Em termos marítimos Portugal voltou a ser uma terra de Cacilheiros e mesmo estes estão a desaparecer
O antigo secretário de Estado da Marinha Mercante e das Pescas e ex-Presidente da Soponata, Eng. José Carlos Gonçalves Viana voltou a apelar para a necessidade de "uma Marinha Forte" no texto acabado de publicar no seu blogue NOSSO MAR:
"Em 2015 temos vindo a comemorar a conquista de Ceuta há seiscentos anos. E uma das razões apontadas para a decisão de D.João I conquistar Ceuta foi a necessidade de Portugal afirmar ou confirmar a sua independência face ao poderio do seu vizinho ibérico. Aliás aconteceu no seguimento das políticas seguidas desde D. Afonso Henriques que privilegiavam o desenvolvimento da nossa Marinha única forma de não dependermos dos caminhos por terra e assim foi tomada a decisão certa porque tinham sido criadas as condições para que isso fosse possível.
Convém recordar que a conquista de Ceuta obrigou a mobilizar mais de 200 embarcações de grande porte durante quase dois anos e o País não parou as suas atividades económicas que eram então praticamente todas por via marítima.
També convém recordar que D. João I ocupou o trono apoiado principalmente pela burguesia de Lisboa, Porto e Lagos pois a maioria da nobreza apoiava D. João de Castela cerca de trinta anos antes e portanto embora ela não mostrasse ainda interesse na atividade marítima, o que parece só ter acontecido depois da primeira viagem de Vasco da Gama à Índia, tinha de facto interesse numa conquista militar e económica que seria também um ato de expansão da fé cristã.
O movimento dos descobrimentos que se desenvolveu a seguir dirigido pelo Infante D. Henrique utilizando os fundos da Ordem de Cristo, herdeira dos Templários, e tendo a colaboração ativa dos empresários e dos técnicos das três cidades atrás citadas que permitiu a Marinha Portuguesa ser a mais poderosa da Europa e dominar o oceano atlântico, o que inclusive permitiu D. João II empurrar a frota espanhola para a América central, libertando o Atlântico sul para chegarmos em primeiro lugar à Índia.
Mas note-se que tudo isto foi realizado pela Marinha Portuguesa que foi durante séculos a base da nossa independência. Após a fuga para o Brasil da corte em 1808 e dadas as alterações tecnológicas da revolução industrial que Portugal não acompanhou, até porque já não tínhamos desde a expulsão dos judeus no século XVI empresários capazes, praticamente ficámos sem uma Marinha forte e por isso perdemos a nossa independência ficando à mercê de interesses estrangeiros.
O que, tirando alguns anos durante o Governo de Oliveira Salazar, se tem mantido com altos e baixos, por vezes muito baixos como aconteceu em 2011 após de quase trinta anos de políticas que se diziam social democrátas mas que na realidade eram próximas do neoliberalismo malgovernado com os resultados à vista.
Ora verifica-se que um país, tal como uma família ou uma empresa, não pode ser gerido como se fosse uma tesouraria porque esta não pode passar a ser mais do que uma ferramenta da gestão e nada mais. Muito importante com certeza mas só uma ferramenta.
Ceuta foi conquistada porque tínhamos um Governo forte e uma Marinha forte.
Os descobrimentos foram realizados porque tínhamos a Marinha mais forte e uma população preparada, motivada e colaborante.
Agora depois de termos perdido a independência ainda parece não termos aprendido que sem Marinha forte jamais seremos independentes.
E para ter uma Marinha forte é forçoso tomar decisões concretas e operacionais que galvanizem a população e não passar o tempo todo em reuniões e encontros enquanto as oportunidades vão passando à nossa frente para serem aproveitadas por estrangeiros, a quem inclusive vamos vendendo o que mais valor tem como as empresas estruturalmente nacionais e os nossos técnicos mais especializados, enquanto a maioria da nossa população ativa não tem acesso ao mar como se comprova comparando a nossa situação náutica com a de países europeus alguns dos quais nem sequer estão junto à costa.
E para terminar é motivo para grande preocupação assistir a campanha eleitoral em que este assunto não é tratado quer pelos partidos políticos quer pela comunicação social com o valor que na verdade tem.
Lisboa, 25 de Agosto de 2015 - José Carlos Gonçalves Viana
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