Tuesday, April 24, 2007

A PROPÓSITO DO TERMINAL DE CRUZEIROS

Um artigo publicado ontem no Diário de Notícias contrário à iniciativa da APL de construir o novo Terminal de Cruzeiros de Lisboa e diversas reacções ao assunto no blogue CIDADANIA LX motivaram a minha reflexão sobre o assunto apresentada abaixo:

O maior erro associado ao projecto do novo Terminal de Cruzeiros de Lisboa reside no atraso da iniciativa em cerca de 10 anos.
Em termos históricos pode fazer-se uma analogia sobre o que apareceu primeiro - o ovo ou a galinha - o que adaptado à nossa Ulisseia se lê - a cidade ou o porto?
Foram as condições naturais únicas do estuário do Tejo que ao longo dos séculos propiciaram a cidade portuária de Lisboa. A zona Terreiro do Paço - Santa Apolónia onde se vai inserir o novo terminal de navios de passageiros é um local de grande tradição marítima, cuja última intervenção ocorreu em 1998 quando da Expo.
A Doca do Jardim do Tabaco e os cais adjacentes está praticamente abandonada e em profunda degradação. Apesar do livre acesso actual, a população não enche o local, assim como os Lisboetas não enchem o Tejo de velas e outras manifestações náuticas, pela razão simples de que hoje as pessoas parecem ignorar o Mar, os Navios e a água. A presença de navios atracados aos cais de Lisboa empresta à cidade uma dimensão cromática e de formas que realça as linhas naturais da cidade e a sua vocação natural para as coisas marítimas.
O terminal de cruzeiros é necessário com a maior urgência. Pode-se discutir a opção estética das soluções arquitectónicas, mas não se deve pôr em causa as funcionalidades portuárias. Porque o PORTO é uma peça fundamental da CIDADE em Lisboa. Pena é que muitas áreas de negócio marítimo tradicionais de Lisboa se tenham evaporado nas últimas décadas.
Os cruzeiros são hoje um dos segmentos da indústria turística internacional com maior taxa de crescimento. Lisboa já perdeu há muito uma possível liderança na Europa Ocidental como porto de embarque e desembarque de cruzeiros a favor de Barcelona. As infraestruturas existentes são insuficientes perante a procura e o novo terminal só peca por atraso.
O local de inserção do novo terminal é excelente. Vai trazer mais valias à zona e proporcionar uma vista privilegiada de Lisboa para quem por umas horas nos visita a bordo de um navio. Muito melhor que na zona Alcântara - Rocha, com um enclave de contentores pelo meio.
Em Portugal parece que as pessoas teimam em cultivar uma resistência retrógada à mudança. Foi assim quando Pombal aproveitou o terramoto para arrasar a baixa e reconstruir tudo de raiz. Andou-se 100 anos a discutir as generalidades da construção de um Porto em Lisboa, iniciativa que só teve concretização no final do século XIX. Tudo isso é atraso. Atraso ao nível de mentalidades, divórcio face às dinâmicas do presente. O Portugal dos pequeninos acarinhado pela inquisição, por Salazar...
Por mim manifesto uma enorme satisfação pela iniciativa da APL. Quanto mais navios em Lisboa melhor. Pena que nenhum seja português...

Luís Miguel CorreiaText and images copyright L.M.Correia, unless otherwise stated. For other posts and images, check our archive at the right column of the main page. Thanks for your visit and comments. You are most welcome at any time - Luís Miguel Correia

24 comments:

Anonymous said...

Concordo! A zona onde ficará o novo terminal de passageiros é realmente muito bonita. O casario de Alfama, o Mosteiro de São Vicente de Fora, o Panteão Nacional... Com essa vista o turista/passageiro ficará de facto deslumbrado.
O que mais me preocupa, como entusiasta de navios, é a dificuldade que poderei ter quando quiser ver ou fotografar os navios. Isto se a APL vedar os cais!

LUIS MIGUEL CORREIA said...

Mar da Palha,

As restrições aos cais serão decorrentes de convenções internacionais e do actual mundo ameaçado pelo terrorismo e toda a espécie de riscos que caracterizam o mundo de hoje e tanto ameaçam a liberdade individual. Nessa perspectiva o futuro local do Terminal de Cruzeiros é o melhor possível, pois não só essa zona tem melhor luz para fotografar os navios do que Alcântara, como o anfiteatro da cidade oferece oportunidades fantásticas, como o miradouro de Santa Luzia. Ou a zona do Terreiro do Paço, onde poderás também fotografar bem os navios de saída à tarde. Do ponto de vista do entusiasta de navios esta é a melhor solução.

