Gosto muito do Porto de Lisboa. É o meu porto de armamento e deambulações de toda uma vida a ver navios e cais e gruas e cargas e gentes. Tudo isso mudou muito no espaço desta última geração e hoje o Presidente do Porto de Lisboa já não é uma espécie de Patriarca das Índias ou Provedor da Santa Casa, na medida em que o Porto de Lisboa decaiu física e economicamente em tempo de desmaritimização em Portugal.
Ao longo dos anos assisti a uma estranha troca gradual de gruas por árvores, num local que sempre foi porto, porto esse que deu cidade e significado à Lisboa que hoje temos e que a partir do porto e do seu Tejo se tornou princesa. Porto de mar não é jardim.
Claro que me vão dizer que a revolução nos transportes marítimos e o gigantismo relativo dos navios levou a essas mudanças, mas não é disso que falo. Falo da alma do porto e essa alma foi sendo quebrada aos poucos por muitos "amigos do porto" que não entendem nem porto nem mar nem navios e no fundo pouco vêm para além de traçados urbanos, poder autárquico, especulação imobiliária ou politicazinhas. Lisboa vê definhar o seu porto e os derradeiros guindastes da última geração Mague assistem a tudo arredados em cantos pacatos, à espera de serem refeitos em sucata, como entretanto aconteceu a dezenas de gruas, a vapor, eléctricas, sem esquecer as cábreas majestosas, que anos a fio carregaram e descarregaram navios e embarcações locais nas muralhas de pedra desse porto tão bem cantado por Álvaro de Campos e tão abandonado dos nossos horizontes culturais.
Ainda vamos a tempo de lavar a cara e preservar alguns, como os guindastes Mague números 136 e 137, que estão parados em Xabregas, por exemplo. Aqui fica o desafio / sugestão a quem a possa, queira e saiba fazer viver...
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