Wednesday, December 18, 2013

DOCA DE ALCÂNTARA em 1975


Embora tenha feito as minhas primeiras fotografias de navios em 1970, só a partir de 1975 consegui equipamento de qualidade que me passou a possibilitar cobrir a navegação e a vida portuária de Lisboa com regularidade, o que hoje me permite observar as mudanças e sentir alguma nostalgia dos tempos iniciais. 

Estas duas imagens foram registadas na manhã de 20 de Agosto de 1975: saí de casa na Infante Santo ao amanhecer, atravessei as Janelas Verdes, desci as escadinhas da Rocha e fui a bordo do paquete INFANTE DOM HENRIQUE fotografar o terceiro maior navio de passageiros do mundo então ainda em actividade, o navio inglês ORIANA, de 1960, que pouco depois atracou ao cais da Rocha. Tudo  a pé.
A manhã estava linda e não resisti a fazer estas duas imagens, pelo caminho. A primeira mostra uma panorâmica da Doca de Alcântara, com o cargueiro grego PANARRANGE como tema central. Estava atracado logo à entrada da doca a descarregar carga - caixotes vindos de Angola, território então a caminho da independência. Em reparação pela Lisnave (Rocha), pode ver-se o arrastão búlgaro MELANITA, tipo de navio que passou a utilizar Lisboa para reparações e estadias após o 25 de Abril. No canto direito pode ver-se a proa do FUNCHALENSE (de 1968) e atracado no cais da CTM, do lado do rio, podem ver-se o paquete INFANTE DOM HENRIQUE, então a fazer as últimas viagens na carreira de África, e pela sua proa, os mastros do PORTO, também da CTM. Pela popa do PANARRANGE, que era um cargueiro a vapor interessantíssimo, tendo pertencido originalmente à companhia Norddeutscher Lloyd, pode ver-se uma das pequenas lanchas da CTM, CARCAVELOS ou MONFORTINHO, ambas herdadas da CCN, e ainda a popa do MADALENA. Pelo meio é pródiga a presença de batelões e outras unidades auxiliares que então enchiam de vida o Porto de Lisboa. Não há vestígios de contentores, cuja operação na altura estava confinada a Santa Apolónia.

A segunda imagem foi tirada da ponte móvel, a segunda que existiu, inaugurada em 1927. As linhas alemãs do PANARRANGE destacam-se nesta imagem, também muito rica de pormenores curiosos: pela proa do PANARRANGE podem ver-se dois batelões da CTM, que aqui deixo para o nosso Amigo Nuno Bartolomeu identificar. A jusante deste grande cargueiro (que estava fretado à CTM), podem ver-se os cargueiros MADALENA e JOÃO DA NOVA, da CTM. A manobrar na doca pode ver-se o rebocador MUTELA, já com as cores da CTM, que manteve até 1979, quando foi vendido à Socarmar. O MUTELA iria ser pouco tempo depois um auxiliar precioso para um primeiro salto qualitativo das minhas fotografias, pois comecei a embarcar nele com frequência e a fotografar a navegação do meio do rio ao mesmo tempo que admirava a mestria do Mestre Zé, sempre pronto a fazer um desvio de rota para o LMC fotografar melhor este ou aquele navio...

Voltando à descrição desta fotografia, ressalta o cargueiro holandês CARACAS BAY, em reparação pela Lisnave, de que não tenho recordações especiais, e ainda os edifícios da CCN, demolidos recentemente para darem espaço a mais contentores. A revolução dos transportes marítimos dos anos sessenta, com a especialização dos navios, o aparecimento da contentorização e a proliferação de graneleiros cada vez maiores ainda mal se fazia sentir em Portugal, que andava atrasado e entretanto perdeu os comboios do progresso marítimos graças à DESMARITIMIZAÇÃO que se iniciava então...
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1 comment:

CAP CRÉUS said...

Em Agosto de 75 tinha 2 meses, mas depois de começar a ser "gente" e de frequentar este cais e os outros, lembro-me perfeitamente de quase tudo e dos navios que ali atracavam.
Tem de colocar mais fotos desse tempo aqui.
Boas festas!