Thursday, July 20, 2006

O MAGNÍFICO PAQUETE VERA CRUZ

Fotografia rara do N/T VERA CRUZ fundeado no Funchal nos anos cinquenta, quando o navio era utilizado na linha do Brasil. (Imagem cedida por Ian Shiffman)



Os grandes paquetes de cruzeiros que actualmente escalam Lisboa - caso do novo COSTA CONCORDIA, chamam a atenção de quem tem o privilégio de os observar e despertam sonhos de viagens urgentes para os afortunados que os visitam. São todos estrangeiros, estes navios de sonho. Mas nem sempre foi assim.
Nas décadas de cinquenta e sessenta do século passado Portugal detinha uma Marinha de Comércio de que se orgulhava justamente, e desses navios faziam parte grandes paquetes, ao nível do melhor que então navegava por esses mares perdidos. O VERA CRUZ foi o primeiro desses grandes navios de prestígio.
De concepção extremamente avançada para a época, o VERA CRUZ foi o primeiro verdadeiro paquete Português, pois todos os navios de passageiros anteriores se classificavam como unidades mistas, pela grande quantidade de carga transportada a par dos passageiros. Encomendado em 1949 na Bélgica pela Companhia Colonial de Navegação, o VERA CRUZ entrou ao serviço em Março de 1952, substituindo o MOUZINHO na carreira do Brasil, que fez regularmente até 1961, a par com viagens à América Central e cruzeiros. A partir de 1961 o VERA CRUZ navegou para destinos africanos, muitas vezes fretado ao Estado para transporte de tropas e material de guerra. Concluiu a sua última viagem em 1972 e foi vendido e desmantelado na Formosa em 1973.
Quando seguiu para a sucata o VERA CRUZ era ainda um navio relativamente moderno, e se tivesse sido reconvertido para cruzeiros podia ter navegado pelomenos durante mais 30 anos. Foi para o lixo quase novo.
Com 21.765 toneladas de arqueação bruta, o VERA CRUZ tinha 185,75 metros de comprimento fora-a-fora e 23m de boca. Dois grupos de turbinas a vapor Parsons desenvolviam 25.500 SHP, permitindo uma velocidade máxima de 23 nós. O navio dispunha de alojamento para 1242 passageiros e 350 tripulantes. os seus interiores eram considerados luxuosos para a época. Foi o primeiro paquete em que naveguei, e guardo, muitas recordações boas e saudades. Assisti com tristeza à sua última largada do Tejo em 1973, ferrugento e carregado de automóveis e carga geral, numa viagem sem regresso para África e os mares da China.
Texto de Luís Miguel Correia - 2006

4 comments:

LUIS MIGUEL CORREIA said...

Não deixa de ser verdade o seu comentário, infelizmente foi assim.
Lembro-me há uns anos em conversa com o actual armador do FUNCHAL, ele me dizer que se ele tivesse sabido, o VER e o SANTA nunca tinham ido para a sucata naquela altura...
Mas o fenómeno não aconteceu apenas por cá. Acreditava-se que o paquete era uma coisa do passado e ninguém levava muito a sério o potencial dos cruzeiros. Paises como os EUA, a França, a Espanha e tantos outros, como a IOtália no que toca à frota estatal, desfizeram-se de tudo em poucos anos. Mesmo os ingleses, pense em quantas companhias tinham... A maior parte desapareceu...

LMC

Unknown said...

I am looking for more high-rez images of this boat. Do you know where I could find some?

Phillip

Duarte Loureiro said...

Por ser filho e neto de marinheiros, tenho a brochura promocional do Paquete Vera Cruz, da Campanhia Colonial de Navegação, de 1952. Com desenhos de António Soares, Manuel Lapa, Jorge Barradas, etc.

Ana Bettencourt said...

Eu viajei neste paquete em 1967, tinha 5 anos e vim a Portugal passar férias.De Luanda/Lisboa/Luanda.Fiquei fascinada desde aí.Ainda hoje sinto o cheiro de bordo, dos camarotes, da sopa dos miudos,lembro das gincanas e jogos e festas que organizavam.Foram as melhores férias da minha vida.Se alguém tiver fotos do interior partilhe sim?Obrigada.Ana Cristina