Raquel Sabino Pereira said...

Peço-lhe que coloque este post também no Estratégia Azul. É um elemento da maior importância para o documento que iremos elaborar.

Cinco estrelas!...

LUIS MIGUEL CORREIA said...

Obrigado pela sugestão, Sailor Girl...
Irei fazer isso...

VitorMRAraújo said...

Pois é! Também concordo com o novo terminal de passageiros. Por cá, em Matosinhos, também já correm as obras de remodelação do porto de Leixões, e com o novo terminal de passageiros maiores navios irão atracar aqui no norte. O que me agrada muito, pois o costume por estas bandas são paquetes de pequeno porte.

LUIS MIGUEL CORREIA said...

Boa perspectiva, Vitor,
Muitas vezes temos os mesmos navios, um dia em Lisboa e no dia seguinte ou na véspera em Leixões...
Que haja muitos navios de visita aos nossos portos...

LMC

Rafael Silva said...

Não posso de deixar de concordar consigo L Miguel. É realmente pena que quem decide estas questões decida tão tarde. As questões da segurança estão muito impoladas pela comunicação social. Isso sim julgo ser uma das questões mais perigosas da nossa sociedade. A comunicação social deveria ter mais cuidado na divulgação das notícias. Dá-se tanta impotancia à segurança que ela mesma poderá trazer as ameaças à liberdade que aqui falam.
As pessoas vivem já num medo que não existe só porque os Americanos têm medo de sair à rua. À uns dias tive a bordo um Americano nascido em Aifa, Israel. Perguntou-me se eu achava que era seguro fazer cruzeiros no Mediterraneo. As pessoas começam a ter medo da própria sombra por se falar tanto em segurança. O tema está a tornar-se inseguro.
Em relação ao plano do Porto, também concordo. Só acrescentaria mais uma coisinha.
Sem estragar a monumentalidade da praça do Terreiro do Paço, a minha sugestão era fazer como em AMsterdam, construir um pequeno terminal para os navios turísticos do Tejo, para a Marítimo-Turística. Seria uma actividade que cresceria exponencialmente, colocando muitas vagas no mercado de trabalho e contribuindo em muito para a oferta e qualidade turística de Lisboa. Seria também uma boa fonte de receita do Porto de Lisboa.

PauloMestre said...

A zona do Terreiro do Trigo está desvalorizada, e não tem atractivos de nota. Com a reabilitação certa pode-se aproximar os Lisboetas do Tejo, como se vê agora na zona da Expo.

Infelizmente será uma barreira arquitectónica, murada e com arame farpado, a separar Alfama do Rio, mas não se fazem omeletes sem ovos, nem agradar a Gregos e a Troianos.
É um sacrificio necessário, para o bem de Lisboa e do turismo Português.

Paulo Mestre

PS: Com um pouco de sorte apanho os navios a meio do Tejo, apartir dos catamarans do Barreiro, quando estiverem à frente do cais do Sul e Sueste, e o catamaran tiver que o contornar

PauloMestre said...

Pela manhã, se a maré estiver certa, os navios passarão a meio do Rio ou junto à Margem Sul, e apartir do miradouro do Ginjal poderão-se tirar boas fotos.

No Terreiro do Paço, com a reconstrução do Cais das Colunas, tem-se um anfiteatro onde se pode estar comodamente sentado a vê-los passar.

A CML ainda vai é começar a vender lugares cativos nas varandas dos miradouros de Santa Luzia ;)

Parece-me haver muito a ganhar com esta mudança.

Paulo Mestre

Joao Quaresma said...

Peço desculpa mas parece-me que o vosso ponto de vista é demasiado centrado nos navios e leva pouco em conta o ponto de vista de quem mora, de quem passeia, de quem tem os seus negócios em Alfama, e também de quem um dia tiver de socorrer um acidente num desses navios.

