Há dias um Amigo por quem tenho grande admiração dizia-me que eu sou o Fernão Lopes da nossa Marinha Mercante por há muitos anos escrever a crónica mais destacada deste nosso sector moribundo.
Não ambiciono tanto, apenas de facto tenho tido sempre um grande interesse pela Marinha Mercante, navios e armadores respectivos, apesar de em dada fase ter concluído que provavelmente errei a vocação, pois em Portugal ninguém quer saber de navios nem de negócios marítimos, muito poucos percebem alguma coisa do assunto, característica que não tem melhorado com o tempo, infelizmente. Há dias meti-me a fazer uma lista de companhias de navegação ligadas a Portugal que conheci e a cujo desaparecimento assisti, e acabei por desistir para evitar uma depressão, pois o seu número é quase infindável, como curioso é o facto de muitas vezes o negócio dos transportes marítimos exercer atração sobre indíviduos que de facto não fazem ideia do que é um navio e a respectiva operação comercial e técnica, o que sempre foi a melhor receita para o desastre por que se traduziu o fim das nossas empresas de navegação. O mais desastrado de todos foi e continua a ser o Estado, mas muitos privados têm conhecido momentos infelizes, algumas vezes fatais, para os seus navios e demais cabedais, ao longo das décadas em que me tenho debruçado sobre a temática dos navios e do mar. Armadores com vocação natural são coisa rara entre nós e Capitães da Marinha Mercante que se tornam armadores, contam-se pelos dedos embora na Grécia, Países Nórdicos, Alemanha e Holanda seja muito comum, com casos em que o armador é o comandante do único navio da firma. Foi o que caracterizou a companhia PORTUGUESE AMERICAN EXPORT LINE (PAEL), com sede em New Bedford, inspiração nominal na American Export Lines de Nova Iorque, uma das grandes companhias de navegação dos EUA no século XX.
Imagens do PAULINE MARIE I no Funchal a 28 de Setembro de 1988 e em Lisboa pela mesma altura.
Fotos de Luís Miguel Corrreia
A PAEL teve como mentor um dos mais ilustres capitães da Marinha Mercante madeirenses, o Cte. Simplício Passos de Gouveia que na década de 1970, já na casa dos 70 anos, trocou a Madeira pelos EUA e comprou o navio de carga PAULINE MARIE, que fez viagens de New Bedford para os Açores, a Madeira e Lisboa. Este primeiro navio foi substituído em 1979 por outro, maior e mais robusto para aguentar as condições físicas do Atlântico Norte, o PAULINE MARIE I (499 grt / 1962), construído na Holanda como YSELHAVEN (1962-1974), e que depois se chamou IMPARMA PROGRESS (1974-1978) e PROGRESS (1978), antes de ser adquirido pela empresa do Cte. Passos de Gouveia em 1979 e ser registado no Panamá. Navegou com este nome até 1997, quando foi vendido e com 90 anos o Cte. Simplício Passos de Gouveia ainda andava a atravessar o Atlântico para cá e para lá em viagens mensais que nos Açores e Continente eram agenciadas pela Bensaude. Em 1997, creio que com o falecimento do armador e as mudanças radicais porque passou o mundo dos transportes marítimos, em que cada vez há menos lugar para capitães armadores românticos, o PAULINE MARE I foi vendido a interesses americanos e continua a transportar carga geral entre portos da América Central e das Caraíbas e com o nome COOKIE ZINGER, fretado às Honduras, segundo informou o meu amigo Paulo Peixoto.
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