Wednesday, August 04, 2010

LMC no "JORNAL DA MADEIRA"

Artigo publicado no Domingo 1 de Agosto no JORNAL DA MADEIRA, do Funchal, com apoio no meu segundo livro, intitulado PAQUETES PORTUGUESES. A primeira imagem (ampliar fazendo pressão sobre a mesma com o rato) é uma entrevista com perguntas sobre a perspectiva de a ARMAS ampliar os seus serviços em águas portuguesas.

Nova ligação marítima entre o Funchal e o continente à procura do auge da década de 70

De “Armas” e bagagens rumo a Lisboa

Esta nossa viagem pela história das ligações marítimas entre continente e Madeira começa em 1858, altura em que a necessidade de estabelecer comunicações regulares levou à formação da Companhia União Mercantil. Mediante contrato com o Governo, a empresa detinha por 20 anos o exclusivo da navegação a vapor nacional, obrigando-se a assegurar uma viagem mensal para a África Ocidental, além de ligações para o Algarve, Madeira e Açores. Para assegurar estes serviços, a empresa recebia um subsídio inicial de 60 contos e 58 contos anuais. Quantias que acabaram por não garantir o sucesso da iniciativa. De tal forma que em 1864 se assiste à liquidação da empresa, obrigando o Estado a subsidiar generosamente armadores ingleses para dar continuidade às linhas.

Depois de alguns anos conturbados, o ano de 1871 trouxe um período de maior estabilidade para a navegação portuguesa, marcado pela formação de diversos armadores, o primeiro dos quais a Empresa Insulana de Navegação, constituído em Ponta Delgada nos Açores. Os paquetes da Insulana ligaram o continente aos principais portos dos Açores e da Madeira durante mais de um século, com grande importância para o desenvolvimento local. Para isso muito contribuiu o contrato assinado a 11 de Novembro de 1874, entre o Estado e a Insulana, na sequência da qual passou a ser integrada uma viagem mensal à Madeira. Esta seria assegurada pelo navio “Insulano”. A viagem era subsidiada com 1125$000 réis. Porém, o “Insulano” perdeu-se por abalroamento no início de 1875, quando a 20 de Janeiro saía de Lisboa, na sua primeira viagem à Madeira.

Em 24 de Julho de 1878, a Insulana celebrou outro contrato com o Estado, na sequência do que passou a receber um subsídio anual fixo de 40500$000 réis, obrigando-se a efectuar viagens regulares para as ilhas com saídas de Lisboa nos dias 5 e 20 de cada mês. Esta última escalava a Madeira, tanto na ida como no regresso aos Açores.

Em 1878, uma passagem em 1.ª classe a bordo dos paquetes “Açor” ou “Luso” custava 27$000 réis, entre Lisboa e Funchal. Mas, em 1883, a Insulana acaba por perder o “Luso”, que encalhou, passando as viagens para as ilhas a serem asseguradas pelo fretamento do vapor “Benguella”, que largou a 20 de Setembro de 1883 na sua primeira viagem à Madeira.



Insulano manteve normalidade na I Guerra



Em 1884, as viagens foram concretizadas com o vapor “Funchal”, que navegou até 1927. Pelo meio, esteve o “Açor”, que depois é substituído pelo “San Miguel”, que representou um grande progresso nas ligações marítimas com a Madeira e os Açores. A viagem inaugural à Madeira e aos Açores ocorre a 20 de Maio de 1905.

Quando a Primeira Grande Guerra deflagrou, em Agosto de 1914, a Insulana entregou ao Estado a administração dos seus serviços, sendo que as carreiras regulares para a Madeira e Açores passaram a ser operadas pelo Serviço Insulano de Navegação, até 1919.

Um dos episódios mais conhecidos da acção da Marinha de Guerra Portuguesa durante a I Guerra Mundial está relacionado com o paquete “San Miguel”, à saída do Funchal para uma viagem que o levaria até Ponta Delgada. A 14 de Outubro de 1918, o navio foi atingido a tiro pelo submarino alemão “U139”, sendo que na sequência da batalha que se seguiu, o comandante Carvalho Araújo acabaria por sacrificar a sua vida, assim como do caça-minas “Augusto de Castilho”. Todavia, o “San Miguel” acabou por chegar a Ponta Delgada.