Se alguém construísse uma série de blocos de apartamentos com 10 ou mais andares no Jardim do Tabaco, achariam bem? É porque é algo de parecido que vai surgir ali, sabendo-se o tamanho dos navios de cruzeiro actuais, que só tende a aumentar. As imagens 3D da APL são extremamente enganosas: olhando para as dimensões com que o Museu Militar é representado, os navios ali representados não terão muito mais que 25 mil toneladas. Muito longe dos paquetes que navegam por aí, que já ultrapassam as 100 mil. Basta ver no bloque a foto do AIDAdiva, de apenas 70.000, e imaginar um monstro daqueles em frente a Alfama. Penso que em termos de enquadramento urbanístico (se assim lhe quisermos chamar) a volumetria arruína a perspectiva que dali se tem para o rio. Fica uma muralha de navios ao longo daquela frente ribeirinha, tal como aconteceu com os (ainda assim pequenos) paquetes contratados durante a Expo 98, que ficaram às moscas. Aliás, posso estar enganado, mas não tenho ideia de nenhuma cidade da Europa com um terminal de cruzeiros em frente ao seu centro histório medieval.

Além disso, há questões de segurança e prevenção anti-terrorista que desaconselham o local: a demasiada proximidade de um emaranhado de edifícios como é Alfama, o tráfego permanente dos catamarãs que pode dar cobertura a barcos-suicídas dando um escasso tempo de reacção, e o facto de ter uma maior distância para percorrer numa eventual evacuação do porto. Para já não falar nos maus acessos e o intenso trânsito rodoviário que aquela zona têm. Só por aqui já se percebe que a APL não tem nem sequer ideia do faz, e das consequências que podem ter as suas decisões.

Sem dúvida que a Rocha e Alcântara não têm condições condignas, quanto mais não seja porque os "crânios" da APL substituíram uma ponte rodoviária por uma pedonal, onde obviamente não passa nem uma ambulância em caso de incêndio ou um atentado bombista num navio. Imagine-se um incêndio num navio como o QM2, com a altura de um prédio de 16 andares, com 5000 pessoas a bordo, e todo o tráfego de camiões e ambulâncias a ter de passar apenas pelas pontes de Alcântara depois de atravessar o trânsito de Lisboa (o quartel mais próximo é o da Av. Dom Carlos I e duvido que tenham o material que é preciso; a APL tem UM ÚNICO camião de bombeiros). Só num país de terceiro mundo como o nosso é que uma autoridade portuária faz uma barbaridade destas. É também o velho problema daquela zona estar isolada por causa da linha de combóio (que devia ser enterrada). Em contraponto têm fundo suficiente para navios de grande calado; em Santa Apolónia vai ser preciso dragar todos os anos para caber lá um QE2, quanto mais um QM2...). Sem dúvida que é preciso outro local, mas vejo mais desvantagens do que vantagens em Santa Apolónia / Jardim do Tabaco.

Apostaria muito mais na frente entre o Cais do Sodré e a Rocha Conde de Óbidos, incomparavelmente mais desafogada (em terra e no rio)e com uma boa distância entre o cais e a 1º linha de edifícios da Av. 24 de Julho.

Luis Daniel Vale said...

Concordo a 100% com a perspectiva do LMC. Há de facto uma tendência para esquecer que as grandes cidades a nível nacional ou internacional cresceram a partir das suas mais valias portuárias.

Com o desaparecimento de muitos sectores tradicionais ligados à indústria do shipping e o aparecimento de outros serviços mais recentes deu-se o divórcio entre as populações e as frentes ribeirinhas. O caso de Lisboa não é único, há conflitos de interesses em diversas cidades portuárias.

No entanto, quer se queira ou não, um porto é a mais importante infraestrutura que uma cidade pode ter e o seu desenvolvimento só pode trazer benefícios, como ficou provado ao longo dos séculos. Parece que em Portugal é que é novidade… e isto leva-me ao facto de também neste assunto querermos ser diferentes ou tentarmos ignorar o que se passa à nossa volta. Olhe-se para as cidades mais desenvolvidas do mundo (desenvolvimento económico, social e ambiental) e veja-se a importância que atribuem aos seus portos. Poderia fazer uma lista…

Pode discutir-se a altura dos muros ou das vedações, concordo que a paranóia da segurança/terrorismo traz de facto inconvenientes, no entanto não acho que um navio, por muito grande que seja, traga problemas de volumetria à cidade… é que só está lá meia dúzia de horas… e no seu “habitat” natural: o mar (neste caso, o rio). Prédios em terra, navios no mar, parece-me bem. Não esquecer também que os bairros tradicionais alfacinhas são fruto de uma cidade completamente virada para as actividades marítimas (que entretanto as esqueceu).

