A Companhia de Navegação Carregadores Açoreanos tinha sede em Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, e havia sido constituída a 15 de Março de 1920 tendo iniciado no ano seguinte as suas carreiras para Inglaterra e o Norte da Europa transportando ananases. Com a segunda guerra mundial os Carregadores Açoreanos alargaram a actividade aos Estados Unidos da América com a linha de Nova Iorque, estabelecida em 1940 e que seria mantida até 1985, quando da liquidação da CTM.
Terminada a guerra em 1945 os Carregadores Açoreanos encomendaram a estaleiros holandeses e britânicos a construção de quatro navios rápidos de carga e passageiros de 3.900 toneladas de porte bruto para a linha de Nova Iorque, tendo o VILA DO PORTO sido o último a ser entregue, no Verão de 1949.
“Na sua primeira viagem à América, o novo navio (de carga e passageiros) HORTA chegou a Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, na quarta-feira, dia 2 de Março de 1949.” O Jornal do Comércio (de 4-03-1949) noticiou que “a bordo seguia o director-delegado (dos Carregadores Açoreanos), Dr. Luís Tavares, que embarcou em Lisboa. Os corpos gerentes (da empresa armadora) foram ao encontro do navio fora do porto, fazendo aquele uma prova de velocidade , em que atingiu 17 milhas. Numerosas girândolas de foguetes e morteiros assinalaram a entrada do barco no porto. A nova unidade era aguardada no molhe Salazar por muitos curiosos.”
O Jornal do Comércio informava ainda que no Sábado o HORTA seguiria em “viagem de cortesia para a cidade da Horta, na ilha do Faial” a fim de ser homenageado “por usar aquele nome”. De facto o HORTA esteve na cidade da Horta pela primeira vez a 6 de Março, em ambiente de festa. De seguida voltou a Ponta Delgada “com os directores”, largando depois para Nova Iorque.
O n/m HORTA era um navio bonito. O casco era semelhante aos dos dois navios anteriores da companhia, RIBEIRA GRANDE e MONTE BRASIL, construídos na Holanda, mas o casario e chaminé apresentavam linhas mais conservadoras, tipicamente britânicas. Com cascos cinzentos claros, linha de água verde, mastros amarelos e chaminés brancas com tope preto, estes navios dos Carregadores pareciam iates. O HORTA navegou durante mais de 30 anos e acabou por ser desmantelado em Alhos Vedros em 1981. Prestou bons serviços e deixou saudades. Ver as características e ficha histórica do HORTA aqui.
Ao contrário do HORTA, infelizmente o VILA DO PORTO teve uma carreira curta, terminada de forma acidentada por encalhe por fora do molhe norte do porto de Leixões, em resultado do embate no rochedo "Leixão Grande" às 05H20 de 20 de Março de 1955, quando efectuava a sua vigésima oitava viagem iniciada em Lisboa na véspera, com destino a Nova Iorque e escalas em Leixões, Funchal, Ponta Delgada e Angra do Heroísmo, com carga geral composta essencialmente por cortiça e conservas de peixe. O navio preparava-se para entrar em Leixões com mau tempo e visibilidade muito fraca, tendo-se marcado como o farol da ponta do Esporão um projector luminoso instalado nessa noite para ajudar ao desencalhe da lancha de fiscalização das pescas N.R.P. CORVINA, que por sua vez tinha encalhado após garrar dentro do porto numa zona de areia junto ao molhe norte horas antes da perda do VILA DO PORTO. O navio dos Carregadores Açoreanos ficou preso no Leixão a meio navio com a proa e popa a flutuar, batido fortemente pelo mar "muito adornado a estibordo, com a casa da máquina alagada, jogando fortemente e batido violentamente pelas vagas que o atravessavam de estibordo para bombordo, alguns camarotes das superestruturas já alagados (...) julgou-se o risco de o navio partir e afundar-se, pelo que o capitão ordenou os pedidos de socorro que foram feitos com o apito e lançamento de foguetões", conforme descrito no Protesto de Mar assinado pelo capitão e tripulantes do VILA DO PORTO, depositado na capitania do porto de Leixões no dia 21 de Março de 1955. O navio foi socorrido de imediato, estabeleceram-se dois cabos de vai-vem, pelos quais se desembarcaram todos os tripulantes, o passageiro e a mascote de bordo, a cadela Negrita que depois foi adoptada por um director da agência David de Pinho. O Comandante foi o ultimo a abandonar o navio. O casco do VILA DO PORTO partiu-se na tarde de 20 de Março e o mar destruiu o navio em poucos dias, perdendo-se a carga e os haveres dos tripulantes. Em sua substituição foi comprado na Suécia o navio AÇORES em 1958, cuja aquisição foi autorizada pelo Ministro da Marinha mediante compromisso do armador de mandar construir outro cargueiro em estaleiros nacionais, o que de facto aconteceu com a construção em Viana do Castelo, em 1959-1960, do n/m PONTA GARÇA.
A Companhia de Navegação Carregadores Açoreanos, que operou sempre carreiras regulares internacionais em concorrência com armadores estrangeiros, foi comprada em 1971 pela Empresa de Tráfego e Estiva S.A., de Lisboa, que no ano anterior havia adquirido a Insulana à Família Bensaude e em Dezembro de 1972 foi integrada na Empresa Insulana de Navegação, por fusão. Esta por sua vez fundiu-se em Fevereiro de 1974 com a Companhia Colonial, dando origem à CTM – Companhia Portuguesa de Transportes Marítimos, cuja vida infelizmente foi breve. Nacionalizada em 1975 e mal administrada pelo Estado Português acabou por ser liquidada em Maio de 1985 por altura da segunda intervenção do Fundo Monetário Internacional em Portugal.
Características e história do VILA DO PORTO aqui.
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