Nunca escondo o quanto gosto de navios e o desconforto que a Desmaritimização me causa, como elemento de penúria intelectual e material. A facilidade com que corre a mensagem de que os navios estragam a paisagem ribeirinha em Lisboa, por exemplo, parece-me um elemento de ignorância profunda das coisas reais do Mar, mundo em que a importância dos navios é inquestionável.
A imbecilidade alicerçada por cátedras diversas é uma paisagem comum no discurso político actual associado ao Mar. É um discurso em que não há navios como actores principais apesar de serem os navios o centro de tudo o que toca ao mar: sem navios não há investigação, sem navios não há como transportar o que vendemos e compramos, num mundo em que mais de 90 por cento das trocas comerciais se fazem por mar, quer dizer, recorrendo a navios. Sem navios não há esperança, pois num pântano de falta de conhecimentos, quanto mais ligeira é a bagagem dos novos gurus dos mares, mais preocupantes são as atitudes face ao Mar e à economia marítima. Quase sempre sem navios.
Na última Sexta-feira o actual Secretário de Estado dos Transportes e uma antiga Secretária de Estado dos tempos de Sócrates debateram na SIC Notícias os temas do Mar, os investimentos previstos para os portos, etc... De navios como instrumentos económicos criadores de riqueza e garantes de autonomia e independência nenhum falou. A Eng. Ana Paula Vitorino destacou um cenário de horror, perante as perspectivas de vir a ser construído um novo terminal de contentores no Barreiro, "com navios gigantes de 100 metros de comprimento e 50 de altura carregados de contentores" a encobrir a vista de rio e Mar da Palha a partir da Praça do Comércio. Enfim, uma tragédia visual disparatada, pois os navios porta-contentores oceânicos pós-Panamax que agora fazem tantos voltarem a sonhar com o mito de Portugal - Caís da Europa, medem 300 metros ou mais de comprimento, e a sua eventual passagem para o Barreiro fazer-se-ia sempre longe do Terreiro do Paço, junto à margem Sul, onde estão os melhores fundos do Tejo. O horror dos navios a comerem a vista fluvial do Terreiro não tem qualquer sentido, pois os navios são importantes visualmente, dando animação ao porto e à cidade de Lisboa, infelizmente hoje em muito uma cidade de cais vazios. Esta discurseta da ilustre Senhora Engenheira faz lembrar a campanha anti navios de cruzeiros em Veneza, que tanto desemprego poderia causar e que foi travada recentemente por acção judicial.
E já agora para terminar, aqui fica a Praça nobre de Lisboa com gente e um navio português, o superpetroleiro fluvial SACOR II a navegar na tarde de 12 de Abril. Trata-se do nosso único petroleiro actual, um navio abastecedor de bancas. Ainda vão chorar por navios em Portugal, sem meios para os comprar ou construir...
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