Com o términos da guerra, a década de 20 é caracterizada por instabilidade política e económica, o que resulta num período difícil para a Marinha Mercante portuguesa. As frotas da Nacional e da Insulana estavam velhas e desactualizadas, os Transportes Marítimos do Estado (TME) eram mal geridos e faziam concorrência às restantes empresas nacionais. Exemplo deste tipo de actuação foi a exploração do vapor “Gil Eanes” na carreira da Madeira e Açores em concorrência com a Insulana. De 15 de Junho de 1921 a 16 de Fevereiro de 1922 fez oito viagens à Madeira e Açores, transportando passageiros e carga.

No dia 17 de Dezembro de 1929, foi lançado à água o paquete “Carvalho Araújo”, em homenagem ao heróico comandante, destinado à carreira da Madeira e Açores, de novo com a Insulana em pleno funcionamento. Largou para a viagem inaugural a 23 de Abril de 1930.

Neste mesmo ano, a 5 de Fevereiro, a Companhia Colonial de Navegação inaugurou uma carreira regular para a África Oriental, cuja primeira viagem foi efectuada pelo “Mouzinho”, coincidindo com a inauguração deste paquete ao serviço da CCN. Com saída de Lisboa, o itinerário incluía os portos do Funchal, São Tomé, Luanda, Porto Amboim, Lobito, Cape Town, Lourenço Marques, Beira e Moçambique.



Thomaz bem tentou mas armadores retraíram-se



O Funchal tornou-se numa espécie de porto obrigatório e quando a II Guerra Mundial deflagrou, a 1 de Setembro de 1939, eram vários os navios que se encontravam na rota. Por exemplo, o “Nyassa” partira de São Tomé em 21 de Agosto para o Funchal e Lisboa, enquanto o “Quanza” saíra a 29 de Agosto do Funchal para São Tomé.

A Companhia Colonial de Navegação dispunha de quatro navios de passageiros, entre os quais o “Colonial”, que partira de Luanda a 29 de Agosto rumo ao Funchal com o presidente da República de regresso da sua viagem a Moçambique, enquanto o “Mouzinho” saíra, igualmente de Luanda a 28 para São Tomé, Funchal e Lisboa. O “Guiné” deixara Cabo Verde a 26 de Agosto, para o Funchal.

Com o final da Guerra, em 1945, e ultrapassados os condicionalismos de natureza económica que, na década de 30, impossibilitaram Portugal de modernizar a frota mercante, o ministro da Marinha, comandante Américo Thomaz publicou a 10 de Agosto um despacho contendo linhas de orientação quanto à renovação da marinha de comércio nacional e organização do sector. Assim, aparece o “Pátria”, que a 26 de Janeiro de 1948 iniciou em Lisboa a sua primeira viagem a Moçambique, com as habituais escalas no Funchal.

A Insulana chegou a ponderar mandar construir dois paquetes, mas desistiu, continuando as carreiras para a Madeira e Açores a ser asseguradas pelo “Lima” e o “Carvalho Araújo”.

A entrada em serviço, entre 1948 e 1949, dos novos paquetes destinados à linha de África marcou o início da renovação da frota de navios de passageiros portugueses, mas algumas companhias optaram por manter em serviço alguns velhos paquetes, que passaram a andar vazios. Um dos primeiros a parar foi o “Guiné”, cujos últimos anos foram passados na ligação entre Lisboa, Funchal, São Vicente, Praia e Bissau, com algumas variantes. Entre 1945 e 1947 o navio foi fretado à Insulana, fazendo sete viagens à Madeira e Açores em substituição do “Lima”.

Com os anos 50, o crescimento do tráfego insular fazia-se notar. A Empresa Insulana de Navegação dispunha, em Janeiro de 1956, dos vapores “Carvalho Araújo” e “Lima”, e dos navios-motores “Arnel” e “Cedros”, sendo que os dois primeiros mantinham as carreiras da Madeira e Açores. Porém, o aumento do tráfego de passageiros entre Lisboa e o Funchal impunha a substituição do velho “Lima”.

