Tuesday, November 10, 2015

A vil tristeza da nossa desmaritimidade


Os navios são lindos, iluminados pelo sol tardio deste nosso verão de São Martinho, ali para os lados da ponte-cais da Matinha, transformada em porto de espera para o fim de navios que já ninguém quer. 
Os navios são os paquetes de cruzeiros clássicos PORTO e FUNCHAL, as cores são as da defunta Portuscale Cruises que recriaram as da antiga Empresa Insulana e emprestam uma dignidade estética inexcedível. Por aqui passou o LISBOA, entretanto desmantelado na Turquia, lá estão o PORTO e o FUNCHAL, herança de George Potamianos, antigo armador de ambos e grande amigo de Portugal, salvador do FUNCHAL em 1985 e profundo conhecedor do mundo dos cruzeiros internacionais, que muito fez para recriar antigas tradições dos portugueses no mar, com os seus 6 paquetes, operados de 1985 a 2012. Nesse ano ficaram cinco navios nas mãos do banco Montepio, quatro dos quais integraram no começo de 2013 a nova empresa Portuscale Cruises que acabou por não conseguir consolidar um projecto difícil e algo ambicioso, mas deu nova oportunidade ao FUNCHAL que foi renovado e voltou ao mar de Agosto de 2013 a Janeiro de 2015. 
Este projecto falhou infelizmente e os paquetes FUNCHAL e PORTO permanecem no Tejo a aguardar destino que dificilmente será bom. E vender o FUNCHAL por tuta e meia como acabará por acontecer será um certificado final de incapacidade da actual geração de portugueses como armadores e operadores de navios. Alienar o FUNCHAL que é um navio único, de características muito especiais e apreciadas em todo o mundo, é uma espécie de crime de lesa património, mas ninguém parece estar preocupado com esta situação. Situação que encerra um ciclo de desmaritimização alimentada por uma incapacidade de interesses portugueses se interessarem pelos negócios marítimos, o que é grave. E assim se perde tudo a começar pela vergonha imensa.

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4 comments:

Anonymous said...

Caro Amigo,
É deveras uma triste sina... que dizer...

Abraços
--
Rodrigues Morais

CAP CRÉUS said...

Há um mês, num dia de chuva estive ai precisamente a fazer umas fotos.
Com chuva o cenário é ainda mais triste.

Tanto mar à nossa volta e tanto imbecil incompetente...
Não tenho nenhuma esperança num bom fim para esses dois meninos.

Anonymous said...

Foi precisamente o que eu disse,no tempo em que a nova Companhia se formou,achei muito demais para a mesma adquirir quatro navios e comecar nova vida.Ainda se a Portuscale Cruises entrasse para o mercado de cruises com um navio apenas ,o nosso Funchal,ainda assim talvez sobrevivesse,com alguma dificuldade mas era mais facil sobreviver,mas com quatro de uma vez,e ainda nao eram novos o que implica maiores despesas de manutencao o que nos dias de hoje sao muito altas,e muito dificile sobreviver nessas condicoes...fiquei triste em saber como vai a Portuscale,o que a muito custo ,depositava nela ainda alguma confianca,para continuar a ver a nossa bandeira correr o mundo nos navios da P.C.,mas pelo visto chegou ao fim o que muito me entristece;fui um da lista dos passageiros da viagem inaugural em 1961 Acores-Lisboa via Madeira,o que me permitiu de conhecer o Sr. Vasco Bensaude,o entao proprietario da extinta Enpresa Insulana de Navegacao.

87300sdl said...

E em ultimo caso apelar ao mais alto magistrado da nação, hoje empossado, não?.... Não será certamente o Prof. Marcelo, pelo seu perfil, sensível ao tema?...
Argumentos não faltam a começar pelo facto de o Funchal poder ser considerado, por exemplo, património nacional...
Não é ele o mais antigo paquete do mundo a conservar o seu nome desde que foi lançado ao mar há 55 anos atrás?
Alguma coisa se terá de fazer.