Assim, entre mais duas esplanadas e um investimento numa área estratégica, fulcral para o desenvolvimento da cidade e do país, com efeito económico multiplicador, eu escolho a segunda opção!

LUIS MIGUEL CORREIA said...

Sr. Quaresma,

Obrigado pela sua participação do que quase parece um debate.

Não concordo com a maioria das ideias e receios que expõe, mas aceito a diversidade de perspectivas de forma positiva.

Este blogue tem como pano de fundo os navios e o mar. Principalmente porque tenho paixão por ambos. Como o assunto é o novo Terminal de Cruzeiros, não me parece estranho que esteja centrado nos navios. É uma questão de coerência.

Vivi em tempos em Alfama. Uma das razões porque saí da casa foi por ter medo de um acidente que destruísse o meu "centro iconográfico e de documentação" que dá suporte à minha actividade de investigação da história dos navios. Por acidente sugiro um incêndio.

Curiosamente, uma das coisas melhores desse período em Alfama era poder observar as ruas a descer para o Tejo com navios atracados no PORTO. Uma simbiose entre a cidade histórica e o PORTO de MAR. Obviamente que era assim porque gosto de navios. Sempre gostei. Mas nem toda a gente gosta ou conhece. Como poderá ser o seu caso. Não gostando de navios terá uma tendência natural para desmaritímizar a Cidade de Lisboa. O que aliás vem sendo feito há muitos anos de forma infeliz e irresponsável. Irresponsável porque nos torna mais dependentes de terceiros e mais pobres por não acrescentarmos uma participação significativa no comércio marítimo apesar de a ele continuarmos a recorrer para mais de 70 % das nossas necessidades de transporte.

Da minha vivência em Alfama sinto que é muito maior a possibilidade de uma desgraça do tipo acontecido no Chiado em 1988 do que ver acidentado à porta de casa um dos grandes navios de cruzeiros que nos visitam regularmente. Navios cujos padrões elevadíssimos de segurança e capacidade para fazer frente a qualquer emergência deveriam ser um exemplo para a nossa própria cidade. E depois, os poucos acidentes que se vão verificando com navios têm origem em erro humano. Estatisticamente, o risco de ter problemas originados por um navio atracado ao futuro terminal de cruzeiros do Jardim do Tabaco é ínfimo. Por essa ordem de ideias, por exemplo desviavam-se os aviões do céu de Lisboa, não fosse um dia algum avião aterrar acidentalmente antes de atingir as pistas da Portela. E por aí fora.
Quanto ao tamanho dos navios "arruinarem a perspectiva urbanística que se possa ter para o Rio", quanto a mim é o contrário. A presença dos navios é uma mais valia para a cidade versus rio, como verifiquei hoje com a presença do paquete MSC OPERA em Santa Apolónia. E depois os navios ficam algumas horas atracados e seguem viagem. E ninguém vai construir prédios de 10 andares no cais. O que se passa é que existe no local um área portuária degradada em vias de ser requalificada. Isso é positivo. A sua alusão aos navios da EXPO parece-me incongruente. Grave é ver um porto sem navios como acontece agora. Se não quer um porto no local, terá os seus mecanismos para fazer valer a sua perspectiva.

Quanto aos responsáveis da APL envolvidos na gestão e planeamento da actividade portuária, tenho o gosto de conhecer e conviver com alguns, que admiro pelas competências e dedicação que demonstram face ao porto. Gente empenhada em fazer sempre o melhor mesmo sabendo das incompreensões diversas e baixas políticas que tanto têm prejudicado a nossa Lisboa Marítima. E actualmente até seguem orientações do Governo, que tem uma maioria absoluta... Conheço as pessoas e sei que sabem o que fazem e quais as consequências das suas acções...

As suas preocupações quanto à segurança traduzem enquadramentos dos nossos dias que transcendem atitudes e rotinas normais de pessoas de bem. Mas convém não dar ideias a potenciais meliantes.

A zona onde o terminal vai ser construído é a melhor para o efeito. Os fundos entre o Cais do Sodré e Santos são maus e menos profundos, exigindo dragagens caras e frequentes. No JT o novo cais vai avançar para o rio, criando melhores fundos estáveis.