Ao mesmo tempo, Américo Thomaz continuava a promover o desenvolvimento da frota nacional, nomeadamente, a construção de novos paquetes, entre os quais, um de 10 mil toneladas, destinado a uma ligação turística entre Inglaterra, Lisboa, Casablanca e o Funchal. Mas, havia também a intenção de adquirir dois paquetes de 20 mil toneladas destinados a uma nova carreira transatlântica entre Lisboa e Nova Iorque com escala nos Açores. Chegou mesmo a ser ponderada a possibilidade de esta linha ser efectuada por outro armador, a constituir por fusão das empresas Insulana, Carregadores Açorianos, Madeirense e Transportes do Funchal, sendo também atribuídos a esta nova companhia os paquetes destinados às ilhas e ao serviço de Inglaterra para a Madeira.

Porém, a falta de entusiasmo dos armadores acabou por deitar por terra muitos dos projectos de Américo Thomaz.

No final da década de 50, a actividade dos navios de passageiros portugueses desenvolvia-se apenas nas carreiras de África, Oriente, ilhas, Brasil e América Central. Com a venda do navio “Serpa Pinto”, a linha da América Central passou a ser efectuada pelo “Vera Cruz” e pelo “Santa Maria”, continuando estes navios a assegurar igualmente a carreira do Brasil. A primeira viagem do “Vera Cruz” à América Central teve início em Lisboa, a 19 de Julho de 1954, com escala no Funchal. Já o “Santa Maria” realizou a sua viagem inaugural a 24 de Abril de 1955, escalando igualmente esta cidade.

No Verão de 1956, o “Pátria” foi desviado temporariamente da carreira de África, largando de Lisboa a 4 de Agosto para o Funchal rumo a Santos. Na viagem seguinte, iniciada a 7 de Setembro, o “Pátria” visitou portos da América Central, tocando o Funchal rumo a Havana.

Por sua vez, a ida do “Santa Maria” a Angola levou a que o “Uíge” fizesse uma viagem ao Brasil, saindo de Lisboa a 15 de Julho de 1958, com passagens por Funchal.



“Funchal” foi reviravolta nas ligações



A insuficiência das ligações entre Lisboa e a Região levou ao fretamento do paquete “Alfredo da Silva” pela Insulana, para efectuar em 1959 e 1960 uma série de viagens semanais subsidiadas pelo Estado, ao mesmo tempo que decorriam negociações para ser encomendado um novo paquete destinado às ligações insulares, muito semelhantes ao que antes chegara a ser considerado para servir o turismo com a ligação regular entre a Inglaterra e a Madeira.

Desta forma, nasce a encomenda, em 1959, da construção do novo “Funchal”, preparado para transportar 3.483 metros cúbicos de carga geral e frigorífica em três porões, nomeadamente, automóveis, bananas e correio. No dia 5 de Novembro de 1961, largou de Lisboa na viagem inaugural aos portos insulares, fazendo escalas no Funchal, em Ponta Delgada, Angra do Heroísmo e Horta.

Entretanto, o desenvolvimento das ligações aéreas com as ilhas inicia-se a partir dos anos 60, mas isso não impediu o aumento do número de passageiros nos paquetes. Aliás, um acidente em Novembro de 1958 com o hidroavião “Porto Santo” levou à suspensão das ligações entre Lisboa e a Madeira até à inauguração, em 1960, do aeroporto de Porto Santo. Os voos passaram a ser feitos pela TAP, seguindo depois os passageiros para o Funchal no ferry “Lisbonense”, navio que foi depois substituído pelo “Cedros” da Empresa Insulana, que esteve fretado à TAP de 1 de Dezembro de 1962 até 7 de Julho de 1964, fazendo a ligação entre as duas ilhas. Neste ano, foi inaugurado o aeroporto de Santa Catarina.

