Sunday, October 05, 2014

Um último olhar para o DISCOVERY

O paquete inglês DISCOVERY despediu-se de Lisboa com duas escalas, a 18 e 30 de Setembro e aqui fica um último olhar fotográfico relativo a este navio que foi construído em 1971 para os cruzeiros de Nova Iorque para as Bermudas, operado inicialmente pela Flagship Cruises com o nome ISLAND VENTURE.
Para muitos, a construção de navios de passageiros novos no início de 1970 era um contra-senso, pois a ideia dominante era que os navios de passageiros tinham os seus dias contados, com excepção de um pequeno número utilizado em cruzeiros. 
Os noruegueses tinham uma perspectiva diferente e diversos armadores investiram em navios de passageiros, tendo sido constituídas diversas novas companhias operadoras, quase sempre para o mercado de cruzeiros dos EUA. 
Uma dessas empresas foi a Flagship Cruises, que teve três navios na década de 1970, o actual DISCOVERY, construído como ISLAND VENTURE, o seu gémeo SEA VENTURE e, depois da venda destes, o KUNGSHOLM, comprado à Swedish American Line em 1975 e vendido poucos anos mais tarde à P&O, que aliás ficou também com os gémeos, com os quais desenvolveu a série televisiva "O Barco do Amor", que teve uma grande importância no crescimento dos cruzeiros na América e depois um pouco por todo o mundo. 



O DISCOVERY ex-ISLAND VENTURE é um navio interessante, reunindo aspectos de design dos anos sessenta, sob grande influência do paquete OCEANIC de 1965. Os gémeos da Flagship Cruises foram construídos com as dimensões limitadas às condições físicas do porto de Hamilton, nas Bermudas, e apresentam um aspecto algo atarracado e casario exageradamente desenvolvido face aos navios da década de 1960, num exercício estético e funcional que passou a ser registo obrigatório nos novos navios destinados a cruzeiros concebidos no final dos anos de 1970 e na década seguinte.
A primeira notícia que tive deste navio foi através de um artigo na revista "Motorship", que por volta de 1970 se vendia na secção de revistas da livraria Bertrand no Chiado, onde era visitante e leitor assíduo, embora a revista fosse cara e não tivesse condições para levar um exemplar para casa, pois então o orçamento era limitado à Revista de Marinha, ao Jornal da Marinha Mercante e a pouco mais, e estes devaneios financiados com a verba do bilhete de autocarro para o liceu, fazendo o percurso a pé.
Claro que devorei o artigo e as fotografias e depois vi outras imagens destes dois navios em Nova Iorque com as cores originais da Flagship Cruises.
Nova Iorque era ainda então o grande porto de navios de passageiros, documentado em fotografias aéreas dos cais cheios de paquetes. Grande foi a decepção, anos mais tarde quando fui a Nova Iorque pela primeira vez e achei que o terminal local quase cabia na Doca de Alcântara, mas isso é outra história.
Já com o nome ISLAND PRINCESS este paquete e o seu irmão passaram a visitar Lisboa na segunda metade da década de 1980, quando a Princess Cruises recebeu o ROYAL PRINCESS (em 1984), o que permitiu pela primeira vez uma presença da companhia na Europa.


















Sem ser uma beleza arrebatadora, o DISCOVERY é um navio interessante, cheio de personalidade, cuja retirada entretanto prevista, motivada por falta de rentabilidade e pela necessidade de uma profunda intervenção técnica ao nível do casco e máquinas, vai deixar saudades, apesar de ter sido um navio relativamente feliz durante estes 45 anos. Tal como a maior parte dos paquetes da sua época, o DISCOVERY mantém um aspecto agradável e esconde a idade, não parecendo ter mais de 20 anos.
Fotografias do DISCOVERY tiradas em Lisboa a 18 de Setembro de 2014 por Luís Miguel Correia.
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