões e mastros de fragatas, o FUNCHALENSE de 1953, que em 1966 se passaria a chamar ILHA DO PORTO SANTO.
À direita, pode ver-se atracado ao cais de reparações da Lisnave, dentro da doca de Alcântara, onde hoje atraca o lugre PRÍNCIPE PERFEITO, o cargueiro SAN THOMÉ, da Companhia Nacional, construído em Sunderland em 1938 e comprado novo pela CNN numa tentativa de renovação da frota, continuada com a compra do TAGUS e a construção, em Itália, do INHARRIME, e logo interrompida pela guerra de 1939. Os navios da CNN já apresentam todos mastros e aparelho de carga pintados de branco, o que aconteceu por volta de 1963. A doca fervilhava de movimento, era um espectáculo ver os grandes paquetes da linha da África Oriental atracados ao cais norte à descarga - era aí então o entreposto colonial, antes localizado no Jardim do Tabaco...
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2 comments:
Fala-se muito nesse pequeno Inharrime de 1600 ton, mas ainda não vi nenhuma foto deste navio misto em nenhum blogue nacional. Porquê??
Caro Luis Miguel Correia,
atrevo-me a dizer que essa foto será do início de 1966, aquando da grande reparação do "Angola", devido ao encalhe na ilha de Moçambique. Esteve, realmente, atracado nesse local. Quanto à lancha da AGPL,(pela extensão do nome) penso tratar-se da "Bugio" (a outra, idêntica, era a "Trafaria". A "Lisboa" era mais antiga e diferente).
Aproveito para lhe desejar um Feliz Ano de 2014.
Cumprimentos,
João Celorico
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