Ao mesmo tempo, os paquetes portugueses efectuavam cruzeiros com alguma frequência. O “Príncipe Perfeito” inicia as viagens entre 29 de Junho e 3 de Julho de 1962, tendo o navio visitado o Funchal. As viagens redondas do “Funchal” à Madeira e Açores e à Madeira e Canárias proporcionavam também bons cruzeiros a partir de Lisboa. Este navio era presença obrigatória no Funchal em cruzeiros de fim-de-ano, assim como o “Santa Maria”.

De 8 a 23 de Agosto de 1968, o “Ponta Delgada” da Insulana fez igualmente um cruzeiro ao Funchal e as viagens regulares do “Santa Maria” à América Central podiam também ser efectuadas como cruzeiro, com uma tarifa especial que em 1971 custava de 17 a 37 contos por passageiro conforme o alojamento escolhido. Fazia-se a viagem redonda de Lisboa a Lisboa, em 28 dias, com escalas no Funchal, rumo a Port Everglades.

No início de 1966, os navios “Israel” e “Zion” despertaram o interesse de dois armadores portugueses. A Sociedade Geral, que pretendia substituir o “Rita Maria” na linha de Angola, adquiriu o “Zion” e a Empresa Insulana comprou o “Israel”. Os navios passaram a chamar-se “Amélia de Mello” e “Angra do Heroísmo”, respectivamente. A 1 de Maio, o primeiro largou do Tejo na viagem inaugural, sendo que na viagem de regresso passava pelo Funchal.

Em Junho de 1966, o navio “Funchal” sofreu uma avaria grave nas caldeiras e turbo-geradores quando seguia dos Açores para a Madeira, situação que obrigou o “Angra do Heroísmo” a ir ao Funchal buscar os passageiros do navio avariado, na sua primeira viagem ao serviço da Insulana.

Embora o “Funchal” tivesse substituído oficialmente o “Lima” em 1961, este último continuou a fazer as viagens às ilhas, transportando carga e passageiros. Este barco fez as suas últimas viagens às ilhas em 1968.



“Boom” na aviação iniciou declínio nas ligações



Com a chegada dos anos 70, e a introdução dos Boeing 747 nas linhas de África pela TAP, inciou-se o declínio da frota portuguesa. Ainda assim, a 19 de Setembro de 1968, a Insulana adquire à Sociedade Geral o “Lúrio”, que passa a chamar-se “Faial”, largando em 26 de Setembro na primeira viagem, mantendo-se na carreira dos Açores e Madeira até Maio de 1972.

Em 16 de Junho de 1973, e depois de algumas alterações a bordo, o “Funchal” vira uma nova página na sua vida, iniciando uma série de cruzeiros regulares quinzenais com saídas de Zeebrugge, passando pelo Funchal e Ponta Delgada. O navio servia também o mercado português, proporcionando cruzeiros às ilhas com partida e regresso a Lisboa, com possibilidade de transporte de automóvel.

A venda do “Angra do Heroísmo a 5 de Abril de 1974 levou o “Uíge” a fazer diversas viagens à Madeira e aos Açores no final de 1973 e em 1974. Para manter a carreira da Madeira e Açores com um navio de passageiros, a “Insulana” chegou a considerar a aquisição de um paquete tipo ferry, mas os acontecimentos político-sociais desse ano levaram ao adiamento desse investimento, tornando as regiões autónomas portuguesas os únicos territórios insulares europeus sem ligações marítimas para passageiros.

Confrontado com a situação, o Governo, em Setembro de 74, obrigou a CTM a retirar o “Funchal” dos cruzeiros turísticos, voltando a operar o navio em viagens regulares à Madeira e aos Açores. A exploração acabou por ser negativa, com viagens efectuadas no Inverno praticamente sem passageiros. Acabou por ser imobilizado a 19 de Outubro de 1975, com avaria nas máquinas

Como consequência de dois despenhamentos de aviões ocorridos em Dezembro de 1977 no Aeroporto de Santa Catarina, o “Niassa”, que se encontrava no “Mar da Palha”, ainda foi reactivado de 7 de Janeiro a 4 de Março de 1978, para fazer oito viagens entre Lisboa e Funchal.

