Friday, August 10, 2012

A SUIÇA e o Comércio Marítimo...



O porta-contentores Beatrice, da empresa MSC, entra no porto de Antuérpia. (Keystone)

A Suíça é um discreto gigante da marinha mercante (Por Andrea Ornelas, swissinfo.ch)
Aproximadamente 90% do comércio global de mercadorias é feito por via marítima. A Suíça – um país sem mar – é a segunda potência mundial de um sector – que não gosta de publicidade – graças à Mediterranean Shipping Company (MSC), sediada em Genebra.
Silenciosa, quase às escondidas, a Suíça tornou-se no século 21 um centro nevrálgico para o comércio internacional de matérias primas. A explicação leva o nome de Genebra, que “foi capaz de oferecer uma rede que integra simultaneamente empresas de comércio, bancos, seguradoras, transporte marítimo e controle de qualidade”. É o que sublinha à swissinfo.ch Bernard Morard, decano da Faculdade de Ciência Económicas da Universidade de Genebra (Unige).
Dentro da rede de serviços que descreve Morard, o transporte marítimo tem um papel fundamental, pois 90% do volume do comércio mundial é feito por via marítima. No sector, a pequena Suíça, situada no centro da Europa, é uma das principais potências.
Número dois: Dinamarca, Suíça e França são os três países com maior capacidade de operação de navios porta-contentores do mundo, segundo a edição 2011 da Revista de Transporte Marítimo (RTM) publicada pela Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD, na sigla em inglês).
“Uma grande parte da presença suíça deve-se à companhia MSC, sediada em Genebra”, afirma Jan Hoffmann, diretor da secção de Facilitação do Comércio da UNCTAD. Em Janeiro de 2011 – com uma frota de 422 navios – MSC concentrava 10,8% da capacidade mundial de carga marítima por contentores. Esse dado só é superado pela dinamarquesa Maersk Line (11,2% do mercado global) seguido pela francesa CMACGM Grupo (6,6%). 
Na sua Revista 2011, a UNCTAD revela que o transporte marítimo é uma actividade na qual apenas 20 empresas concentram 70% do mercado internacional.
A gigante MSC: A MSC recusou conceder uma entrevista à swissinfo.ch. “Como empresa privada que somos não revelamos resultados financeiros”, respondeu a empresa por e-mail. O jornal Financial Times escreveu que se trata de um grupo “que jamais publicou resultados financeiros e cujos executivos se recusam rotineiramente às entrevistas”. O diário detectou também que é uma empresa que prefere o crescimento “orgânico”, isto é, a expansão interna e não através de fusões ou aquisições. É uma característica que a própria MSC reconhece no perfil empresarial que publica em sua página na internet.
O fundador da MSC é o italiano Gianluigi Aponte, cuja fortuna estimada é de 28 bilhões de dólares, estava em 412° lugar entre os mais ricos do mundo, na lista da revista Forbes de 2008.
Sobre os primeiros anos da empresa, um executivo suíço aposentado que se dedicou ao transporte marítimo de cargas nos últimos 30 anos, aceita esboçar o perfil da companhia, mas pede para preservar o seu anonimato. “O lema do grupo no ano 2001 era: A terra cobre um terço da Terra. Nós cobrimos o resto. Creio que isso diz muito sobre a filosofia da MSC”, revela. “Aponte fundou a sua empresa com um capital que permitiu comprar um navio alemão de segunda mão chamado Patricia. Um ano depois, adquiriu um outro navio chamado Rafaela, o nome de sua esposa. E os primeiros negócios importantes da MSC ocorreram entre o Mediterrâneo e a Somália”, explica.
Um clã hermético: Emmanuel Fragnière, professor do Departamento de Economia Empresarial da Escola Superior de Gestão (HEC) de Genebra, considera que o comércio internacional tem sido importante para a Suíça há muitos anos. 
A Suíça entrou em cheio no negócio das matérias primas depois da Segunda Guerra Mundial negociando cereais em Genebra. “Porém foi a queda do bloco soviético que impulsionou Genebra como centro comercial e a China provocou o actual crescimento com as suas gigantescas importações.”
Apesar de sua importância estratégica, a indústria suíça do transporte marítimo não gosta de aparecer. A Swiss Marine, Riverlake e Shipping Assets Management (SAM), entre outros participantes do mercado, também não quiz dar entrevistas à swissinfo.ch. “Isso tem a ver com a cultura do mercador, quer dizer, com a discrição; um mercador do passado jamais devia dar informação sobre preços, se queria manter sua capacidade competitiva”, explica Fragnière. 
Esse hermetismo torna impossível saber inclusive o número exacto de empresas que exercem essa actividade em Genebra, pois existem empresas que oferecem múltiplos serviços, entre eles o transporte marítimo de cargas. “Também não existem estatísticas oficiais na Suíça sobre essa actividade. O HEC tenta pesquisar para preencher essa lacuna”, afirma. 
Tempos de mudança: Em escala mundial, as cifras disponíveis confirmam o desempenho excepcional do sector até ao início da crise. O comércio marítimo mundial em contentores passou de 2 a 4 bilhões de dólares entre 2001 ou 2008, segundo a UNCTAD. O negócio caiu 4% em 2009 e, a partir daí, começou um período de reajuste que ainda não terminou. Bernard Morard afirma que o comércio mundial em geral regista uma menor actividade e maiores problemas de financiamento. 
Por outro lado, a geografia dos negócios altera-se. Em Maio passado, o gigante das matérias primas Trafigura anunciou que vai mudar parte de suas actividades de Genebra para Singapura. Victoria Dix, porta-voz do grupo, confirmou a noticia à swissinfo.ch e explicou que a empresa esteve muito centrada na Europa e como o centro de consumo muda para a Ásia, a Trafigura procura estar mais perto de seus clientes. É uma decisão estratégica que poderia ser tomada por outros grupos. Os tempos futuros podem ser, portanto, menos generosos. “Se se confirma uma recessão no hemisfério norte com efeitos nos próximos 20 anos, o transporte marítimo pode ser afectado”, precisa à swissinfo.ch Jan Hoffmann. Porém o especialista da UNCTAD destaca que as mudanças climáticas poderia ser uma aliada desse setor, já que o transporte marítimo é um meio de transporte menos poluente do que o aéreo e o terrestre.”
Andrea Ornelas, swissinfo.ch - adaptação de L. M. Correia.

1 comment:

LUIS MIGUEL CORREIA said...

Muito interessante este artigo que adaptei para Português europeu.
Claro que tudo isto tem muito que se lhe diga, a começar pela razão de uma empresa italiana estar sediada em Genebra - onde encontraram a competitividade e discrição que não estará disponível em Itália.
A MSC tem tantos admiradores como detractores, sendo conhecida pelos primeiros como MIRACLE SHIPPING COMPANY e pelos segundos como MAFIA SHIPPING COMPANY.
A companhia detém uma posição comercial importante em Portugal, nomeadamente como cliente principal de contentores do porto de Sines.