A vereadora
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da Câmara Municipal de Lisboa, Dra. Maria José Nogueira Pinto defendeu, numa entrevista radiofónica a propósito da requalificação da Baixa-Pombalina, a integração das fragatas "D. FERNANDO SEGUNDO E GLÓRIA" e "CREOULA" no referido projecto, encarando mesmo a possibilidade de recuperação do dique do antigo Arsenal de Marinha para aí colocar a "D. Fernando".
Sem querer de forma alguma tirar à ilustre senhora o mérito de não se ter esquecido da Marinha e dos navios, o facto de chamar Fragata ao CREOULA denota uma questão generalizada na sociedade portuguesa actual: falta de cultura marítima. E sem este pressuposto na educação da generalidade dos cidadãos não vai haver nunca política de regresso ao mar consistente. Com um estuário fantástico e um porto natural como há poucos no mundo (Lisboa), os Lisboetas teimam em ignorar grosseiramente o nossos passado, presente e futuro marítimo. E em Lisboa os navios têm sido muito maltratados, nomeadamente os da Marinha. Veja-se o caso da fragata D. FERNANDO que depois do êxito obtido durante a EXPO 98, esteve anos a degradar-se, remetida ao esquecimento na Doca de Alcântara, relegada para um local de atracação sem um mínimo de dignidade, pouco visitada e divulgada...
Entretanto o Município de Almada soube aproveitar a situação e a D. FERNANDO está a ser reparada com o apoio daquela autarquia do Sul do Tejo, e mediante protocolo, deverá ficar os próximos 5 anos exposta ao público na antiga doca-seca da Parry & Sons , em Cacilhas...
Tal como a Dra. Maria José Nogueira Pinto, também gostava muito de qualquer dia ver a faixa do Tejo entre o Cais do Sodré e o Terreiro do Paço revitalizada e com uma tónica nos navios. Um posto de atracação para a SAGRES (que é uma barca de 3 mastros e não uma caravela, como se diz com frequência) e o CREOULA, só viria a embelezar aquela zona nobre da cidade e servia de propaganda naval e maritima. Porque se de facto os navios andam esquecidos dos corações dos lisboetas (para já não falar dos outros prezados cidadãos portugueses), em parte o fenómeno resulta de estes seres magníficos que desde sempre foram a primeira razão de ser de Lisboa, serem hoje parcialmente inacessíveis ao olhar dos Lisboetas.
Escondem-se por detrás de cercas, fiadas de contentores, cancelas de seguranças... E, claro, a todas estas barreiras físicas e securitárias (obrigado, terrorismo islâmico), não se deve esquecer um parâmetro da cultura local, essencialmente conservadora: a Santa Ignorância. E tudo indica que o CREOULA continua a ser um lugre, apesar da promoção da ilústre édil. Bem preservado e operado pela Marinha Portuguesa, embaixador do nosso País em águas estrangeiras e escola flutuante para a nossa juventude.
Texto e foto do "Creoula" de Luís Miguel Correia - 2006