Quanto a cidades com terminais de cruzeiros no centro histórico, os exemplos são imensos,caso de Hamburgo, Bordéus, Funchal, Ponta Delgada, Copenhaga, Estocolmo, Cádis, Barcelona, Helsínquia, Amesterdão, Londres, Nova Iorque, Génova, Veneza, Dubrovnik, e tantos outros. Menos sorte têm as cidades portuárias que gostavam de ter também essa felicidade e não conseguem.
E gostar de navios, para mim é uma felicidade...

LMC

LUIS MIGUEL CORREIA said...

Malheiro do Vale,

O seu comentário é pertinente. Às vezes apetece-me mandar às urtigas toda uma vida de dedicação à divulgação do mar e actividades marítimas,mas já é tarde para o fazer. Mas não há métodos por mais didácticos que sejam para fazer ver ao povo terráqueo as belezas do mar e dos navios ou paciência para tanta ignorância e tantas esplanadas.
Este País é de facto ingovernável com tanto bloqueio mental...

LMC

Joao Quaresma said...

Caros Srs. Luis Miguel Correia e Malheiro do Vale,

Em primeiro lugar gostaria de deixar claro que gosto imenso de navios, caso contrário não teria vindo ver este blogue. Mas também gosto muito de Lisboa. E enquanto os navios podem mudar de lugar, Lisboa não. E tal como discordei em absoluto da ideia selvagem de João Soares de construir um elevador da baixa ao Castelo, discordo de um terminal de cruzeiros com estas características em Santa Apolónia / Jardim do Tabaco. A foto colocada hoje do MSC Opera é perfeitamente elucidativa do que eu digo: a volumetria de um navio de cruzeiros é excessiva para a aquela zona, mesmo que cada escala seja de umas horas. Um navio ali já choca, quanto mais quando estiverem três ou mais.

Estou 100% por cento de acordo com o que dizem do abandono a que foi votada a actividade marítima e a relação da cidade com o porto. Mas recordam-se do que era a frente fluvial de Lisboa há vinte anos atrás? Mal se via o rio. Agora que se "devolveu" o rio à cidade, que se criaram condições para haver restaurantes, esplanadas, discotecas e outro comércio, vai-se encerrar 600 metros de vista para o rio atrás de um muro de OITO metros de altura (só para se ter uma ideia, o Muro de Berlim tinha 3,6 metros de altura)? Por favor. Parece-me que não estão a ver bem o que se está a preparar.

Que se aproveite o porto, que se criem infraestruturas capazes e que Lisboa seja um importante destino de navios de cruzeiro (e de caminho que haja boas oportunidades de tirar boas fotografias). Em suma, que se recupere o atraso, mas tudo dentro do razoável. Esta localização, na minha opinião, não é. Maratimizar a cidade à força, não.

Quanto à competência e sentido de responsabilidade da APL, os resultados estão à vista (por exemplo, aquela "maravilhosa" pala por baixo da Ponte, que é mais um elefante branco que terá servido apenas para alguém encher os bolsos). E é especialmente revoltante que façam as coisas pela calada, apresentando-as como um facto consumado (como a torre em Pedrouços). Se fosse coisa boa, que desse votos, de certeza que tinham feito mais publicidade.

E já que desabafaram, permitam-me também um desabafo: já estou farto de ver Lisboa a ser estragada. De tanto "melhoramento" que eu tenho visto à beira rio que quase concluo que o melhor é que não façam rigorosamente nada.

LUIS MIGUEL CORREIA said...

Caro Sr. João Quaresma,

Gosto muito de Lisboa. Mas não me choca ver o MSC OPERA a descer o Tejo ou atracado frente à estação de SA...
Por outro lado não sou tão seguro acerca de o Tejo ter sido devolvido aos Lisboetas. Houve foi um abrandamento de actividades portuárias e em alternativa desenvolveram-se outros negócios na área do Porto.
O problema mais significativo associado a tudo isto é o da falta de continuidade de políticas, que se tem verificado no Porto de Lisboa, e em tantos outros sectores da vida do País. Instabilidade política, terrorismo partidário, etc... Só a APL nos últimos anos teve "N" administrações, cuja actividade foi alterar a estratégia desenvolvida pela administração anterior. É assim em tudo no País. Quem paga somos todos nós.
Voltando aos paquetes de Santa Apolónia, a nossa divergência é uma questão de gosto. Ontem, depois de ver sair o navio olhei para o cais e a cidade e senti um vazio. Como tenho saudades do Verão de 1998 quando durante meses os navios da EXPO compuseram o cais do Jardim do Tabaco...

