Monday, October 23, 2006

LUGRE CREOULA "PROMOVIDO" A FRAGATA

A vereadora da Câmara Municipal de Lisboa, Dra. Maria José Nogueira Pinto defendeu, numa entrevista radiofónica a propósito da requalificação da Baixa-Pombalina, a integração das fragatas "D. FERNANDO SEGUNDO E GLÓRIA" e "CREOULA" no referido projecto, encarando mesmo a possibilidade de recuperação do dique do antigo Arsenal de Marinha para aí colocar a "D. Fernando".
Sem querer de forma alguma tirar à ilustre senhora o mérito de não se ter esquecido da Marinha e dos navios, o facto de chamar Fragata ao CREOULA denota uma questão generalizada na sociedade portuguesa actual: falta de cultura marítima. E sem este pressuposto na educação da generalidade dos cidadãos não vai haver nunca política de regresso ao mar consistente. Com um estuário fantástico e um porto natural como há poucos no mundo (Lisboa), os Lisboetas teimam em ignorar grosseiramente o nossos passado, presente e futuro marítimo. E em Lisboa os navios têm sido muito maltratados, nomeadamente os da Marinha. Veja-se o caso da fragata D. FERNANDO que depois do êxito obtido durante a EXPO 98, esteve anos a degradar-se, remetida ao esquecimento na Doca de Alcântara, relegada para um local de atracação sem um mínimo de dignidade, pouco visitada e divulgada...
Entretanto o Município de Almada soube aproveitar a situação e a D. FERNANDO está a ser reparada com o apoio daquela autarquia do Sul do Tejo, e mediante protocolo, deverá ficar os próximos 5 anos exposta ao público na antiga doca-seca da Parry & Sons , em Cacilhas...
Tal como a Dra. Maria José Nogueira Pinto, também gostava muito de qualquer dia ver a faixa do Tejo entre o Cais do Sodré e o Terreiro do Paço revitalizada e com uma tónica nos navios. Um posto de atracação para a SAGRES (que é uma barca de 3 mastros e não uma caravela, como se diz com frequência) e o CREOULA, só viria a embelezar aquela zona nobre da cidade e servia de propaganda naval e maritima. Porque se de facto os navios andam esquecidos dos corações dos lisboetas (para já não falar dos outros prezados cidadãos portugueses), em parte o fenómeno resulta de estes seres magníficos que desde sempre foram a primeira razão de ser de Lisboa, serem hoje parcialmente inacessíveis ao olhar dos Lisboetas.
Escondem-se por detrás de cercas, fiadas de contentores, cancelas de seguranças... E, claro, a todas estas barreiras físicas e securitárias (obrigado, terrorismo islâmico), não se deve esquecer um parâmetro da cultura local, essencialmente conservadora: a Santa Ignorância. E tudo indica que o CREOULA continua a ser um lugre, apesar da promoção da ilústre édil. Bem preservado e operado pela Marinha Portuguesa, embaixador do nosso País em águas estrangeiras e escola flutuante para a nossa juventude.
Texto e foto do "Creoula" de Luís Miguel Correia - 2006

12 comments:

Eurydice said...

Pedir que explicasse a diferença entre BARCA, LUGRE e FRAGATA seria pedir demais?... ;)
Obrigada!

Eurydice said...
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Eurydice said...
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Eurydice said...
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LUIS MIGUEL CORREIA said...

Sendo todos navios de vela, a diferença entre FRAGATA, BARCA e LUGRE reside nas características respectivas, nomeadamente dos mastros e velas.
Assim, uma Fragata (como a nossa D: FERNANDO)era, no tempo da marinha de vela, um navio menor que a nau, mais ligeiro e sem acastelamentos, armado em galera, com 2 cobertas, onde montavam entre 30 a 60 peças de artilharia.
A Barca, de que é exemplo a nossa actual SAGRES (barca de 3 mastros), definindo-se como um navio de vela com 3 ou mais mastros, dos quais apenas o de ré arma pano latino e os restantes pano latino.
LUGRE (exemplo o CREOULA) é um navio de vela de 3 ou mais mastros onde arma pano latino quadrangular. Possívelmente para ficar totalmente esclarecida precisava de uma aula sobre tipos de navios. Resumindo, os navios de vela e os outros são classificados conforme as suas características, e nos veleiros é fundamental para essa classificação, o tipo de mastros , número, e as velas...

Luís Miguel Correia

LUIS MIGUEL CORREIA said...

Fragatas: este nome mesmo em termos de navios e embarcações tem significados diversos. Por exemplo, a "Fragata" D. Fernando não tem relação nenhuma com as "Fragatas do Tejo" ou as aqctuais Fragatas da Marinha de Guerra...
Não é tão complicado como algumas concepções filosóficas que por aí se estuda, mas sempre têm o seu "quê"... E a linguagem e terminologia de Marinha é muito rica.

LMC

Eurydice said...

Estou aver... no fundo, se calhar traduz também o processo histórico, não?

Ou simplesmente se trata de um termo mais genérico do que vulgarmente se pensa?
Ah, estes deleted são meus: postei o comentário em múltiplas, por erro de avaliação da demora no processo de alojamento!...:(

LUIS MIGUEL CORREIA said...

No caso do termo FRAGATA, estamos perante significados diversos da mesma palavra. Por coincidência flutuam todos...

LMC

Eurydice said...

E não há uma ave marinha com o mesmo nome?...

LUIS MIGUEL CORREIA said...

Sim, e da primeira vez que vi Fragatas a voar, fiquei maravilhado, no emisfério Sul. São muito elegantes...

LMC

Anonymous said...

GRANDE FOTOGRAFIA DO «NOSSO» CREOULA!!!!!

VIVA O CREOULA!!!!!!

(nb: vou obviamente linká-lo para o Atlântico Azul!...)

LUIS MIGUEL CORREIA said...

Sailor Girl,
O CREOULA é para mim um velho conhecido. Lembro-me de o ver durante alguns anos atracado dentro da Doca da Marinha, alí à Praça do Comércio, com os mastaréus desmontados, a aguardar destino... Depois acompanhei a sua recuperação em Lisboa na década de oitenta e posterior entraga à Marinha. E agora quando nos cruzamos é sempre um prazer renovado...

Luís Miguel Correia