Não podem ser esquecidos também diversas gerações de navios mistos de passageiros e carga, os navios da banana denominados “Madeirense” e “Funchalense” que entre 1927 e 1990 fizeram regularmente as viagens Lisboa - Funchal todas as semanas.



Armas propõe reactivar linha encerrada há 30 anos



Desde então, as ligações de passageiros entre as ilhas e o continente permaneceu “esquecida” durante 35 anos. Até que, a 15 de Junho de 2008, a Naviera Armas, armador canariano, decide reintroduzir a ligação, operando de Canárias para o Funchal e depois para Portimão.

Agora, aquando do lançamento à água do seu mais recente projecto, o “Volcán del Teide”, o presidente do armador, António Armas, anunciou que a “Naviera” pretende iniciar uma nova linha entre a Madeira e a área de Lisboa (Lisboa, Setúbal ou Sines). A filosofia da ligação vai manter-se tal como acontece com Portimão, com a saída das ilhas Canárias, escala no Funchal, rumo ao continente.

in “Paquetes Portugueses” (fotos)

8 comments:

LUIS MIGUEL CORREIA said...

A propósito de um comentário do bloguista madeirense Paulo M. Farinha acerca deste artigo e de uma eventual posição minha contra a NAVIERA ARMAS, tentei publicar no seu blog o comentário seguinte:

Ilustre Farinha,

Vejo com mágoa profunda que está atacar-me a propósito não sei bem de quê.
Chama-me expert? E eu que sempre lutei contra os oportunismos habituais deste nosso país de espertos...
Não sem em que se baseou para sugerir que estarei contra a presença do ARMAS em águas portuguesas?
Não estou contra o Naviero canário em nada, apenas lamento que a Marinha de Comércio Portuguesa não tenha maior dinamismo e ainda o facto de nos últimos 35 anos os poderes publicos e privados nacionais não terem preenchido a lacuna que era a situação de inexistência de transporte marítimo regular de passageiros entre o Continente e a Madeira.
Se olhar para a história de Portugal, verá como no passado mais ou menos recente o nosso país pagou caro ao deixar-se iludir ao acreditar não ser preciso haver marinha mercante em Portugal, por os navios estrangeiros serem melhores e mais baratos. Uma posição grave de traição por omissão e ignorância.

Vivemos num mercado aberto e todos têm direito a navegar, mas ninguém faz contas ao custo para a economia nacional dos pagamentos por utilização de navios estrangeiros. Esquecem-se que continua a existir uma coisa chamada balança de pagamentos...

Um futuro melhor para Portugal passa por desenvolvimento e crescimento sustentado e para tal há que implementar novas iniciativas e criar riqueza. Não estamos condenados a nos deslumbrarmos com a vista de navios de navios estrangeiros para o resto da nossa existência. Temos de regressar ao mar em todos os sentidos. Além de iniciativas oficiais e privadas do sector, esse regresso ao Mar Português implica uma cultura marítima mais generalizada que anule o actual analfabetismo marítimo e o complexo de inferioridade dos Madeirenses face às Canárias. Ser diferente em termos culturais e económicos não tem de implicar ser pior. E uma dimensão menor não perde os seus encantos...

LUIS MIGUEL CORREIA said...

A propósito de um comentário do bloguista madeirense Paulo M. Farinha acerca deste artigo e de uma eventual posição minha contra a NAVIERA ARMAS, tentei publicar no seu blog o comentário seguinte:

Ilustre Farinha,

Vejo com mágoa profunda que está atacar-me a propósito não sei bem de quê.
Chama-me expert? E eu que sempre lutei contra os oportunismos habituais deste nosso país de espertos...
Não sem em que se baseou para sugerir que estarei contra a presença do ARMAS em águas portuguesas?
Não estou contra o Naviero canário em nada, apenas lamento que a Marinha de Comércio Portuguesa não tenha maior dinamismo e ainda o facto de nos últimos 35 anos os poderes publicos e privados nacionais não terem preenchido a lacuna que era a situação de inexistência de transporte marítimo regular de passageiros entre o Continente e a Madeira.
Se olhar para a história de Portugal, verá como no passado mais ou menos recente o nosso país pagou caro ao deixar-se iludir ao acreditar não ser preciso haver marinha mercante em Portugal, por os navios estrangeiros serem melhores e mais baratos. Uma posição grave de traição por omissão e ignorância.