LMC

Rafael Silva said...

Sr João Quaresma,

Partilho as opiniões do L Miguel e do SR Malheiro do Vale.
Não pederemos estar sempre com a retorica de devolver o Rio à Cidade. A Cidade existe porque o Rio está lá. E que tal devolver a Cidade ao Rio?
O Porto de Lisboa é fundamental para a economia da cidade de Lisboa, em várias valencias.
Trabalho com muitas nacionalidades e o que me dizem é que não conseguem entender porque é que com um estuário destes, temos um porto tão pequeno. É claro que a dimensão do porto tem de se ajustar às cargas que movimenta. Havendo passageiros, então é obrigação do porto, aumentar a sua oferta para esse mercado. A Cidade diz; - Obrigado APL

Raquel Sabino Pereira said...

Debate muito interessante e positivo. Mas enquanto «serram presunto», que tal visitarem o Cais da Moita e verem o que os jovens andam por lá a fazer?...

E, já agora, dêem um saltinho ao Atlântico Azul, onde foi aberto um concurso para a escolha de um nome a atribuir a um novo catraio, propriedade de uma jovem moitense de 14 anos... Um exemplo a seguir!

Pronto, podem continuar o debate. Da minha parte, adoro Lisboa vista do Tejo, do Ar e de Terra!... Linda cidade, de cores claras e um céu do mais azul que existe!!!

E torço para que o terminal de cruzeiros fique bem perto do Centro, para que os turistas, quando chegarem às suas terras, digam quão bom é visitar Lisboa e que simpáticos são os lisboetas!!!

João Quaresma, já visitou algum navio de cruzeiros como este, atracado em Santa Apolónia? Já navegou em algum? Já embarcou/desembarcou em Lisboa?
EU JÁ!

L M Correia: que tal convidar o João Quaresma para um passeio pedestre pelos cais?

Rafael Silva: temos de levar o João Quaresma a andar no Príncipe Perfeito!!!

LUIS MIGUEL CORREIA said...

Sailor Girl,

Melhor que ir passear o Sr. Quaresma pelo cais, sugiro uma experiência diferente: vendo-lhe um exemplar autografado e com dedicatória sentida da obra prima CAIS E NAVIOS DE LISBOA...

LMC

Joao Quaresma said...

Caro LMC:

Por outro lado, a mim já me choca tanta coisa quando chego à beira Tejo... O CCB (dessem-me umas toneladas de TNT e a requalificação urbanística que eu fazia..), o Museu de Arte Popular (que está fechado há anos e que de qualquer maneira ninguém visitava; sei que chegaram a estar 1 mês e 3 semanas sem ter um único visitante; mais valia venderem aquilo à Portugalia que fazia melhor figura), as gares de Alcântara e da Rocha vazias e com um terminal de contentores pelo meio, a Doca do Espanhol com lixo abandonado no cais (defensas, amarras, sucata) e os antigos armazéns ao abandono, a nova ponte pedestre na RCO que fecha às 19H e quem for apanhado desprevenido tem que dar a volta a toda a doca, e poderia continuar.

Há coisas que de facto chocam a vista como o terminal de contentores de Alcântara (que o Eng. Ferreira do Amaral em tempos dizia que devia acabar para ser transformado numa área de lazer). Mas penso que faz falta ao porto e à economia do país, e que à falta de melhor solução, tem que se aguentar. Os terminais de cacilheiros também não são própriamente bonitos mas o que tem de ser tem muita força.

Agora o terminal de cruzeiros em Santa Apolónia / Jardim do Tabaco é que está longe de ser uma fatalidade e também poderemos ver os belos dos navios acostados noutro lado. Eu também gosto de navios de guerra e ficaria horrorizado com uma base naval em Santa Apolónia.

Como você disse, o que falta é um ordenamento da cidade por funções, segundo as suas necessidades e capacidades. A linha de combóio que parte do Cais do Sodré devia ser transformada em túnel até Belém, libertando-se o acesso à orla fluvial. O terminal dos cacilheiros do Terreiro do Paço devia passar para Santa Apolónia uma vez que o metro já lá chega (e deverá vir a ter ligação à linha da Expo; a urbanização de Lisboa nas próximas décadas passa sobretudo pela zona Oriental) e tem ligação próxima ao combóio, e espaço mais amplo para autocarros e táxis. Por outro lado, a Estação de Santa Apolónia está obsoleta, e precisa de ser demolida e trocada por uma estação a sério e moderna, possivelmente mais deslocada do centro da cidade por falta de espaço.

