Mais uma fotografia do paquete a turbinas ANGRA DO HEROÍSMO, da Empresa Insulana de Navegação.
Um ângulo em que se destacam as linhas elegantes do navio, e as suas origens alemãs, pois o ANGRA foi construído em Hamburgo segundo projecto alemão.
Para ver a ficha técnica e histórica deste paquete, clique aqui...
Texto e imagens /Text and images copyright L.M.Correia. For other posts and images, check our archive at the right column of the main page. Click on the photos to see them enlarged. Thanks for your visit and comments. Luís Miguel Correia
Um ângulo em que se destacam as linhas elegantes do navio, e as suas origens alemãs, pois o ANGRA foi construído em Hamburgo segundo projecto alemão.
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2 comments:
Não consigo evitar um comentário a esta foto do "A. do Heroísmo"...Conheci-o ainda como "Israel" ( e ao irmão "Zion", depois "Amélia de Melo" ) quando escalava P.Delgada, em viagem da América para Telavive, com emigrantes. Mais tarde, em Julho de 66, fiz a 1ª viagem de Lisboa para os Açores do "Angra" - e, ainda acostado no cais da Rocha, ouvi pela 1ªvez, através da amplificação de bordo,o "Strangers in the night", do Sinatra.
Dos paquetes da Insulana que conheci, o "A. do Heroísmo" foi o meu preferido - o "Lima", velha reliquia, era encantador, paineis de madeira no interior, cadeiras de palhinha, escadas com corrimão de madeira, jardim de inverno à moda antiga, mas muito lento..Era bom para o mar, tinha um bom balanço longitudinal, e até se dizia que, dada a provecta idade do casco, tinha o fundo, no interior, reforçado com cimento..O "Carvalho Araújo", mais novo, era um bocado "rolha", (redondo de casco, rolava um bocado) e era um pouco mais rápido do que o "Lima"..À época, vigorava a separação dos passageiros, por classes: os da 3ª, com camarotes colectivos por debaixo dos guinchos dos paus de carga, quase à ré, podiam ir às instalações da 2ª, na popa, mas era-lhes vedado o acesso às da 1ª; para as refeições, havia que percorrer o navio, pelo interior, até à proa, onde ficava a messe da 3ª, passando pela zona de acesso à casa da máquina e apanhando assim com os odores do "mazute", em jeito de aperitivo para a "sopa Primavera" e o guisado de carne da praxe.
Os mais entendidos percebiam que ia surgir mau tempo quando viam passar os marinheiros com latas de óleo às costas, rumo à casa da máquina do leme, à popa..era importante que o mecanismo estivesse bem lubrificado, para melhor resposta às ordens da ponte..
Tanto o "Lima" como o "C.Araújo" "fumavam" muito, e quem não olhasse para a direcção do vento, candidatava-se a um banho de fuligem de primeira qualidade.. Com bom tempo, o ambiente a bordo era agradável; as freirinhas do costume - muito viajavam as santinhas! - cantando "O mar enrola na areia", o camaroteiro tocando o pequeno xilofone que chamava para as refeições, os estudantes derriçando entre si, caixeiros-viajantes comparando negócios, ciganos avaliando hipóteses de venda de uns cortes de excelente fazenda para fatos, por vezes uma companhia de circo, ou uma "troupe" de carrinhos de choque em viagem até aos Açores - a par de militares em comissão, funcionários do Estado colocados nas ilhas, ou simplesmente familias em viagem de férias - sermpre anunciadas nos jornais da terra - "no paquete C.Araújo segue hoje para Lisboa, em viagem de férias, o sr. fulano de tal,distinto professor do Liceu Nacional de P.Delgada, acompanhado pela sua mulher e filhos, etc.."
Saía-se de S.Miguel, por volta das 22H, navegava-se o dia seguinte, mais uma noite e, pela manhâzinha, lá estava a Madeira..Acabado de "baldear" o navio, os mais madrugadores já estavam na amurada, a costa a deslizar, os peixes-voadores a mostrar as suas habilidades, uma ou outra embarcação de pesca na faina e, pouco depois, o porto do Funchal, com o seu anfiteatro de sonho..Passava-se o dia na Madeira, à noitinha partia-se para Porto Santo, escala breve para deixar veraneantes e alguma carga, e seguia-se para Lisboa,noite, dia, mais uma noite e viva o Tejo, que chegámos à capital..
Mais tarde, veio o "Funchal", coisa bonita e elegante, sofisticado, rápido que nem uma gazela (batia-se em velocidade com os "pipis" da Colonial e da Nacional no percurso Lisboa/Madeira )enquanto durou a turbina, mas muito "bailarino" - no Inverno, com um bocado de mar, era um tormento..
Finalmente, o "Angra", sólido, ainda capaz de 16/17 nós, espaçoso, bom de balanço, já não havia separação de classes, toda a gente se espalhava pelo navio, frequentava os bares e a pista de dança ( como era giro ensaiar uns "passes", agarrado á dama e tendo que contar com o o movimento do navio..) enfim, já sentíamos -nós, açoreanos que não conhecíamos os "Santa Maria", "Vera Cruz", "Infante D.Henrique" e outros - que, com o "Funchal" e o "Angra", tínhamos navios que se podiam mostrar..e que não nos envergonhavam..
Infelizmente, acabou cedo..e obrigaram-nos, aos ilhéus dos Açores, a mudar para os aviões.
Saudações marinheiras
Obrigado, João Coelho por mais esta sua prosa magnífica...
Também me lembro ainda dos gémeos da Zim Lines, fundeados na baía do Funchal no início dos anos sessenta, onde faziam escala às vezes...
E lembro-me muito bem também da chegada dos navios a Lisboa em 1966, após compra. Primeiro o Amélia de Mello, que esteve meses em reparação na doca de Alcântara antes de largar para a primeira viagem a Cabo Verde e Angola, depois o ANGRA, que chegou com o casco branco e a chaminé pintada de amarelo num tom diferente do original da EIN. Acompanhei a reparação deste navio também na doca de Alcântara, que ficou lindíssimo nas cores tradicionais da Insulana.
Gostava muito do ANGRA, mas sou supeito pois é dificil não gostar de um navio.
Ainda acerca do ANGRA, as últimas recordações que tenho dele são ter assistido à retirada de mobiliário -cadeiras, etc..., de bordo para uns camiões, com o navio atracado à Ponta da Rocha uma derradeira vez e ver depois o navio a seguir vagarosamente a reboque para Espanha, num fim de tarde cheio de sol, mas triste pela partida prematura deste Amigo...
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