Vivemos num mercado aberto e todos têm direito a navegar, mas ninguém faz contas ao custo para a economia nacional dos pagamentos por utilização de navios estrangeiros. Esquecem-se que continua a existir uma coisa chamada balança de pagamentos...

Um futuro melhor para Portugal passa por desenvolvimento e crescimento sustentado e para tal há que implementar novas iniciativas e criar riqueza. Não estamos condenados a nos deslumbrarmos com a vista de navios de navios estrangeiros para o resto da nossa existência. Temos de regressar ao mar em todos os sentidos. Além de iniciativas oficiais e privadas do sector, esse regresso ao Mar Português implica uma cultura marítima mais generalizada que anule o actual analfabetismo marítimo e o complexo de inferioridade dos Madeirenses face às Canárias. Ser diferente em termos culturais e económicos não tem de implicar ser pior. E uma dimensão menor não perde os seus encantos...

Paulo Farinha said...

Caro Luís M. Correia

O JM Madeira publicou no dia 1 de Agosto um extenso artigo "Madeirenses "voltam" ao Mar", depois do ferry canariano "Volcan del Teide" ser apadrinhado pela esposa do Presidente do Governo Regional da Madeira no dia 15 de Julho de 2010 em Vigo.
Segundo o JM, Luís Miguel Correia é hoje considerado um dos "experts" no que toca à navegação em Portugal. Foi o autor de um livro intitulado "Paquetes portugueses" e acedeu comentar ao JM a intenção do Armas em voltar a ligar 35 anos depois, a Madeira a Lisboa.
Por um lado, diz que a empresa veio desmistificar a ideia falsa de que viajar por Mar entre a Madeira e o Continente era um arcaísmo do passado. Mas, por outro, alerta contra o deslumbre com o altruísmo de operadores estrangeiros.

Quanto ao termo deslumbre, naturalmente que é aplicável ao novo e deslumbrante superferry "Volcan del Teide" que a Madeira merece, pertencente ao armador canariano Naviera Armas de 1941, escrevendo positivamente sobre este armador desde 2006, isto é, depressa percebi as potencialidades dos ferrys deste armador que não é um mero operador altruísta estrangeiro, mas, nosso vizinho mais próximo. O reino de Espanha é vizinho de Portugal e o Arquipélago das Canárias onde se encontra sediada a Naviera Armas, são nossos vizinhos com a ilha de La Palma mais próxima da Madeira, 230 milhas (425Km).
Mais informo que todos os jornais que se referem a este armador são entregues à Naviera Armas.
Felizmente existe um grupo coeso de defensores de viagens de ferry entre a Madeira e Continente incluindo eu, que faço a defesa através do meu Blogue.
O novo ferry Volcan del Teide é um investimento de 120 milhões de Euros, que certamente será amortizado, com o navio escalando provavelmente Setúbal, prevendo-se um aumento exponencial de passageiros, e de carga rodada.
O navio escalando o porto de Ponta Delgada além do transporte de passageiros naturalmente concorrerá para o escoamento dos produtos açorianos em especial os lacticínios e derivados, para a Madeira, Canárias, Cabo Verde e Continente. Isto é importante para os Arquipélagos da Macaronésia.
A Naviera Armas representa efectivamente um traço de união entre a Macaronésia e o Continente.
Este comentário é extenso, mas teve que ser, para se perceber minimamente a importância das ligações por ferry do armador Armas.
Cumprimentos
Paulo Farinha

Paulo Farinha said...

Caro amigo Luís M. Correia
Já somos poucos a defender as causas do Mar em Portugal, e de modo algum ataquei o conceituado escritor e bloguista marítimo, Luís Miguel Correia, a propósito da notícia "Madeirenses "voltam" ao Mar" publicada no Jornal da Madeira no dia 1 de Agosto.