A zona desde a Doca da Marinha até ao Cais do Sodré seria uma zona de lazer e turística, desimpedida, e a zona comercial seria retomada após o Cais do Sodré, de acordo com as capacidades do local. Na impossibilidade do uso do Cais do Sodré por ser pouco profundo, a solução preferível seria manter o terminal no cais da Rocha, desde que toda a zona fosse ordenada e valorizada.

Caro Rafael Silva,

Tem naturalmente razão no que diz mas como amante do mar e dos assuntos ligados às actividades marítimas, já ouvi de sucessivos governos muita "conversa" de boas intenções, sempre explorando a nostalgia de voltarmos ao mar, e coisas do género. Lembro-me do muito que foi dito e prometido, por exemplo, nos anos 80 com o Plano de Navegabilidade do Douro: porta-contentores fluviais a trazerem e a levarem mercadorias para Espanha, o desenvolvimento das cidades à beira Douro, a colocarem as suas mercadorias em Leixões mais facilmente, os X camiões a menos nas estradas, etc, etc. Resultados? Espatifaram umas dezenas de milhões de contos que os únicos que aproveitam são os cruzeiros no Douro (e vá lá que ainda há quem aproveite...). Lembro-me também do PM Guterres na popa de uma corveta a dizer que «O grande destino de Portugal é o Mar». O mar é um sempre um assunto propício para tangas políticas até porque os peixes não votam. Por isso estou sempre de pé atrás com as boas intenções.


Cara Sailor Girl,

E quando os turistas (os que chegam por todos os meios, não apenas de paquete) andarem por Alfama à procura dos becos por onde se vê o rio, como os que os guias turísticos anunciam, e em vez disso só virem um muro com a altura de um prédio de três pisos e por detrás deste um mastodonte da altura de um prédio de 10 andares? E quando os turistas circularem à procura de uma esplanada à beira rio e olharem para um lado e é um porto comercial, a seguir é o muro que veda o terminal e depois é a estação dos cacilheiros? E depois é-lhes dito que esplanadas à beira rio, só no Cais do Sodré (poucas, a dois quilómetros) ou na Expo (uns 6 ou 7 KM). Acha razoável? Não me parece.

Nunca fiz uma viagem de cruzeiro nem vi Alfama desde um paquete. Um dia destes. O melhor que fiz foi visitar o Infante Dom Henrique quando esteve em Sines, e a experiência foi um tanto deprimente.

Eu penso que conheço todos os cais de acesso público de Lisboa e quanto a passeios pedestres, faço por todas as semanas a minha corrida/caminhada Alcântara-Pedrouços-Alcântara pelo menos uma vez. Mas terei todo o prazer em fazer um passeio com o LMC, se ele quiser.

E um passeio no Príncipe Perfeito também não estaria nada mal.

Cumprimentos a todos.

Joao Quaresma said...

LMC,

Ah bom. Já está a aproveitar para fazer negócio. :)))

Cumprimentos.

Raquel Sabino Pereira said...

Ó João Q., está a ser injusto com o LMC!!... Não sabe que o livro que ele lhe venderá está muito esgotado e ele só tem meia dúzia (ou talvez um pouco mais) para vender??? Aproveite enquanto há!!!
E vamos então passear todos no Príncipe Perfeito!!!

LUIS MIGUEL CORREIA said...

Sailor Girl,

Se o negócio se concretizar tem direito a comissão...

LMC

Raquel Sabino Pereira said...

Bem... Nunca pensei iniciar-me assim nestas áreas mercantilistas!!! João Quaresma, ajude-me a receber a minha primeira comissão da Vida!!! Prometo que lhe farei também uma dedicatória «sentida»!!!!

Joao Quaresma said...

pioneerMas então é mais justo que os últimos exemplares vão parar às mãos de pessoas mais interessadas no tema do que eu. Mas obrigado na mesma, tenho a certeza de que são bons livros.

Sailor Girl: Fica para a próxima. A comissão e a dedicatória.

Cumprimentos,

JQ