Eu chamei expert ao visado? Leiam a notícia clicando na imagem (no meu Blogue).
O meu artigo "Paulo Farinha e os alertas à navegação" publicado neste Blogue no dia 1 de Agosto, começa assim!
"Em Portugal infelizmente existem poucos "experts" no que toca à navegação.
Hoje o JM Madeira publicou um extenso artigo "Madeirenses "voltam" ao Mar", depois do ferry canariano "Volcan del Teide" ser apadrinhado pela esposa do Presidente do Governo Regional da Madeira no dia 15 de Julho de 2010 em Vigo.
Segundo o JM, Luís Miguel Correia é hoje considerado um dos "experts" no que toca à navegação em Portugal. Foi o autor de um livro intitulado "Paquetes portugueses" e acedeu comentar ao JM a intenção do Armas em voltar a ligar 35 anos depois, a Madeira a Lisboa.
Por um lado, diz que a empresa vei desmistificar a ideia falsa de que viajar por Mar entre a Madeira e o Continente era um arcaísmo do passado. Mas, por outro, alerta contra o deslumbre com o altruísmo de operadores estrangeiros."
Outro assunto, o seu comentário foi publicado no meu Blogue.
Cumprimentos
Paulo Farinha

LUIS MIGUEL CORREIA said...

Caro Farinha,

Em vez de porta-voz da ARMAS na(Madeira) S.A., já pensou em lançar a FFF - FARINHA FAST FERRIES?

Olhe que gente com iniciativa e meios não faltam na Madeira. É uma questão de dinamizar o projecto e saber como e o que fazer.

Repito que não tenho nada contra a ARMAS, mas não gosto de hegemonias e por este andar qualquer dia temos a ARMAS a fazer o papel de CARNIVAL CORPORATION da Macaronésia.

Um abraço amigo do

LUIS MIGUEL CORREIA

Paulo Farinha said...

Caro amigo Luís M. Correia.

FFF - FARINHA FAST FERRIES?
Ah! ah! ah!
É melhor do que FFF Fado, Fátima, Futebol, ah!ah!ah!
Bom! parece que o mal entendido está sanado.
Vamos continuar a defender as causas do Mar, naturalmente cada um com as suas convicções.

Um abraço
Paulo Farinha

Luis Filipe Morazzo said...

Caro LMC

Apreciei bastante este teu último artigo sobre as ligações regulares entre o continente e a Madeira. A forma criteriosa e bem estruturada que escolhestes para o resumires fizeram dele uma boa lição sobre uma problemática que se arrasta até ao presente.
No entanto gostaria de fazer dois reparos: o primeiro está relacionado com a classificação de caça-minas que atribuístes ao navio “Augusto de Castilho”, ao invés de patrulha. Se o nosso amigo, o Sr. Comandante Ferreira dos Santos ler este teu artigo, podes contar pela certa com muito chumbo grosso. O outro reparo é em relação ao histórico do navio “Lurio”, quando dizes em determinada altura, “a 19 de Setembro de 1968, a Insulana adquire à Sociedade Geral o “Lurio”, que passa a chamar-se “Faial”. Acredito que em vez de Sociedade Geral, querias escrever CNN.
Errar é humano, até mesmo os EXPERTS como tu, não são excepção à regra.
Aproveito para tirar o meu chapéu pela excelente fotografia da passagem do testemunho do “Albacora” ao “Tridente”. “Just Gorgeous” diriam as nossas amigas inglesas

Saudações marinheiras

Luis Filipe Morazzo

LUIS MIGUEL CORREIA said...

Luís Filipe,

O artigo que leste não foi escrito por mim, mas por um jornalista que se baseou no meu livro PAQUETES PORTUGUESES de 1992. A questão do LÚRIO tem que se lhe diga, pois logo após ter sido comprado pela Insulana, este pequeno paquete esteve fretado à Sociedade Geral a fazer viagens a Cabo Verde.
Já a questão das minas do ELITE, isso é também história antiga, mais grave que isso é o facto de eu me recusar a publicar as arqueações dos navios em metros cúbicos...